O diagnóstico de Diabetes Mellitus em cães e gatos ainda assusta muitos tutores, mas a boa notícia é que, com o acompanhamento adequado, é possível garantir uma vida longa, estável e feliz aos pets.
Essa condição, semelhante ao Diabetes humano, exige mudanças na rotina e uma atenção especial à alimentação, monitoramento da glicemia e aplicação de insulina — tudo isso feito com carinho, paciência e orientação profissional.
Para entender melhor como essa doença se manifesta e como lidar com ela no dia a dia, conversamos com a Médica Veterinária, Lucianne Brusco Moreira, clínica geral com especialização em Medicina Preventiva.
Nesta entrevista, ela explica as causas mais comuns do Diabetes em cães e gatos, os sinais de alerta que os tutores devem observar, e traz, ainda, dicas práticas para tornar o tratamento mais leve e eficaz, tanto para os pets quanto para suas famílias.
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Pet Med – O que é o diabetes mellitus em cães e gatos? Ele é igual ao diabetes dos humanos? Lucianne Brusco Moreira – Diabetes mellitus é uma doença em que o pâncreas do animal não consegue metabolizar o açúcar (glicose) do sangue, por falta ou falha da insulina — um hormônio que ajuda a glicose a entrar nas células para virar energia. É bem parecido com o diabetes em humanos, e por isso os tratamentos também são parecidos, como o uso de insulina e cuidados com a alimentação.
Pet Med – Quais são as principais causas do diabetes em pets? Ele pode ser evitado? Lucianne Brusco Moreira – As causas mais comuns são: obesidade, idade avançada, predisposição genética (raça), problemas hormonais ou uso de medicamentos como corticoides. Em alguns casos, não dá para evitar, mas manter o pet com peso saudável, alimentação equilibrada e visitas regulares ao veterinário pode ajudar bastante na prevenção.
Pet Med – Como o tutor pode perceber que algo está errado? Quais os sinais clínicos mais comuns?
Lucianne Brusco Moreira – Os principais sinais são o pet começar a beber muita água, urinar mais que o normal, comer muito e, mesmo assim, perder peso e em alguns casos a perda da visão. Se o tutor perceber esses sinais, é importante procurar o veterinário o quanto antes. Costumo dizer que é a doença dos 4 P: Perda de peso, Poliúria, que é o excesso de água, Polidipsia, excesso de urina e Polifagia, excesso de alimentação.
Pet Med – A partir de que idade ou condição um cão ou gato se torna mais propenso ao diabetes?
Lucianne Brusco Moreira – Geralmente o diabetes aparece em pets de meia-idade a idosos, ou seja, a partir dos 6 ou 7 anos. Animais acima do peso, fêmeas não castradas e algumas raças específicas também têm mais risco.
Pet Med – Como é feito o diagnóstico? Exige exames específicos ou monitoramento prolongado?
Lucianne Brusco Moreira – O diagnóstico é feito com exames de sangue e urina e após o diagnóstico da doença é preciso realizar uma curva glicêmica para ajustar a dose das medicações e acompanhamentos regulares.
Pet Med – Uma vez diagnosticado, o diabetes tem cura ou é uma condição crônica para o resto da vida?
Lucianne Brusco Moreira – O diabetes em pets é uma condição crônica, ou seja, dura a vida toda. Mas, com o tratamento certo conseguimos após um tempo reduzir a dose das medicações e o pet pode viver bem e com qualidade por muitos anos.
Pet Med – A rotina do pet muda muito? O que o tutor precisa adaptar no dia a dia após o diagnóstico?
Lucianne Brusco Moreira – Sim, principalmente no início é um pouco mais difícil devido às várias mensurações de glicose durante o dia que iremos precisar para a curva glicêmica, a rotina muda um pouco. O tutor vai precisar aplicar insulina, normalmente duas vezes por dia, manter horários fixos para alimentação e normalmente realizar no máximo de 2 a 3 refeições diárias e monitorar o pet com mais atenção. Mas com o tempo, tudo se encaixa e vira parte do dia a dia.
Pet Med – Como planejar uma dieta segura para cães e gatos diabéticos?
Lucianne Brusco Moreira – A alimentação é essencial no controle do diabetes. O ideal é uma dieta com baixo teor de carboidratos. Hoje em dia já existem alimentações específicas para pets diabéticos. O veterinário ou nutricionista podem montar um plano alimentar específico para cada animal.
Pet Med – A insulina é sempre necessária? Como fazer a aplicação com segurança e sem sofrimento para o animal? Lucianne Brusco Moreira – Na maioria dos casos, sim, a insulina é necessária. A aplicação é feita com uma agulha bem fina ou caneta aplicadora, geralmente é realizada subcutânea na pele do dorso, e muitos pets nem sentem. Com paciência e prática, o tutor aprende e o pet se acostuma.
Pet Med – É possível monitorar a glicemia em casa? Como e com que frequência isso deve ser feito? Lucianne Brusco Moreira – Sim, é possível sim. Hoje em dia existem aparelhinhos chamados Glicosímetros que ajudam a aferir a glicemia em casa, com uma pequena gotinha de sangue ou o monitor contínuo de glicose/sensor de glicose que fica aderido à pele fazendo várias medições durante o dia por até 14 dias. A frequência depende de cada caso, mas normalmente o veterinário indica medir antes das aplicações de insulina e em horários específicos ao longo do dia. O ideal é seguir sempre a orientação do profissional que cuida do seu pet.
Pet Med – Quais complicações são mais comuns em pets diabéticos, como catarata ou cetoacidose, e como evitá-las?
Lucianne Brusco Moreira – As complicações mais comuns são a catarata, que pode afetar a visão, a hipoglicemia por aplicações erradas e a cetoacidose, que são emergências e precisam de atendimento rápido. Para evitar isso, é super importante manter a glicemia bem controlada, dar a insulina certinha, cuidar da alimentação e fazer check-ups regulares com o veterinário. Com cuidados diários, dá para manter seu pet saudável e feliz!
Pet Med – Para finalizar, como acolher e acalmar um tutor que acabou de receber o diagnóstico de Diabetes em seu pet e está assustado com o que vem pela frente? Lucianne Brusco Moreira – Primeiro de tudo: respira fundo, vai dar certo! Nos iremos triar esse caminho juntos. Receber o diagnóstico assusta mesmo, mas com carinho, atenção e acompanhamento veterinário, é totalmente possível dar uma ótima qualidade de vida ao seu pet. Você não está sozinho — conte com a ajuda dos profissionais e não tenha medo de perguntar sempre que precisar. Com o tempo, tudo vira rotina e o amor faz tudo valer a pena!
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Quem convive com gatos já deve ter se perguntado por que, justamente quando a casa silencia, eles parecem despertar com energia total. São saltos noturnos, miados insistentes e corridas pela casa! Todos comportamentos relatados por muitos tutores, mas, quando esse padrão passa do limite, é hora de atenção.
A hiperatividade noturna felina não é apenas uma característica da espécie, ela pode refletir causas comportamentais, emocionais e até clínicas, exigindo um olhar cuidadoso e individualizado por parte dos familiares.
Nesta entrevista, a médica veterinária Julyenne Escrivani, Mestre em Medicina Felina e especialista em Psiquiatria Animal, explica as origens desse comportamento, como ele pode ser influenciado desde a gestação até o ambiente doméstico, e quais as principais estratégias para promover uma rotina mais equilibrada entre descanso humano e bem-estar felino.
Acompanhe a entrevista e compartilhe com amigos e familiares apaixonados por felinos!
Pet Med – Para começarmos, nos diga: é verdade que os gatos têm um relógio biológico diferente do nosso? Se sim, como isso influencia no comportamento noturno deles?
Julyenne Escrivani – Sim, os gatos são essencialmente crepusculares, o que significa que o pico de energia e maior atividade coincide com suas principais presas: início da manhã e início da noite, podendo perdurar até a madrugada, dependendo do gato. Por exemplo, se ele foi gerado por uma gata que tem hábitos mais noturnos – lembrando que 50% da genética é do pai, ele pode ter preferência por hábitos crepusculares-noturnos. A fase de socialização, que vai até o quarto mês de vida no máximo, também influencia no comportamento do gato como um todo, podendo influenciar nesses horários.
Em suma, os gatos podem já vir com preferências por horários devido a sua gestação e sua primeira infância, mas esse comportamento pode ser moldado ao longo da vida com técnicas certas que não punem o gato.
Pet Med – E quanto a rotina dos tutores? Influencia diretamente na qualidade do sono dos gatos?
Julyenne Escrivani – Sim, os gatos estão inseridos no contexto doméstico, e a forma como os tutores levam a vida influencia diretamente nos hábitos dos felinos. Eles são atávicos ao seu ancestral, então, preferencialmente eles possuem picos de energia logo no início da manhã e ao entardecer, o que pode ser incômodo para muitos tutores. O ideal é tentar gastar a energia do gato nesses horários, e aos poucos ir modulando esses comportamentos com técnicas para que, de forma saudável, os horários deles vão se aproximando aos dos humanos sem ser sofrido. Um comportamentalista felino pode auxiliar nesse processo.
Pet Med – Como diferenciar um comportamento felino normal à noite de uma hiperatividade que merece atenção?
Julyenne Escrivani – Normalmente, quando lançamos mão de brincar com o gato, em forma de caça, como se ele estivesse perseguindo o brinquedo nesses horários, fim de tarde / início de noite, por exemplo, eles vão se acostumando a gastar essa energia nesses momentos.
Eu sempre oriento a dar uma quantidade de alimento úmido importante depois, o que permite o gato a se acostumar com essa rotina. Agora, se mesmo assim, mais tarde da noite, ou até mesmo ao entardecer, o gato continuar mostrando agitação, miando muito, andando de lá pra cá em casa, procurando interagir com outros – e os mesmos não apresentando a mesma disposição, buscando atenção do tutor de uma forma atípica, diferente do que o tutor está acostumado, vale a pena ligar o alerta e procurar ajuda de um comportamentalista para avaliar e se ele não for veterinário clínico também, busque um especialista para descartar problemas clínicos associados, que não são incomuns. Na minha rotina eles sempre estão associados.
