Inúmeros estudos já comprovam os benefícios do convívio com os animais para a saúde e qualidade de vida das pessoas. No entanto, e o caminho inverso? Quais serão os benefícios do convívio com as crianças, por exemplo, para os cães e os gatos?
Para conversar conosco sobre essa questão, convidamos a Médica Veterinária, Cláudia Peterson, que também é psicóloga, ambientalista e etóloga, formada pela Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.
A obra é um relato pessoal sobre respeito e empatia na convivência entre humanos e animais – tema a qual se dedica ao longo da sua trajetória.
Mais uma entrevista imperdível, acompanhe!
Pet Med –Para começarmos, há quanto tempo os cães e gatos passaram a ser vistos como companheiros das pessoas e não mais somente para fazer a guarda da casa ou para caçar os ratos? Mas, para os animais, este convívio com os humanos é benéfico?
Cláudia Peterson – Há cerca de 30mil anos homens e lobos descobriram uma relação de auxílio mútuo, onde lobos menos ferozes e ariscos se aproximaram de caçadores a fim de obterem restos de suas caçadas. Estes, por sua vez, perceberam a utilidade e importância desses animais para proteção de seus grupos sociais, destravando assim a barreira entre as espécies. Essa tese está embasada em várias pesquisas e em achados arqueológicos facilmente encontrados na mídia.
Com o passar dos tempos, esses caçadores humanos nômades à época, tornaram-se agricultores e pastores, fincando raízes na terra em que viviam.
Efetuada a transição por parte dos humanos, estes começaram a selecionar animais menos agressivos e com maior capacidade de interação com os humanos para o auxílio no trabalho. Desde então, os canídeos foram, paulatinamente, sendo introduzidos e selecionados para as várias necessidades humanas.
Atualmente, temos cerca de 400 raças de cães, a maioria delas resultado de cruzamentos efetuados por humanos buscando preencher necessidades específicas de um segmento.
Quanto ao gato, sua “domesticação” seguiu-se a do lobo. Ocorreu cerca de 3 a 5 mil anos depois, quando os homens deixando de ser nômades, criaram núcleos familiares sedentários.
Ao se tornarem agricultores, começaram a acumular grãos e cereais, fato que trouxe consigo roedores. Consequência natural que felinos se aproximassem também. Assim ocorreu e os gatos passaram, gradativamente, a exercer a função de caça aos ratos para os humanos e alimentação para si próprios.
Este convívio com animais pode trazer inúmeros benefícios tanto às crianças como aos adultos e idosos, desde companhia para brincadeiras infantis, acalento para momentos difíceis, até reflexões sobre frustrações e a morte.
No entanto, deve-se pesquisar sobre as raças, verificar compatibilidades entre estilos e prováveis personalidades. Caso contrário, correrá o risco de ter um “destruidor de almofadas” enquanto assiste TV ou “puxar um tijolo” ao tentar andar de bicicleta com seu cão.
Entrando na seara da pergunta, acredito que comportamentos adquiridos permaneçam até que alguma grande revolução interna ou externa ocorra a fim de modificá-los.
De acordo com a raça, porte ou comportamento do cão tendo como contraponto a percepção quanto à espécime e antropocentrismo vigentes por parte do humano que o possua, esses animais não humanos vêm sendo utilizados como de “hábito”, alguns para guarda, outros para trabalhos variados como pastoreio e outros ainda como “chaveirinhos” ou “petinhos”, conforme explicado abaixo.
Pessoalmente, gostaria que – conforme melhor colocado em meu livro – aos animais fosse fornecido o direito natural de ser e existir como são, de poderem ser educados, contudo, demonstrar sua personalidade, conviverem com os de sua espécie e, principalmente, serem tratados e atuarem de acordo com sua essência animal.
No entanto, bem poucos humanos possuem essa percepção e, ao invés disso, a mídia vigente por motivos variados, utiliza a emoção, os sentimentos dos seres humanos contra eles próprios, tratando de acentuar e referendar comportamentos como os de transformar seres sencientes, com vida própria em “chaveirinhos”, “petinhos” ou “monstros- feras”, frutos da desinformação humana ou pior, de informações equivocadas quanto às suas reais necessidades físicas e psicológicas.
Pet Med –E no caminho inverso: quando o convívio com os humanos passa a ser nocivo para os cães e gatos?
Cláudia Peterson – o convívio torna-se nocivo, caso a compreensão a respeito do modo como se tratar a espécie animal não humana em questão não seja devidamente conhecida e considerada.