Pet Med – Quais são os principais fatores ambientais ou emocionais que podem desencadear agitação noturna nos gatos?
Julyenne Escrivani – Disputa de recurso entre gatos: sabemos que os gatos possuem hábitos individuais, e que mesmo em convívio com mais gatos e até outros animais, ele depende de momentos solitários para executar comportamentos específicos a espécie, como por exemplo usar o banheiro, se esconder em um local seguro e até mesmo caçar/comer que para o gato é basicamente a mesma coisa.
Problemas clínicos: algumas doenças como o hipertireoidismo e o hiperaldesteronismo por exemplo, cursam com vocalização noturna. Outros fatores como dor, alterações de temperatura onde moram, mobilidade reduzida entre outros podem influenciar também. Na dúvida, sempre que o gato muda um padrão é interessante consultar um veterinário especialista para ajudar. Como disse anteriormente, não é incomum os problemas clínicos estarem associados a alterações comportamentais – eu atendo isso todos os dias.
Portas fechadas influenciam muito: os gatos são territorialistas, e toda vez que não conseguem acessar um ambiente do seu território, eles entram em alerta, estresse e ansiedade por não conseguir atingir o objetivo, e muitas vezes se sentem frustrados com isso, podendo desenvolver comportamentos associados, como a vocalização. Isso se intensifica porque normalmente quando fechamos alguma porta, atrás dela tem algo ou alguém que faz barulho, movimento e isso chama a atenção do gato porque não pode ter acesso aquele pedacinho do seu território naquele determinado momento.
Ansiedade, frustração e disfunção cognitiva: esses são os problemas emocionais que mais desencadeiam vocalização principalmente à noite, logo após aquele pico de energia que em muitas situações não foi gasto anteriormente. Percebe que cursa com os problemas clínicos? Por isso a clínica e o comportamento andam juntas e sempre é necessário avaliação de ambas para cuidar com sucesso do problema e ajudar o gatinho e sua família.
Pet Med – Filhotes e gatos adultos apresentam esse comportamento por motivos diferentes? Como a idade interfere?
Julyenne Escrivani – Sim, normalmente os filhotes podem fazer isso por sentir falta de companhia da mãe e dos irmãos ou quando chegam em uma casa nova, ou ainda por motivos de introdução estruturada e precisam ficar tempos sozinhos – a falta de interação de forma estruturada (momentos crepusculares) para gastar energia e permitir que eles descansem mais e desde cedo entrem na rotina dos adultos da casa.
Já os mais velhos, podem desenvolver doenças comuns na fase senil, que cursam com vocalização como o hipertireoidismo e hiperaldesteronismo por exemplo, doenças que causem dor e desconforto como a doença articular degenerativa ou doença renal crônica, fora a disfunção cognitiva que afeta a percepção do ambiente.
Pet Med – Então, problemas de saúde ou dor crônica podem se manifestar como inquietação à noite? Quais sinais merecem investigação?
Julyenne Escrivani – Sempre, não só a noite, mas piora à noite por conta da temperatura diminuir e em muitos casos, perceber que estão sozinhos também. Então eu costumo brincar com meus clientes e falo: gato não quebra protocolo, se ele mudou qualquer coisa, mesmo que sútil no comportamento, investigue, pois assim como para nós, todas as mudanças que envolvem o corpo e mente, causa estranheza, e, como gato é estoico, ou seja, tolera dor, desconforto ou sofrimento sem demonstrar sinais evidentes, as primeiras mudanças sutis são no comportamento, como uma boa espécie presa eles não podem demonstrar fraqueza (sinais), então qualquer alteração no padrão não espere para procurar ajuda especializada. Muitas vezes quando o gato demonstra sinais de dor ou qualquer outro problema, a doença em si já está instalada. Eu vivencio isso diariamente.
Pet Med – Quais ajustes de rotina e ambiente podem ajudar a reduzir a hiperatividade noturna de forma natural?
Julyenne Escrivani – Estruturação diária. Entender que os picos de atividades são ao amanhecer e ao anoitecer, tentar coincidir esses horários com a rotina dos humanos e outros animais de casa para brincar/gastar a energia do gato nesses horários em torno de 30-40 min, de preferência sozinhos. Não podemos esquecer que eles caçam e comem de forma solitária, e logo após isso oferecer uma quantidade de alimento úmido (ainda separados) como recompensa positiva. Dessa forma, eles vão se condicionando a gastar energia de forma assertiva nesses horários e são recompensados depois. Em contrapartida, em outros momentos eles poupam a energia para gastar nesses momentos.
Pet Med – Existe espaço para terapias integrativas, como fitoterápicos, homeopatia ou suplementação natural nesse contexto?
Julyenne Escrivani – Sim, inclusive trabalho com todas e o que NUNCA pode ser deixado de lado é que todas essas alternativas são associadas a terapias comportamentais. Ou seja, primeiro eu estruturo a rotina dos gatos, gasto energia deles, recompenso de forma positiva, me certifico de que não tenha conflitos entre os gatos na casa e disputa de recurso por exemplo, para aí sim, lançar mão de terapias que vão auxiliar nesse processo, pois somente utilizar as terapias e não compreender que o gato precisa de todo o resto, não vai resolver. Muito pelo contrário, pode até piorar em alguns sentidos.
Pet Med – Quando é o momento certo de intervir com suporte terapêutico? E quais os riscos de ignorar o problema?
Julyenne Escrivani – Assim que perceber qualquer mudança no comportamento do gato, mesmo que sutil, pois como afirmei anteriormente, os gatos não quebram protocolo, e se algo mudou, é preciso investigar o que fez com que aquele animal monótono lançasse mão de mudar de comportamento para se proteger, possivelmente. Ignorar isso, vai piorar o problema inicial, podendo desencadear problemas clínicos e comportamentais associados e tornar o problema original mais difícil de identificar e resolver.
Pet Med – Para quem busca um equilíbrio entre descanso humano e bem-estar felino, o que seria uma “rotina ideal” para gatos mais tranquilos à noite?
Julyenne Escrivani – Como disse, compreender que eles têm picos de atividade síncronos com suas principais presas. Logo, o melhor horário para gastar a energia deles em forma de caça/brincadeira condiz com esses horários. Depois, oferecer sempre um volume interessante de alimento úmido como recompensa positiva desde filhotes, para que isso já seja associado a rotina do gato desde pequeno.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Julyenne Escrivani – Seria legal comentar que o gato normalmente não vocaliza com outro gato como principal forma de comunicação, eles são silenciosos, então a principal forma de se comunicar entre eles é através do olfato, posturas corporais e visão.
Como eles estão no contexto doméstico, eles aprendem a miar para se comunicar com os humanos, pois para tudo praticamente que eles fazem, nós falamos com eles, respondemos em forma de voz e isso serve de estímulo. Então, se você sempre responder aos miados conversando com os gatos, ou se for à noite e acordar para ver o que o gato quer, falar com ele e até mesmo dar comida, por exemplo, são as principais formas de intensificar esses comportamentos.
Sim existem mais gatos vocais como os Siameses e Sialatas, mas todos aprendem que miando damos mais atenção e lançam mão disso. Tentar não responder sempre, e direcionar a atenção do gato quando ele estiver miando muito para um brinquedo por exemplo, ou um enriquecimento alimentar para que ele seja distraído e “esqueça” de miar naquele momento, isso durante o dia, pois quanto mais ele aprende a miar de dia, ele vai querer repetir isso a noite. Todo comportamento noturno que precisa ser modificado, o início do tratamento é de dia, e depois atuamos no momento da disforia noturna.
Quando falamos em meio ambiente, é comum pensarmos em rios, florestas, resíduos urbanos e emissões industriais. No entanto, um elemento muitas vezes negligenciado nessa equação é a presença descontrolada de cães e gatos abandonados. Esses animais, quando em superpopulação nas cidades e zonas rurais, geram impactos silenciosos, porém significativos, sobre o equilíbrio ambiental, a biodiversidade, a qualidade do solo e da água, além de contribuírem para a propagação de doenças.
Nesta entrevista especial para o mês do Meio Ambiente, a Médica Veterinária, Adriana Lúcia Souza Netto Serpa traz reflexões importantes sobre como o abandono de animais não é apenas uma questão social ou de saúde pública, mas também um desafio ecológico.
Adriana é pós-graduada em clínica médica avançada de pequenos animais e atua na área de Medicina Veterinária do Coletivo, na SUIPA – Sociedade União Internacional Protetora dos Animais, no Rio de Janeiro, e, também, com atendimento domiciliar com foco na medicina preventiva.
É, ainda, membro da Comissão de Médicos Veterinários de ONGs do CRMV-RJ e Diretora secretária Anclivepa-RJ, assim como gestora administrativa de cursos de pós-graduação faculdade Anclivepa RJ.
Durante o bate-papo, a Médica Veterinária ressalta o quanto o aumento de zoonoses à degradação ambiental provocada por dejetos, passando pela predação da fauna silvestre e sobrecarga dos abrigos, o cenário exige um olhar multidisciplinar e ações conjuntas entre tutores, profissionais de saúde, poder público e sociedade civil.
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Pet Med – Quando pensamos em meio ambiente, costumamos lembrar de árvores, rios e lixo urbano, mas, e os animais de estimação, eles também fazem parte dessa conversa?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – Sim, os animais de estimação estão inseridos e impactam diretamente nesse contexto, seja desde a produção industrial de seus alimentos e produtos de cuidados, assim como seus dejetos, principalmente quando falamos de animais errantes.
Pet Med – De que forma a superpopulação de cães e gatos abandonados afeta diretamente o equilíbrio ambiental nas cidades e áreas rurais?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – A superpopulação de animais abandonados afeta diretamente a fauna, flora e a saúde pública. Os animais se tornam competitivos por espaço e comida, seus dejetos poluem o solo e a água, aumentando o risco de doenças na população local.
Pet Med – A presença descontrolada desses animais pode impactar a fauna silvestre local? Se, sim, que tipos de conflitos ecológicos isso pode gerar?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – Sim, um crescimento acelerado de animais abandonados pode impactar diretamente a fauna silvestre, por meio de predação, reduzindo a população de algumas espécies, disputando e diminuindo recursos como alimento, água e espaço com a fauna local, interferindo diretamente no bem estar dos mesmos, além de disseminação de doenças, causando um desequilíbrio ambiental.
Pet Med – Excesso de fezes, urina e carcaças em áreas públicas representam um problema ambiental, como o solo e a água, por exemplo?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – O aumento de matéria orgânica produzida por animais abandonados representam um sério problema ambiental, impactando de forma negativa no solo e na água, aumentando a contaminação por agentes patogênicos, reduzindo a fertilidade e aumentando a degradação de solos, reduzindo a qualidade da água, aumentando o risco de doenças para a população.
Pet Med – Animais abandonados podem transmitir zoonoses. Como esse risco se conecta à saúde ambiental e coletiva?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – A saúde ambiental e coletiva está diretamente interligada e a presença de animais abandonados representa um risco para ambas, seja por transmissão de zoonoses como a Raiva, Leptospirose e Leishmaniose, seja por desequilíbrio em todo ecossistema.
Pet Med – Abrigos lotados e precários tem algum impacto ecológico, como produção de resíduos ou uso excessivo de recursos?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – O principal impacto de abrigos superlotados e precários está relacionado à saúde pública e ambiental, afetando também a saúde e bem estar dos próprios animais abrigados. É importante uma gestão adequada para o descarte correto dos resíduos produzidos, minimizando os riscos, além de uma infra estrutura que evite o uso excessivo de recursos.
Pet Med – O descarte inadequado de ração, remédios veterinários e resíduos desses animais também pode prejudicar o meio ambiente?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – Sim, podem provocar sérios danos ambientais além de riscos à saúde humana e de outros animais, principalmente os contactantes. O descarte de alimentos, medicamentos e dejetos devem seguir rigorosamente a legislação vigente para esse fim.
Pet Med – Qual o papel da castração e do controle populacional responsável como ferramenta de preservação ambiental?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – A conscientização da população sobre a importância da castração evita o crescimento populacional desordenado, diminuindo o número de animais abandonados e contribuindo, dessa forma, para proteger e garantir o equilíbrio do meio ambiente e consequentemente a saúde pública.
Pet Med – Campanhas de adoção, guarda responsável e educação ambiental podem ajudar a reduzir esse impacto? Se sim,de que maneira?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – Sim, campanhas de adoção para guarda responsável e educação ambiental são ótimas ferramentas para reduzir esses impactos ambientais. Abrigos superlotados não são a solução, a intenção de um abrigo é somente um período de passagem, um lar temporário e não pode ser visto como um santuário, onde os animais entram e não saem mais.
Pet Med – Por fim, qual é a sua opinião sobre o olhar para o abandono de cães e gatos como um problema apenas social ou de saúde pública, e não ambiental?
Adriana Lúcia Souza Netto Serpa – O abandono de animais é um problema de grande complexidade , que envolve além da questão social e de saúde pública, também a questão ambiental. Um animal abandonado impacta diretamente o ambiente em que vive, seja por predação, contaminação de solo, água, transmissão de zoonoses e perda de biodiversidade causando grande desequilíbrio ecológico.
O Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, nos convida a refletir sobre os efeitos nocivos do tabagismo para a saúde — não apenas para quem fuma, mas também para quem convive no mesmo ambiente, entre eles, os animais de estimação.
Especialmente, os cães e os gatos são expostos à fumaça do cigarro de forma passiva, constante e silenciosa e por isso, para eles, que têm o olfato e os pulmões muito mais sensíveis do que os humanos, o cigarro representa um risco maior e perigoso à saúde.
Por isso, nesta entrevista, conversamos com exclusividade com a Médica Veterinária Rosiane da Silva, especializada em Clínica Médica de cães e gatos.
Entre outras orientações, a Dra.Rosiane nos conta como a fumaça do cigarro impacta a saúde respiratória, imunológica e até comportamental dos pets, além de discutir doenças associadas ao tabagismo passivo, como bronquite crônica, alergias, infecções recorrentes e até câncer.
A Médica Veterinária também alertou sobre os sinais que merecem atenção, as formas de proteger os animais e o papel essencial da conscientização nesse cuidado. Afinal, escolher parar de fumar pode ser um gesto de amor e proteção — não só com você, mas com quem compartilha sua vida, seu sofá, e até a sua cama!
Boa leitura!
Pet Med –Quais são os principais riscos que o cigarro representa para a saúde de cães e gatos?
Rosiane da Silva – Os principais riscos estão relacionados à exposição a uma infinidade de substâncias tóxicas presentes na fumaça. Para cães e gatos, isso se traduz em irritação das vias aéreas, danos aos pulmões, risco aumentado de problemas respiratórios e, a longo prazo, o desenvolvimento de doenças crônicas e até câncer, ou seja, a exposição constante compromete a saúde geral e a qualidade de vida.
Pet Med –De que forma a fumaça do cigarro chega até os pets e por que ela é tão prejudicial, mesmo sem contato direto?
Rosiane da Silva – De forma passiva: É a fumaça que o fumante exala ou que sai diretamente da ponta do cigarro aceso. Ela se espalha pelo ambiente e é inalada pelos animais.
De forma residual: Essa é a mais insidiosa e muitas vezes subestimada. São as partículas tóxicas que se depositam em superfícies, como pelos, móveis, tapetes e cortinas, mesmo depois que o cigarro foi apagado. Os pets entram em contato com essas partículas ao deitar, brincar ou, principalmente, ao se lamberem durante a higiene. É prejudicial mesmo sem contato direto porque as toxinas são liberadas no ar e se depositam em todo o ambiente, tornando-se uma fonte constante de contaminação para o animal, que respira o mesmo ar e se expõe às superfícies contaminadas.
Pet Med –Quais doenças podem ser causadas ou agravadas pela exposição à fumaça do cigarro nos animais?
Rosiane da Silva – As doenças mais comuns incluem:
Doenças respiratórias crônicas: bronquite, asma – especialmente em gatos, e inflamação das vias aéreas.
Infecções respiratórias recorrentes: pneumonia, infecções bacterianas e virais devido ao enfraquecimento das defesas locais.
Problemas dermatológicos e oculares como irritação nos olhos e na pele.
Doenças cardiovasculares, pois, em alguns casos, há um risco maior de problemas cardíacos.
Câncer, principalmente de pulmão e nasal em cães, sobretudo nos cães de focinho longo, e linfoma em gatos.
Pet Med –Existe diferença no impacto do tabagismo passivo entre cães e gatos?
Rosiane da Silva – Sim, podemos dizer que os gatos geralmente são mais afetados, especialmente da forma residual. Gatos são muito mais meticulosos em sua higiene, e ao se lamberem para se limpar, eles ingerem as partículas tóxicas da fumaça que se depositaram em seus pelos. Isso os torna mais suscetíveis a desenvolver linfoma, que é um tipo de câncer de células brancas do sangue e câncer de boca, além de problemas respiratórios como a asma felina.
Os cães também sofrem com problemas respiratórios e oculares devido à inalação da fumaça. Curiosamente, cães dolicocefálicos, como Collies e Dachshunds, parecem ter maior risco de desenvolver câncer nasal, enquanto cães com focinho curto, os braquicefálicos, tendem a ter mais problemas pulmonares e brônquicos. A forma como o ar é filtrado e onde as partículas se depositam varia conforme a anatomia do focinho.
Pet Med –A exposição à fumaça pode afetar o sistema imunológico dos animais ou aumentar sua vulnerabilidade a infecções?
Rosiane da Silva – Sim, a exposição à fumaça pode, sim, afetar o sistema imunológico dos animais. As toxinas presentes na fumaça irritam e danificam as células que revestem as vias respiratórias, que são a primeira linha de defesa contra microrganismos. Isso compromete a capacidade do corpo de remover partículas e combater infecções. Além disso, a inflamação crônica gerada pela fumaça pode sobrecarregar o sistema imune, tornando o animal mais vulnerável a infecções bacterianas, virais e fúngicas, e dificultando a recuperação de doenças.
Pet Med –Quais são os sinais clínicos que podem indicar que um cão ou gato pode estar sofrendo com os efeitos da fumaça do cigarro?
Rosiane da Silva – Os sinais são variados e, inicialmente, podem ser confundidos com outras condições respiratórias. Alguns dos mais comuns incluem:
Tosse crônica ou frequente, especialmente uma tosse “seca” ou irritativa.
Espirros persistentes.
Dificuldade para respirar como ofegar, respiração acelerada ou com esforço.
Secreção nasal ou ocular, olhos irritados ou avermelhados.
Pelo sem brilho, com odor persistente de cigarro.
Letargia, diminuição da energia ou disposição para brincar.
Perda de apetite ou emagrecimento, em casos mais avançados e chiado no peito, especialmente em gatos com asma.
Pet Med – Raças braquicefálicas, filhotes e animais com doenças crônicas respiratórias correm mais risco?
Rosiane da Silva – Com certeza. Raças braquicefálicas, de focinho curto, como Pugs, Buldogues, Shih Tzus e Gatos Persas, etc., já têm uma anatomia respiratória naturalmente comprometida. Suas narinas são mais estreitas, o palato mole é alongado e as vias aéreas são mais apertadas. A fumaça do cigarro agrava ainda mais essa condição pré-existente, causando maior inflamação e dificuldade respiratória, podendo levar a crises mais severas.
Já os filhotes têm o sistema respiratório e imunológico ainda em desenvolvimento, logo, a exposição precoce a toxinas pode causar danos permanentes aos pulmões e ao sistema imunológico, tornando-os mais suscetíveis a infecções e problemas crônicos ao longo da vida.