Ao se humanizar, tratar com desrespeito, ou seja, esquecer necessidades básicas da espécie, ou crueldade a qualquer um deles.
Quanto aos gatos, uma visão mais tranquila e positiva, após a caça às bruxas.
Como diz o ditado, esses são os mais domésticos entre os selvagens e os mais selvagens entre os domésticos. Sendo assim, mantém suas características fundamentais quanto à sobrevivência e personalidade apesar das diferenças e modismos temporais.
Por isso, levando em consideração o Dia Mundial dos Animais e o Dia das Crianças, em ambas as datas há de se pensar muito antes de presentear uma criança com um animal. Não se deve pensar apenas na diversão do hoje para a criança, mas que estará levando para casa um ser vivente, senciente, passível de ser acometido por doenças de ordem física e emocionais, além de problemas psicológicos graves acarretados pela convivência com os humanos. Sim. Isso ocorre!
Pet Med – Qual é o papel da família para que essa relação – cães e gatos e crianças seja amigável e saudável para todas as espécies envolvidas?
Cláudia Peterson – Depende. Se desejarem vários cães e gatos é fundamental que tenham orientações e informações prévias sobre raças e personalidades compatíveis, caso contrário será um grande perigo.
No mais, informação! Informar-se o melhor possível sobre o cão, a raça, a espécie, o ser vivo que está pensando em levar para sua casa, para conviver na família por, no mínimo 8 a 10 anos. A inclusão de um animal na família não deve ser uma decisão ao acaso como quem troca de roupa ou escolhe onde passará as férias – inclusive por que terá outro “ser” na casa. Pense, por exemplo, que um papagaio vive cerca de 80 anos!
Pet Med –E quanto aos cuidados no dia a dia, quais devem ser colocados em prática no dia a dia para que cães, gatos e as crianças da casa vivam em harmonia?
Cláudia Peterson – Para o dia a dia cuidados básicos podem ser indicados pelo Médico Veterinário que, evidentemente, deverá ser procurado assim que o animal for para casa. Mas, cães precisam de exercícios, disciplina, enriquecimento ambiental, alimentação controlada e amor – eu não disse mimo.
Os gatos precisam fundamentalmente de exercícios, alimentação livre, água de preferência em movimento, enriquecimento ambiental, locais altos para poder “supervisionar” os ambientes e amor.
Para ambas as espécies, recomendo que possuam coleira permanente de identificação, escovação três vezes por semana e o menor número de banhos possível!
Pet Med –Crianças e animais geralmente têm bastante energia. Quais seriam as recomendações ou sugestões para que juntos possam gastar energia e criar elos e vínculos de amizade?
Cláudia Peterson – Crianças e animais, caso possuam personalidades compatíveis não necessitam de ajuda para interagirem. Certamente se entenderão e criarão elos indestrutíveis! Mas, para um melhor entrosamento, vínculo entre ambos e amadurecimento emocional da criança, é recomendável dar à criança a responsabilidade de cuidar da alimentação, escovação, passeio ou qualquer outra atividade diária ligada ao animal.
Pet Med –Que frutos colhem as crianças que convivem e crescem com os animais e os animais que passam a vida em companhia das crianças?
Cláudia Peterson – De maneira geral todos saem ganhando um amigo!
Crianças que crescem acompanhadas por animais, “no mínimo”, terão no futuro, mais compaixão pelo próximo e, consequentemente, pelos animais.
“No máximo”, não há limites para o quanto se pode aprender com os animais não humanos “teleguiados”, sem livre arbítrio, e, portanto perfeitos em sua natureza.
Por sua vez, os animais nos enxergam como verdadeiros deuses, não medindo esforços para nos agradar e salvaguardar dos perigos – sejam eles quais forem, e o que pedem em troca? Nada! Nada além do necessário para sua e a nossa evolução: exercício, disciplina, alimentação adequada e AMOR!
Pet Med – Quais são suas orientações finais sobre a relação dos animais com as pessoas de modo geral?
Cláudia Peterson – Animais não humanos habitavam este planeta antes da nossa chegada. Foi dito que o nosso dever, por sermos mais inteligentes, seria o de cuidarmos deles.
Cuidar! E, cuidar não é o mesmo que escravizar ou matar. Cuidar implica em amar, alimentar, proteger e auxiliar em sua sobrevivência e evolução.
O mês de outubro é lembrado pela Campanha Outubro Rosa, que visa informar e chamar atenção para os cuidados preventivos contra o câncer de mama nas mulheres. Na Medicina Veterinária, não é diferente, gatas e cadelas também podem sofrer com essa doença.