Os animais com doenças crônicas respiratórias, ou seja, aqueles que já sofrem de asma, bronquite crônica ou outras condições respiratórias, têm seus sintomas intensificados pela fumaça. A irritação agrava a inflamação existente e pode desencadear crises severas, necessitando de intervenção veterinária.
Pet Med – Além da inalação, a nicotina ou os resíduos tóxicos do cigarro podem ser absorvidos pela pele, pelos ou lambedura?
Rosiane da Silva – Sim, e essa é uma via de exposição muito importante, especialmente a da lambedura. A forma residual deposita partículas tóxicas em todas as superfícies, incluindo os pelos dos animais. Quando os pets se lambem para se limpar, eles acabam ingerindo essas substâncias nocivas. A nicotina e outros resíduos são então absorvidos pelo trato gastrointestinal. Em menor grau, a absorção pela pele também pode ocorrer se houver contato prolongado ou em grandes quantidades, mas a via oral (lambedura) é a mais relevante.
Pet Med –E, quanto ao real risco de câncer em pets associado ao ambiente com fumaça de cigarro?
Rosiane da Silva – Sim, o risco de câncer em pets associado ao ambiente com fumaça de cigarro é real e comprovado. As substâncias químicas presentes na fumaça do tabaco são carcinogênicas, ou seja, capazes de causar mutações nas células que podem levar ao desenvolvimento de tumores.
Em cães há um risco aumentado de câncer nasal (especialmente em raças dolicocefálicos, onde as partículas se depositam e irritam a mucosa nasal) e câncer de pulmão.
Nos gatos, há uma forte associação entre a exposição à fumaça e o desenvolvimento de linfoma – um câncer do sistema linfático, e câncer de boca. Isso se deve à ingestão das toxinas ao se lamberem, que irritam as mucosas do aparelho digestório.
A exposição crônica a esses agentes carcinogênicos leva à formação de tumores ao longo do tempo.
Pet Med –Fumar em outro cômodo ou perto de uma janela elimina o risco para os animais?
Rosiane da Silva – Não, não elimina o risco. Embora possa reduzir a concentração imediata de fumaça inalada, não é uma solução eficaz. A fumaça não respeita paredes ou janelas abertas. As partículas tóxicas se espalham pelo ar e conseguem entrar em outros cômodos. Mesmo com a janela aberta, parte da fumaça é sugada de volta para dentro ou se deposita nas superfícies do ambiente.
O resíduo tóxico nas superfícies ainda será um problema, pois as toxinas se depositam em todos os lugares, independentemente de onde o cigarro foi aceso. O único ambiente realmente seguro é aquele onde não há fumaça de cigarro em nenhum momento.
Pet Med –Que medidas práticas os familiares fumantes podem adotar para proteger seu pet da fumaça do cigarro?
Rosiane da Silva – A medida mais eficaz é parar de fumar completamente. No entanto, se isso não for possível imediatamente, algumas ações podem ajudar a minimizar a exposição, mas nunca a eliminar a exposição do pet à fumaça do cigarro, como por exemplo:
Fumar exclusivamente ao ar livre, longe dos animais e da residência: Essa é a única forma de evitar a exposição direta à fumaça.
Trocar de roupa e lavar as mãos após fumar e antes de interagir com o pet. Isso reduz a transferência de resíduos.
Não fumar dentro do carro com o pet presente.
Limpar frequentemente e rigorosamente o ambiente, incluindo as cortinas, os tapetes, as mantas, e limpar superfícies com frequência para remover as partículas tóxicas depositadas.
Evitar cinzeiros expostos. Os cinzeiros devem sempre estar limpos e fora do alcance dos animais, pois a ingestão de bitucas e cinzas é altamente tóxica.
Pet Med –Para finalizar, nos de um resumo, de como, de modo geral, a fumaça do cigarro impacta a qualidade de vida e a saúde dos cães e gatos.
Rosiane da Silva – De modo geral, a fumaça do cigarro impacta a qualidade de vida e a saúde dos cães e gatos de forma extremamente negativa. Ela os submete a um estresse crônico no sistema respiratório e imunológico, tornando-os mais propensos a doenças, infecções e, em casos mais graves, ao desenvolvimento de cânceres. Os pets acabam tendo menos energia e disposição, ficam doentes ou com dificuldade respiratória, não brincam, não se exercitam e não interagem como deveriam. A inflamação e as doenças respiratórias podem causar tosse constante, falta de ar, desconforto e dor. Animais expostos cronicamente à fumaça tendem a viver menos e com menor qualidade de vida. Em resumo, a exposição à fumaça transforma o lar em um ambiente de risco contínuo para a saúde do pet, comprometendo seu bem-estar físico e emocional.
Neste aspecto, gostaria de reforçar, ainda, a ideia de que a responsabilidade pela saúde do pet recai inteiramente sobre seus tutores. Muitas vezes, a relação entre o tabagismo do tutor e a saúde do animal não é imediatamente óbvia para as pessoas, e os sintomas podem ser atribuídos a outras causas. É fundamental que os veterinários eduquem os familiares sobre os riscos do tabagismo passivo, pois a conscientização é a primeira e mais importante ferramenta de prevenção.
Outro ponto importante é que não há um nível “seguro” de exposição à fumaça de cigarro. Mesmo a exposição ocasional ou em pequenas quantidades pode ter efeitos cumulativos e prejudiciais. Os animais, por viverem no mesmo ambiente que seus tutores e terem sistemas respiratórios mais sensíveis, são verdadeiras “sentinelas” da qualidade do ar doméstico. O que é prejudicial para nós, muitas vezes é ainda mais prejudicial para eles.
Por fim, é crucial lembrar que o bem-estar animal vai além da alimentação e do acesso a cuidados veterinários básicos, ele engloba um ambiente seguro e saudável. Proteger os pets da fumaça do cigarro é um ato de amor e responsabilidade que impacta diretamente na sua qualidade de vida e longevidade. Incentivar a cessação do tabagismo entre tutores de animais não é apenas uma questão de saúde humana, mas de saúde pública animal.
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O glaucoma é uma das doenças oculares mais silenciosas e perigosas que acometem, também, a visão dos cães e gatos, podendo levá-los à cegueira irreversível se não forem identificados e tratados a tempo.
Embora seja mais comum em algumas raças e idades, o glaucoma pode surgir de forma súbita ou secundária a outras condições, como uveítes ou luxação de cristalino. Por isso, na entrevista de hoje, vamos entender como os familiares podem, no dia a dia, reconhecer os sinais clínicos precoces. A Médica Veterinária, Natércia Ribeiro Silva, especializada em Oftalmologia e fundadora da Majstra Formulações Veterinárias, nos explica, também quais exames são essenciais para o diagnóstico e as opções de tratamento disponíveis — desde colírios até intervenções cirúrgicas, sempre com foco na preservação da visão e da qualidade de vida dos animais.
Acompanhe a entrevista e compartilhe com seus amigos e familiares!
Boa leitura.
Pet Med – O que exatamente é o glaucoma e por que ele representa um risco tão grande à visão dos cães e gatos?
Natércia Ribeiro Silva – O glaucoma é aumento da pressão intraocular devido a não drenagem do humor aquoso – líquido que preenche a parte anterior do olho. Esse aumento vai levando a perda da visão gradativa irreversivelmente, pois ocorre perda das células da retina e degeneração do nervo óptico devido a pressão sobre esses tecidos. É uma das principais causas de cegueira em cães.
Pet Med – Quais são os principais tipos de glaucoma que acometem cães e gatos, e como eles se desenvolvem?
Natércia Ribeiro Silva – Classificamos o glaucoma em três formas: .
1 – O glaucoma pode ser primário ou secundário, de acordo com a sua causa;
2 – Agudo ou crônico com base na sua evolução;
3 – Com ângulo aberto ou fechado de acordo com a aparência do ângulo de drenagem.
Então, podemos ter:
Glaucoma primário com aumento da PIO não associado a outras doenças. Tem caráter hereditário, geralmente bilateral.
Glaucoma primário de ângulo aberto, devido às alterações metabólicas das células trabeculares.
Glaucoma primário de ângulo fechado, com alterações mecânicas no ângulo de drenagem.
Glaucoma secundário, associado a uma doença ocular prévia que obstrui o cais de drenagem do humor aquoso, geralmente unilateral, podendo ser bilateral.
Pet Med – Quais sinais clínicos devem acender o alerta de que um animal pode estar desenvolvendo glaucoma?
Natércia Ribeiro Silva – Quando a parte branca do olho fica vermelha, o piscar intenso, olho com aspecto azulado, pupila dilatada, perda da visão, e, em casos crônicos, aumento do globo ocular.
Pet Med – Os sintomas do glaucoma são sempre visíveis ou pode haver evolução silenciosa da doença?
Natércia Ribeiro Silva – É uma doença silenciosa, mas conforme vai agravando os sinais vão se manifestando.
Pet Med – Existe alguma predisposição racial ou genética conhecida em cães e gatos?
Natércia Ribeiro Silva – Sim, as raças caninas predispostas ao glaucoma primário são:
As fêmeas têm maiores chances de desenvolver devido apresentarem o ângulo iridocorneano menor.
Pet Med – Como é feito o diagnóstico do glaucoma na prática veterinária e quais exames são indispensáveis?
Natércia Ribeiro Silva – O diagnóstico é feito com equipamento específico que mede a pressão intraocular do olho. Esse equipamento se chama Tonômetro, podendo ser de aplanação ou de rebote.
Pet Med – Qual é o papel da tonometria e com que frequência ela deve ser realizada em animais de risco?
Natércia Ribeiro Silva – A tonometria faz parte da rotina da avaliação oftálmica. Em animais predispostos ou em tratamento controlado, o ideal é ser avaliado a cada seis meses.
Pet Med – Uma vez diagnosticado, o glaucoma tem cura ou o objetivo do tratamento é apenas controle?
Natércia Ribeiro Silva – O glaucoma é uma doença crônica, que não tem cura. O objetivo é tentar retardar a progressão para a perda da visão e aliviar a dor e desconforto do aumento da pressão e possíveis complicações devido aumento do globo ocular como ceratites e úlceras de córnea.
Pet Med – Quais são as opções de tratamento clínico disponíveis atualmente e como elas atuam?
Natércia Ribeiro Silva – O tratamento do glaucoma vai variar de acordo com o estágio da doença, etiologia e presença ou ausência da visão. Começamos com tratamento clínico com colírios antiglaucomatoso para controlar a pressão intraocular, associado a medicação injetável em casos de glaucoma agudo. Podendo associar medicamentos orais neuroprotetores, os nutracêuticos.
O objetivo seria diminuir a produção do humor aquoso e aumentar a drenagem do mesmo para resultar na diminuição da pressão intraocular. Os principais ativos utilizados são: Dorzolamida, timolol, latanoprosta, manitol, bimatoprosta e brinzolamida.
Pet Med – Em que situações o tratamento cirúrgico é indicado e quais são as técnicas mais utilizadas?
Natércia Ribeiro Silva – Olhos não responsivos ao tratamento clínico podemos direcionar para o tratamento com implantes de drenagem, criocirurgia, cito fotocoagulação, gonioimplates, iridencleise, trabeculectomia, ablação química intravítrea ou enucleação.
Pet Med – Quais são os maiores desafios no manejo do glaucoma em gatos, considerando seu comportamento mais reservado?
Natércia Ribeiro Silva – A aplicação dos colírios e a quantidade de vezes necessárias ao longo do dia podem ser fatores de estresse para os felinos. Assim como utilizar colar protetor em alguns casos. Felinos com hábitos de vida fora da sua casa podem ter mais chances de machucar olhos buftálmicos, ou seja, que tenham olhos com tamanho maiores.
Pet Med – Qual é a importância do acompanhamento contínuo e os riscos da perda de visão em cães e gatos com glaucoma?
Natércia Ribeiro Silva – Animais com glaucoma precisam ter acompanhamento frequente até o controle da pressão, depois acompanhamento pelo menos a cada dois a três meses até a PIO manter estável. Após esse período o ideal é acompanhar a cada seis meses. Não conseguimos prever o tempo para a perda de visão, apenas ir acompanhado a evolução com os exames clínicos. Sabemos que haverá essa perda, mas não conseguimos precisar o período, vai depender de cada organismo e sua reação ao tratamento, mas, animais sem tratamento evoluem muito rápido para perda da visão.
Pet Med – Qual é a importância de suportes, como por exemplo o Calm Pet, da Pet Med, para proporcionar uma melhor qualidade de vida emocional aos pacientes que estão perdendo a visão, dando-lhes mais segurança e conforto?
Natércia Ribeiro Silva – Se o pet for muito agitado e que impeça a aplicação dos colírios, o que implique em aumentar a pressão do olho por ficar pulando muito por exemplo, pode ser válido. Segurança e conforto serão mais em relação ao manejo, como exemplo não mudar móveis de lugar, isolar áreas de risco como escadas e piscina, andar com a coleira mais curta junto ao corpo, ver um pet para ser o cão guia desse animal que futuramente perderá a visão. Para perdas agudas da visão, o Calm Pet pode ajudar também, assim como a dedicação do tutor, que é outro fator muito importante para o sucesso do tratamento. Não é um tratamento fácil, nem barato, então, é importante o tutor conversar com o seu veterinário sobre a melhor estratégia de tratamento que vá garantir o melhor para o pet e seus familiares.
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Assim como nós, humanos, os animais também sentem dor, com a diferença de que, para identificar a dor em cães e gatos, o desafio é um pouco maior, uma vez que esses animais muitas vezes escondem seu desconforto instintivamente. Portanto, é fundamental que os familiares estejam atentos aos sinais sutis que podem indicar que eles estão sofrendo, e neste contexto, a observação cuidadosa e a compreensão do comportamento habitual de cada animal são essenciais para identificar a dor precocemente.
Para este assunto que envolve várias nuances, conversamos com exclusividade com o Médico Veterinário Álvaro José Chávez Silva, que dedica seu tempo e mantém sua rotina de estudos focada na dor crônica dos animais.
Álvaro é Doutor em Anestesiologia com ênfase em dor crônica pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC-BA; Mestre em clínica e cirurgia com ênfase em anestesiologia pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM-RS, e segue seus estudos com as especializações em andamento em Comportamento Animal pelo Instituto de Saúde e Psicologia Animal – INSPA e em Fisioterapia animal pelo Instituto Brasileiro de Recursos Avançados – IBRA.
Acompanhe a entrevista que está super completa e aproveite para compartilhar com seus amigos e familiares.
Pet Med – O que caracteriza a dor crônica em cães e gatos, e como ela se diferencia da dor aguda?
Álvaro José Chávez Silva – Se pensarmos na dor, desde o ponto de vista da evolução ou da sua importância biológica, ela tem um propósito, uma função: a de preservar a vida, nos alertando sobre uma lesão existente, a fim de protegermos esta parte do corpo que se encontra lesionada e vulnerável, evitando assim, maiores lesões, enquanto o corpo faz a sua função de retornar a lesão à normalidade, devolvendo não só o aspecto de saudável, mas a sua funcionalidade. Assim, quando há uma ferida, por exemplo, na pele, esta área do corpo encontra-se sensível e dolorosa. Uma vez cicatrizada, o normal seria que a dor fosse embora junto com a lesão. No entanto, quando a lesão dura muito tempo em cicatrizar, quando a presença da dor persiste além do tempo de cura ou cicatrização da ferida, quando há evidência de lesão estrutural significativa de nervos, ou até quando não há uma evidência de lesão, mas existe presença de dor, muito provavelmente, encontramo-nos diante de uma condição dolorosa crônica.
Desta forma, a dor crônica caracteriza-se por estar presente por longo tempo, por não ter uma função biológica de proteção da lesão, como é o caso da dor aguda, por envolver alterações mais profundas do sistema nervoso que perpetuam e acentuam a percepção da dor, mesmo na ausência de dano tecidual real. Além, disso, caracteriza-se por ter uma resposta limitada aos tratamentos convencionais, como aos anti-inflamatórios, assim como por contribuir com o estado mental dos animais, alterando a qualidade do sono, gerando ansiedade, agressividade, isolamento, depressão, perda de peso, angústia, estresse crônico, etc.
Dito de outra forma, a dor aguda serve como sinal de existência de dano tecidual real, gerando comportamentos de alerta e de proteção para preservação da vida, bem como da recuperação do animal, ao passo que a dor crônica persiste para além do tempo normal de cicatrização, muitas vezes perde sua função protetora inicial e pode se tornar uma condição patológica em si mesma, levando a sofrimento, disfunção e redução da qualidade de vida do animal.
Pet Med – Como a dor crônica se manifesta em cães e gatos, e por que muitas vezes passa despercebida?
Álvaro José Chávez Silva – Nós humanos temos, quase sempre, a capacidade de expressarmos nossos sentimentos e pensamentos de forma oral, ao sentirmos fome, sede, sono, cansaço e até mesmo dor. Já os animais, por carecerem de capacidade de autorrelato, não conseguem nos dizer como se sentem, onde e quanto doi. Logo, cabe a nós, familiares, pais e mães de pets, veterinários, terapeutas, treinadores etc., identificar, localizar, quantificar, tratar, avaliar e reavaliar a presença de dor nos animais, de acordo com as nossas atribuições e capacidades.
A dor crônica, além do mais, é uma experiência individual, influenciada por diversos fatores internos e externos, por tanto, cada indivíduo pode vivenciá-la de formas diferentes dada suas circunstâncias de vida, experiências passadas, traumáticas, estado de saúde geral, fatores genéticos, alimentícios etc…, tendo assim, múltiplas formas da dor crônica aparecer e manifestar-se. No entanto, podemos dizer de forma geral, que a dor crônica pode-se observar por meio de mudanças físicas e do comportamento que impactam aspectos da vida dos nossos pets de formas insuspeitadas, como alteração do estado mental e de humor, padrões de descanso e sono, de alimentação, hidratação, eliminação, atividade física, socialização, conduzindo a ansiedade, depressão e estresse, sendo este último, um fator contribuinte relevante para o aparecimento de outras condições clínicas, que poderiam ser interpretadas como independentes da dor crônica.
Desta forma, não apenas a ampla diversidade e sutileza de possíveis manifestações de dor crônica nos nossos pets, mas a normalização ou associação de alguns destes sinais ao envelhecimento natural deles, tornam a identificação e tratamento pertinente da dor crônica muito desafiadora. Também, assumir que tais comportamentos são apenas normais e naturais naqueles pets com personalidades mais distantes, solitários, retraídos, tímidos e esquivos, faz com que tais sinais sejam passados por alto e não levados em consideração. É importante salientar que, é esperado que alguns cães e gatos tenham uma tendência por ocultar comportamentos associados à dor, por serem descendentes evolutivos de animais ferais que, na natureza, eram predadores, mas também presas. Diante disso, torna-se importante tentar desenvolver um olhar sensível e atento com os nossos pets, para assim buscar ajuda ou assistência de profissionais com preparo técnico adequado.
Pet Med – Quais sinais clínicos e comportamentais mais sutis podem indicar que um animal está com dor crônica?
A observação e o conhecimento atento, próximo e sensível aos nossos pets nos permite identificar ou ao menos suspeitar de que algo não está de acordo com o normal neles. Ao levar nossos pets ao veterinário, e quando conversarmos com ele/a, estaremos oferecendo informação valiosa que pode não ser percebida durante a consulta, mas que faz grande diferença na identificação de dor crônica. Os sinais clínicos que podem ser observados e aos que podemos estar atentos são: perda de peso corporal a expensas da massa muscular, perda do brilho e a densidade da pelagem, perda de áreas específicas de pelagem por lambido excessivo, claudicação, mudanças sutis no jeito em que caminham, dificuldade ou relutância em subir ou descer escadas, camas e sofás, postura arqueada o encurvada, relutância a esticar-se completamente, deitar-se exclusivamente de um lado, para aliviar a região dolorida, dificuldade em levantar-se ou deitar-se, diminuição ou perda do apetite.
Já os sinais comportamentais plausíveis de serem observados são alterações do comportamento normal ou conhecido dos nossos pets, bem como aumento ou diminuição excessivo de comportamentos normais, isto é, diminuição do investimento em atividades cotidianas que antigamente geravam muita alegria, isolamento, busca reduzida da companhia de humanos ou outros animais, busca incrementada de atenção por parte dos tutores, expressões faciais de angústia, reação de evitação ou agressão ao toque, vocalizações, embora menos frequente que nos casos de dor aguda, tremores espontâneos na pele, diminuição dos hábitos de higiene, especialmente em gatos, eliminação de xixi e cocô em lugares errados ou fora da caixa, constipação por evitar adotar a postura de defecação ou por dificuldade de acessar o lugar certo para fazer as deposições.
Estes sinais, podem facilmente serem associados a outras causas, que não condições dolorosas crônicas.
Pet Med – Como é feita a avaliação da dor crônica em pets? Existem escalas ou protocolos específicos para isso?
Álvaro José Chávez Silva – Ao percebermos que a dor crônica não é apenas um sinal da presença de uma lesão, como no caso da dor aguda, e sim uma doença em si mesma, com diferentes formas de manifestar-se, causada por muitas condições de diferentes naturezas, como traumas, câncer, quimioterapia, diabetes etc., é importante uma anamnese e um exame físico detalhado.
Mas, não somente fazer uma avaliação do que pode ser visto diretamente no momento da consulta clínica ou até mesmo pelos exames complementares, como os de sangue, ultrassom, raios-X etc…, mas, sim, uma avaliação inicial detalhada da vida do pet, para além da consulta. Ter informações sobre se ele faz atividades físicas diárias, alimentação, condições pré-existentes, padrões de sono, mudanças de comportamento social, desempenho cognitivo, mudanças na sua treinabilidade etc…
Seguidamente, é realizada a avaliação física, observando a marcha espontânea, quando possível, além da avaliação de todos os sistemas orgânicos, cardiorrespiratório, digestivo, nervoso, osteomuscular, com especial ênfase na mobilidade dos membros e articulações e a sensibilidade dolorosa.
A indicação de exames complementares é, por vezes, uma importante ferramenta na comprovação da presença de condições dolorosas crônicas. No entanto, além da disponibilidade e os custos econômicos de alguns destes, os exames complementares podem ir até um determinado ponto como ferramenta diagnóstica, e a ausência de sinais claros de dor com tais exames, não são necessariamente uma comprovação da ausência de dor nos nossos animais. Todavia, a identificação da dor crônica pode ser subjetiva e estar sujeita à interpretação do veterinário devido à incapacidade de comunicação verbal dos pets, a variações individuais na expressão da dor, à influência do ambiente, à interpretação humana e à natureza multifacetada da dor crônica, que além de componentes físicos, envolve componentes emocionais e comportamentais.
Felizmente, já existem ferramentas que auxiliam na redução da margem de erro na identificação de dor crônica, como escalas que atribuem um peso numérico a diferentes fatores físicos, emocionais e comportamentais, como Escala Facial Felina (FGS), especificamente para gatos, avalia expressões faciais sutis associadas à dor aguda e crônica; Escala de Dor Musculoesquelética da Universidade da Carolina do Norte (NCSU-CSM), focada na dor musculoesquelética em cães; Teste de Osteoartrite da Universidade de Montreal (MOAT), especificamente para avaliar a dor da osteoartrite em cães e a Escala de Dor da Universidade de Melbourne (UMPS), uma escala mais abrangente que avalia vários parâmetros comportamentais. Ao utilizar estas ferramentas e abordagens de forma combinada, é possível reduzir significativamente a subjetividade e aumentar a precisão na interpretação da dor crônica em cães e gatos, permitindo um manejo mais eficaz e uma melhor qualidade de vida para os animais afetados.
Pet Med – Por que os gatos têm maior tendência a esconder a dor, e como isso impacta o diagnóstico? E como demonstram estar sentindo dores?
Álvaro José Chávez Silva – Gatos são magníficos pets, com uma natureza comportamental muitas vezes incompreendida, por serem vistos como pequenos cães, porém mais solitários e independentes – um erro frequente, sustentado pela visão histórica a eles atribuída. É importante reconhecer as diferenças entre cães e gatos, uma vez que, para além de serem extremamente lindos, são animais com ancestrais evolutivos muito diferentes. Isto dita muito dos seus comportamentos, incluindo a forma em que expressam a dor, muito relacionada aos seus instintos de sobrevivência.
Na vida silvestre, os ancestrais evolutivos dos gatos eram predadores, mas também presa e ao serem animais menos sociáveis e não terem uma vida em matilha, as demonstrações de vulnerabilidade ou fraqueza podiam significar uma ameaça à vida, sendo assim necessário adotar posturas mais estoicas diante de lesões ou dor. Esse instinto de autopreservação é profundamente enraizado no repertório comportamental do gato doméstico. Somado a isto, sinais de dor podem passar despercebidos pela menor oportunidade de observação de comportamentos dos gatos, pois momentos de maior atividade acontecem durante períodos noturnos, em que os tutores dormem. Também, os gatos têm uma média de 12 a 16 horas de sono por dia, tendo ainda menor chance de expressarem comportamentos associados à dor de forma a serem vistos pelos tutores.
Os sinais de dor em gatos podem ser muito mais sutis e mais difíceis de serem identificados em comparação com os cães, que muitas vezes vocalizam (choram, gemem, latem) ou mancam de forma mais evidente quando estão com dor aguda. Os gatos tendem a expressar dor através de mudanças comportamentais mais discretas, com tendências a tornarem-se mais reclusos, esconder-se, terem menor interação social, menor engajamento em brincadeiras, menos saltos, maior tempo de sono, diminuição da higiene, a autolimpeza ou lambedura excessiva numa área específica, associada ou não ao local de dor, diminuição ou perda de apetite, desenvolvimento de seletividade alimentar. Podem também adotar posturas curvadas, andar rígido. Um dos principais meios de observar desconforto e dor em gatos, é por meio da avaliação da expressão facial, onde orelhas ligeiramente rodadas e olhos semifechados podem ser observados, assim como, testa franzida, focinho e vibrissas tensas e apertadas, cabeça baixa à altura das costas. É frequente deparar-se com gatos que desenvolvem sensibilidade aumentada ao toque e alterações nos hábitos de eliminação, recusando-se a usar a caixa de areia ou a área escolhida para tal finalidade.
Pet Med – E nos cães? Como eles demonstram ou escondem os sinais de dor?
Álvaro José Chávez Silva – Já nos cães, sinais de demonstração de dor são mais perceptíveis, pela sua natureza corporal e facial mais expressiva, podendo ser evidenciados por comportamentos de vocalização como ganidos, choros, uivos, alterações posturais como claudicação ou rigidez na marcha, deitar-se ou sentar-se apenas usando um lado para aliviar a pressão e dor na região acometida, colocar a cabeça baixa, diminuição ou perda de apetite e hidratação, letargia ou aumento do número de horas de sono, desenvolvimento de reações protetivas, evitativas ou até agressivas ao toque na área dolorosa, redução do entusiasmo por atividades físicas como brincadeiras, passeios ou outras atividades pelas que antes mostrava interesse e dificuldade em deitar-se ou levantar-se. Alguns cães podem lamber excessivamente a região dolorosa, levando à perda da pelagem naquela região, e mudanças no humor, tornando-se mais ansiosos, sensíveis aos sons, irritadiços e deprimidos. Apesar de serem naturalmente mais expressivos que os gatos, certos cães, podem ainda, por instinto, procurar ocultar sinais de fraqueza ou vulnerabilidade. Este comportamento pode ser mais evidente em cães de temperamento reservado ou em situações de estresse. Isto, indubitavelmente leva à supressão dos sinais de dor. Outros cães podem mascarar a dor, empregando outros grupos musculares como compensação e forma de adaptação, mantendo assim uma aparência funcional, que dissimula os sinais de dor aos tutores. Ainda, há cães que, por tentar agradar aos tutores, fazem esforços por manter as atividades em que são engajados, mesmo com dor, suprimindo sinais de desconforto nas sessões de interação. Ainda, não é estranho que sinais sutis de dor sejam confundidos com o processo natural do envelhecimento ou interpretados como atitudes “preguiçosas” pelos tutores, assim pequenas alterações na rotina diária ou interação social podem passar despercebidas.
Pet Med – Qual a importância de abordar a dor crônica precocemente, mesmo em casos leves ou sem sinais aparentes?
Álvaro José Chávez Silva – Ainda sobre as diferenças entre a dor aguda e crônica, uma vez que a dor aguda cumpriu a sua função de manter protegida a área acometida, para evitar lesões adicionais, esta some gradativamente, até o retorno da sensibilidade à normalidade, ao passo que a dor crônica persiste para além da resolução da lesão dos tecidos, tornando-se cada vez mais “inteligente”. A dor crônica vale-se da capacidade do sistema nervoso de alterar sua estrutura e função em resposta à experiência persistente da dor, por meio de um fenômeno conhecido como neuroplasticidade. Assim, o sistema nervoso passa por uma série de mudanças mal adaptativas que contribuem para a manutenção e intensificação da dor, mesmo após a lesão inicial ter cicatrizado.
Quanto mais tempo passa, maiores e mais complexas mudanças acontecem no sistema nervoso, tanto periférica quanto centralmente, afetando não apenas o componente sensorial – a sensação física de desconforto, mas também estruturas nervosas associadas ao humor, memória, processamento das emoções, levando os nossos pets a experienciar estados emocionais negativos, em detrimento da sua qualidade de vida. Consequentemente, quanto mais tempo passa a dor sem ser tratada e mais mudanças estruturais acontecem no sistema nervoso, maior será o desafio de encontrar estratégias terapêuticas eficientes que contribuam à redução da dor nos nossos pets.
Pet Med – Que tipos de doenças estão mais associadas à dor crônica em cães e gatos, especialmente em animais mais velhos?
Álvaro José Chávez Silva – A dor crônica pode ser classificada, segundo sua origem, em três tipos, nociceptiva – aquela que resulta da ativação de receptores de dor devido a um estímulo nocivo ou a uma lesão tecidual real ou potencial; neuropática – aquela que acontece devido a uma lesão ou disfunção de nervos periféricos, medula espinhal e cérebro e a nociplástica – aquela que acontece apesar de não haver evidência clara de dano tecidual real ou ameaça de lesão. Assim, a dor crônica pode estar presente em animais que sofreram lesões traumáticas por pancadas, atropelamentos, fraturas, amputações, calor ou frio extremo, queimaduras químicas, interrupções do fluxo sanguíneo, bem como diante da presença de tumores, tratamento de quimioterapia, diabetes mellitus, que podem afetar animais de todas as idades.
No entanto, animais idosos encontram-se particularmente suscetíveis à dor crônica, em decorrência da presença de doenças da coluna vertebral, como doença do disco intervertebral e espondilose, luxações do quadril e do cotovelo, osteoartrite, síndrome da cauda equina, afecções orais crônicas, dor oncológica e por tratamento com quimioterápicos, neuropatias e estados de estresse persistente. Por tanto, a avalição da presença e nível de dor em animais idosos, precisam ser feitos, além do controle da causa ou condição primária, uma vez que esta pode ser negligenciada ou subestimada, em prejuízo da saúde e bem-estar de animais idosos.
Pet Med – De que forma a dor pode modificar o comportamento, a mobilidade ou até o humor do animal?
Álvaro José Chávez Silva – Humanos e animais não humanos, particularmente cães e gatos, compartilhamos de algumas estruturas nervosas associadas ao processamento da dor, o que, apoiado pela ciência, nos permite extrapolar alguns componentes da experiência dolorosa. Se lembrarmos ou imaginarmos o desconforto sentido pela presença constante e insidiosa de uma dor que nos acompanha há muito tempo, não seria difícil empatizar com a dor dos animais, e traríamos a nossa mente como esses estados persistentes de dor podem alterar nossa capacidade de lidar com atividades cotidianas como, sentar-se, levantar-se, deitar-se, comer, caminhar, ler, trabalhar, ou até mesmo ver luz e escutar sons.
Pessoas com dor crônica relatam uma perda do prazer de viver, de interagir socialmente, ir à rua ou sustentar uma conversa com pessoas amadas. Se considerarmos que a dor crônica tem a capacidade de alterar a estrutura e funcionamento de neurônios periféricos, da medula espinhal, mas também do cérebro, poderíamos dimensionar o impacto que a dor pode ter em regiões do cérebro associadas à regulação das emoções, modulação e percepção da dor, devido à hiperexcitabilidade e sensibilização, modificando a forma como os animais percebem e respondem ao seu ambiente. Essas alterações podem resultar numa percepção da dor aumentada, numa modulação da dor deficiente e num maior componente emocional associada à dor, como ansiedade, medo, depressão. O desempenho de atividades físicas pode ainda estar limitada, não apenas pela presença da dor em si mesma, mas pela diminuição da motivação em fazer atividades físicas, como consequência de estados emocionais negativos, o que contribui a um ciclo vicioso de inatividade, persistência da dor e apatia ou depressão.
O aparecimento de comportamentos indesejáveis não é uma rareza em animais que experimentam dor. Condutas destrutivas, como mecanismo de compensação da dor, eliminação inadequada, agressividade, apatia, isolamento, ansiedade, entre outras, são alguns exemplos de consequências da presença de dor crônica não tratada em cães e gatos.
Pet Med – Quais são os recursos atuais mais eficazes para o controle da dor crônica em pequenos animais?
Álvaro José Chávez Silva – Para podermos oferecer uma melhora significativa na experiência de dor e na qualidade de vida aos nossos pets, precisamos fazer uso de todas as alternativas ou modalidades terapêuticas possíveis e ao nosso alcance, desde que baseadas em evidência, com respaldo científico e prescritas por profissionais da área. Embora o uso de terapia farmacológica seja muitas vezes a primeira opção que nos vêm à mente, quando se trata de dor, algumas abordagens devem ser evitadas. A monoterapia, que se vale do uso de um único tratamento, está cada vez mais em desuso, pelas limitações que esta comporta. Por exemplo, perda do efeito terapêutico, necessidade de incremento da dose administrada para atingir o efeito desejado e aparecimento de efeitos adversos. Assim, o uso de terapias multimodais passa a ser mais adequado para o controle da dor crônica em cães e gatos, desde que prescritos e avaliados por médico veterinário qualificado.
Juntamente à abordagem farmacológica, devem ser incorporadas medidas que permitam a modificação e enriquecimento do ambiente, que promovam a redução do estresse e que permitam auxiliar aos pets na manutenção da funcionalidade e autonomia de movimentação, para uma melhora da qualidade de vida. Evidências corroboram com os inúmeros efeitos benéficos de manter a atividade física, de acordo com as capacidades e limitações dos animais, de uma alimentação adequada e balanceada e da relevância do sono qualidade em indivíduos com condições dolorosas crônicas.
Terapias complementares e alternativas (TCA) como cinesioterapia, terapias térmicas, laserterapia, eletroterapia, hidroterapia, magnetoterapia, oxigenioterapia hiperbárica, ozonoterapia, acupuntura, moxabustão, massoterapia e osteopatia, entre outras, são algumas das opções não-farmacológicas que podem contribuir na redução da dor nos nossos pets. Adicionalmente, dietas terapêuticas e suplementos anti-inflamatórios, antioxidantes, condroprotetores, desde que prescritos por um médico veterinário qualificado, assim como controle do peso, crucial para promover estados corporais adequados e evitar sobrecargas articulares, também podem ser estratégias terapêuticas que contribuem de forma relevante na melhora da qualidade de vida de animais em condições de dor crônica.
Pet Med – O que é analgesia multimodal e em que casos ela é recomendada?
Álvaro José Chávez Silva – Quando nos referimos à analgesia multimodal, fazemos referência ao uso de mais de uma estratégia terapêutica. A complexidade da natureza da dor crônica, que age por diferentes mecanismos moleculares, em diversas estruturas do sistema nervoso, torna muitas vezes, infrutífero ou limitado o alcance a partir do uso de terapias únicas, por exemplo, um único tipo de analgésico ou anti-inflamatório. A terapia multimodal visa atacar a dor em diferentes pontos do sistema nervoso e influenciar os vários fatores que contribuem para a experiência dolorosa. Os principais objetivos de terapia multimodal são permitir um melhor controle da dor, fazer uso de doses reduzidas de cada medicamento utilizado, potenciando efeitos benéficos sinérgicos ou aditivos e reduzindo o risco de efeitos adversos ou colaterais decorrentes do uso de doses mais altas de um único medicamento. Também, consideramos terapia multimodal a incorporação de terapias farmacológicas junto a terapias não-farmacológicas, como as mencionadas anteriormente.
Pet Med – Além de medicamentos, que medidas ambientais e de manejo podem ajudar animais com dor crônica?
Álvaro José Chávez Silva – Além das terapias medicamentosas, como analgésicos, anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, antidepressivos etc., existem medidas ambientais e de manejo que possibilitam uma melhora na qualidade de vida de pets com dor crônica. Tais medidas dependerão do tipo específico de dor crônica, o tempo que o animal convive com a dor, as limitações que a dor tem-lhe causado em termos de mobilidade e autonomia, e da identificação dos gatilhos da dor.
Oferecer camas confortáveis ou ortopédicas que aliviem a pressão sobre áreas dolorosas; superfícies seguras e antiderrapantes para evitar escorregões ou quedas; rampas ou escadas adequadas para facilitar o acesso a locais elevados como sofás, camas, carros, para reduzir o estresse nas articulações; bandejas sanitárias de fácil acesso para os gatos com laterais baixas para facilitar a entrada e saída da caixa, especialmente para gatos com problemas articulares; tigelas de comida e água elevadas ou acessíveis para animais com dores no pescoço o coluna, para reduzir a necessidade de se curvarem, diminuindo o desconforto; zonas de descanso seguras e tranquilas onde possam descansar sem ser perturbados, permitindo um sono reparador, essencial para o bem-estar e para lidar com a dor; manter a temperatura adequada dos locais que o animal frequenta, evitando temperaturas de extremo frio ou calor que possam agravar a dor em alguns animais, ou oferecendo cobertores aquecidos o mantas térmicas, sempre com supervisão; evitar estímulos aversivos como sons altos, abruptos, movimentos bruscos, ou outros estímulos estressantes que possam gerar ansiedade no animal.
Visitas regulares ao médico veterinário são de extrema importância para poder fazer avaliações do estado geral do pet, com ênfase na resposta aos tratamentos realizados, podendo, às vezes, ser necessários ajustes nas modalidades e doses terapêuticas, controle do peso, indicações de sessões de fisioterapia ou reabilitação.
Vale ressaltar a grande importância da interação e o vínculo do tutor com o seu pet, que devem ser sempre gentis prodigando amor e afeto, respeitando as limitações do animal. Os familiares devem ser pacientes para reduzir o nível de ansiedade do animal, gerando um ambiente acolhedor e seguro, onde possam se sentir à vontade. Não devemos subestimar o efeito reparador do amor como forma de suporte essencial para o bem-estar e a resiliência e como um componente fundamental do manejo humanizado da dor em cães e gatos.
Pet Med – Como o ambiente, a rotina e os cuidados diários podem influenciar positivamente na dor de longo prazo?
Álvaro José Chávez Silva – O ambiente, a rotina e os cuidados diários têm um impacto significativo no manejo da dor de longo prazo em animais, influenciando tanto a experiência individual da dor quanto o bem-estar geral dos nossos pets. Quando otimizados, podem reduzir a intensidade do desconforto e o sofrimento emocional, aumentar o prazer pela realização de atividades lúdicas ou rotineiras e a interação social, tanto recebendo como oferecendo afeto aos membros da família.
O cuidado atento dos fatores ambientais, a rotina e os cuidados diários podem melhorar significativamente a qualidade de vida e até mesmo diminuir a necessidade de altas doses de medicamentos, particularmente relevantes em animais idosos.
Em resumo, um ambiente enriquecido e adaptado, uma rotina previsível e consistente, e cuidados diários atenciosos e personalizados são pilares fundamentais no manejo da dor de longo prazo em animais. Essas medidas não apenas complementam os tratamentos médicos, mas também promovem o bem-estar físico e emocional, contribuindo significativamente para uma melhor qualidade de vida, ao passo que fortalecem o vínculo afetivo entre o animal e o tutor. Embora o fortalecimento do laço afetivo entre tutores e animais seja visto de forma positiva, por vezes, este mesmo vínculo e a empatia pelo sofrimento do animal pode ser uma fonte de sofrimento para o tutor, pela observação e entendimento do estado do seu pet. Desta forma, níveis reduzidos de dor e sofrimento, e estados emocionais positivos, podem também ser fonte importante de tranquilidade para os tutores de animais que convivem com condições dolorosas crônicas.
Pet Med – É comum a dor crônica ser confundida com envelhecimento ou mudanças de temperamento?
Álvaro José Chávez Silva – Sim, é muitocomum a dor crônica e o envelhecimento ou mudança de comportamento serem confundidas entre si, devido ao aparecimento sutil e gradual dos sinais de dor, à incapacidade de autorrelato dos animais e às características da dor crônica, descritas como sensação de queimação, formigamento, choque elétrico, agulhadas, pontadas, peso ou pressão, rigidez, difusa ou mal localizada, câimbras ou espasmos musculares, entre outras, podemos imaginar que os animais possam, por um lado, mascar alguns comportamentos de forma consciente ou inconscientemente, pela diminuição da qualidade, quantidade e amplitude da mobilidade ou, por outro lado, apresentar comportamentos inusuais, indesejáveis, destrutivos, auto destrutivos, agressivos ou ansiosos como mecanismos de compensação ou expressão da dor. Estas manifestações podem variar significativamente entre indivíduo, dependendo da causa subjacente e da personalidade e temperamento do animal, chegando em alguns casos a ser limitante ou incapacitante.
Desta forma, animais idosos com menos energia, mobilidade reduzida, maiores tempos de descanso ou sono e alterações no humor e problemas de comportamento, podem ser mal interpretados como apenas velhos, o que seria esperado diante do processo normal de envelhecimento, quando na verdade, podemos estar diante de possíveis sobreposições de sinais de dor e envelhecimento. Independente da cronologia do aparecimento ou da causalidade, a dor deve ser tratada de acordo com as circunstâncias do animal.
A incompreensão e mal interpretação destes comportamentos ou sinais de dor, pode ser fonte de frustração do proprietário levando a negligenciar a dor e o sofrimento do animal, podendo gerar ruptura do vínculo afetivo, maus tratos, abandono e no pior dos casos à eutanásia, embora pouco frequente no Brasil. Por tanto, é imprescindível fazer uma correta diferenciação de forma atenta e holística, considerando múltiplos fatores.
A dor crônica pode estar melhor representada pela redução específica de atividades como subir e descer escadas, saltar, brincar, passear, enfim, atividades que antes eram prazerosas, mudanças na marcha com rigidez após o descanso que melhora com o movimento leve, claudicação intermitente ou constante ou passos mais curtos, posturas anormais, curvadas, cabeça baixa e transferência de peso, irritabilidade ao ser tocado em certas áreas, evitar carícias ou manipulação, dificuldade em encontrar uma posição confortável, sono interrompido; lambedura excessiva, focada em uma área específica do corpo; gemidos ou choros ocasionais ao se mover. Por sua vez, o envelhecimento, pode se apresentar como uma diminuição geral da energia e da velocidade, com lentidão mais generalizada, sem evitar atividades específicas devido à dor. Pode haver alguma rigidez matinal, que geralmente melhora rapidamente com o movimento, menor interesse em atividades de alta intensidade, mas ainda participa de atividades mais leves. Outro fator a considerar na diferenciação entre dor crônica e envelhecimento é baseado na função física. Na dor crônica, haverão limitações específicas na amplitude de movimento, dificuldade em realizar movimentos que exigem flexão ou extensão de certas articulações, enquanto que no envelhecimento pode haver diminuição geral da flexibilidade e da força, mas sem dor óbvia associada ao movimento. A resposta a analgésicos (teste terapêutico), pode ser uma ferramenta valiosa na diferenciação entre dor crônica e envelhecimento, uma vez que uma melhora significativa no nível de atividade, humor e mobilidade após a administração de analgésicos devidamente prescritos pelo veterinário sugere fortemente a presença de dor e diante de envelhecimento ou mudanças de temperamento, geralmente, não há melhora significativa com analgésicos.
Pet Med – Que mensagem você deixaria para tutores que acreditam que “ficar mais quieto” é apenas sinal de envelhecimento, e não de dor?
Álvaro José Chávez Silva – Eu gosto de pensar que realizar atividade física é uma forma de envelhecer com dignidade, não para evitar ficar velho. Ficar mais quieto não deveria ser uma atitude ou um comportamento normalizado associado ao envelhecimento nem em nós humanos, nem nos nossos pets. Ainda que velhos, humanos e animais, e porque não juntos, deveríamos evitar “ficar mais quietos”. Se ao tentarmos induzir a atividade física em nossos pets, percebermos que há desconforto, relutância ou ausência do desfrute da atividade, atenção! Talvez seja hora de procurar o médico veterinário, para avaliar a presença de dor crônica. Infelizmente, não há uma cura única e exclusiva ou um tratamento milagroso para a dor crônica. Ao invés de cura, tratamos de buscar maneiras de oferecer aos nossos pets uma melhora significativa da sua qualidade de vida, de forma que possam viver com dignidade e sejam capazes de receber ou oferecer amor, tendo o prazer de experienciar a vida com mais tempos de alegria que de angústia.
Pet Med – Para os cães com diagnóstico de dor crônica, de que modo o uso de suportes como os protetores de membros e o colete Calm Pet da Pet Med, podem ajudar a proporcionar a eles uma melhor qualidade de vida e longevidade?
Álvaro José Chávez Silva – Ao se tratar destas questões relevantes sobre o manejo da dor crônica, é importante salientar a necessidade do uso de abordagens terapêuticas embasadas em evidências científicas sólidas e na individualização do tratamento para cada paciente.
Em relação ao uso de suportes como os protetores de membros da Pet Med para animais com dor crônica, é importante considerar que estes produtos podem desempenhar um papel coadjuvante no manejo da dor, especialmente em casos específicos. Em situações onde a dor crônica está associada a problemas articulares, calos de apoio ou higromas, os protetores podem oferecer proteção mecânica e suporte adicional. Ao reduzir o atrito, a pressão e o impacto sobre as áreas afetadas, eles podem auxiliar na manutenção da mobilidade e reduzir a dor induzida pelo contato.No entanto, é crucial ressaltar que a eficácia destes suportes dependerá da etiologia específica da dor crônica, da localização e da extensão das lesões, e devem ser integrados a um plano de manejo mais amplo, que pode incluir farmacoterapia, fisioterapia e outras abordagens.
No que concerne ao Calm Pet e seu papel em animais com alterações de comportamento devido à dor crônica, é fundamental entender que a dor persistente pode gerar ansiedade, irritabilidade e alterações no padrão de sono, impactando significativamente o bem-estar emocional do animal. Coletes de compressão como o Calm Pet, baseados no princípio da pressão profunda, podem teoricamente promover uma sensação de segurança e calma em alguns animais, através da estimulação do sistema nervoso parassimpático. Contudo, assim como os suportes de membros, a sua eficácia provavelmente variará significativamente entre indivíduos, dependendo da causa subjacente da dor, da intensidade do desconforto e da natureza específica das alterações comportamentais. É essencial considerar os produtos como uma ferramenta complementar dentro de uma estratégia de manejo comportamental mais abrangente, que pode envolver a identificação e o tratamento da causa primária da dor, modificação ambiental, técnicas de dessensibilização e, em alguns casos, intervenções farmacológicas específicas para o comportamento.
Em ambos os cenários, a avaliação clínica individualizada e a compreensão da etiologiae da apresentação específica da dor crônica em cada paciente são pilares fundamentais para determinar a aplicabilidade e o potencial benefício destes produtos. A decisão de incorporar suportes de membros ou o Calm Pet no plano de tratamento deve ser baseada em avaliações clínicas criteriosas e na observação da resposta individual de cada animal, sempre considerando a sua integração com outras modalidades terapêuticas comprovadamente eficazes no manejo da dor crônica.
Pet Med – Por fim, quais são suas considerações finais para os nossos leitores?
Álvaro José Chávez Silva – A abordagem terapêutica da dor deve ser humana e realista. Fazer uso dos conhecimentos mais recentes, consistentes e baseados em evidência científica é importante para encontrar aquelas terapias que melhor se adaptam ao contexto do animal e à realidade do tutor. Oferecer soluções esdrúxulas, excessivamente otimistas com promessas de cura, não são apenas irreais, mas também injustas e antiéticas com os tutores, e correm risco de negligenciar outras terapias que poderiam oferecer melhor resultado no tratamento. Finalmente, o tratamento da dor deve ser multimodal, holístico e sensível. Entender e tratar a dor em animais é um alto sinal de evolução humana, indica amor e compaixão pelos mais vulneráveis, aqueles que nos têm sido confiados e sem interesse egoísta nos oferecem o seu amor.