Para falar sobre este assunto, convidamos a Médica Veterinária, Aline Machado De Zoppa, coordenadora clínica do Complexo Médico Veterinário da Anhembi Morumbi e membro da Associação Brasileira dos Hospitais Veterinários – ABHV.
Durante a entrevista, Aline, que há 30 anos atua na clínica cirúrgica e oncológica, nos explica como é possível prevenir e tratar o câncer de mama na Medicina Veterinária.
Informações importantes, acompanhe!
Pet Med – Para começar, o que podemos entender pela Campanha Outubro Rosa voltada para os pets?
Aline Machado De Zoppa – Outubro Rosa é uma campanha de orientação e conscientização da importância da prevenção do câncer de mama em cadelas e gatas, com a mesma semelhança do que acontece com as mulheres.
Pet Med –O que leva as cadelas e as gatas a desenvolverem câncer de mama?
Aline Machado De Zoppa – O câncer de mama tem um caráter genético, mas existem tumores estimulados pelos hormônios sexuais como estrogênio e progesterona. Desta forma, é importante saber como o câncer se inicia para que possamos diagnosticar precocemente e tratar o mais breve possível.
Pet Med –No dia a dia, quais são os sinais que os familiares devem ficar atentos, ou seja, como saber se as fêmeas podem ter desenvolvido câncer de mama?
Aline Machado De Zoppa – O indicado é que os tutores aprendam a palpar as mamas, assim como as mulheres fazem em si próprias. Desta forma irão perceber nódulos diminutos, que com apoio do Médico Veterinário serão direcionados ao melhor tratamento.
Pet Med –Quais devem ser os primeiros passos dos familiares ao observarem a possibilidade de as cadelas e as gatas estarem desenvolvendo câncer de mama?
Aline Machado De Zoppa – Em casos de qualquer alteração na mama, nódulo avermelhado, aumento de temperatura, mudança de cor ou feridinha, deve-se buscar a avaliação do Médico Veterinário da família.
Pet Med –Quais são os meios de diagnosticar o câncer de mama nos animais?
Aline Machado De Zoppa – O método inicial é a palpação das mamas e identificação da lesão. Em alguns casos, a citologia é um exame indicado para saber qual o tipo de tumor. Exames de sangue, radiografias e ultrassom são realizados para certificar-se de que o tumor está localizado apenas na mama.
Pet Med –A partir da confirmação do diagnóstico, quais são os possíveis tratamentos do câncer de mama oferecidos atualmente pela Medicina Veterinária?
Aline Machado De Zoppa – Uma vez positivo para câncer de mama, vamos estadiar o paciente, ou seja, fazer exames para rastrear o tumor e confirmar que está restrito às mamas. Uma vez rastreado, a cirurgia sempre será a melhor escolha em formações localizadas e únicas. No entanto, há diferentes formas de realizar a remoção do tumor, sempre dependendo de características do paciente. Após a remoção, há pacientes que precisam complementar a terapia cirúrgica com quimioterapia. Vale ressaltar que a castração é realizada na maioria dos pacientes pensando sempre naqueles que possuem um tumor hormônio dependente.
Pet Med –Em que casos o tratamento deve ser cirúrgico e em quais deve seguir para a quimioterapia, por exemplo?
Aline Machado De Zoppa – A cirurgia é o tratamento de eleição, pois removemos as formações, e geralmente removemos também os linfonodos, que são estruturas que drenam a região do tumor e vai nos ajudar como prognóstico do mesmo. Quando o linfonodo está livre de células neoplásicas temos uma terapia menos agressiva do que se estiver comprometido. Aqui o comprometimento significa para nós, que o tumor não está mais localizado na mama, mas, que está espalhado no organismo e por isso precisamos de outra terapia auxiliar, no caso a quimioterapia seria a terapia auxiliar.
Pet Med –Para as fêmeas que passam por quimioterapia, por favor, nos explique como é realizado este tratamento e como é a recuperação do animal.
Aline Machado De Zoppa – A quimioterapia usualmente é realizada de forma injetável. A paciente fica no soro, com a medicação fornecida na veia. De acordo com o protocolo que vai depender do tipo de tumor de cada paciente, podemos fazer sessões a cada 21 ou a cada 28 dias. Há medicações para tomar em casa com pouco efeitos adversos. Nos animais a queda de pelo acontece de forma diferente. Algumas raças ficam com o pelame rarefeito e podem até mudar de cor – pelos brancos ficam amarelados. Efeitos adversos como vômito e diarreia podem estar presentes, mas usualmente usamos medicações na químio para impedir ou diminuir esta ocorrência.
Pet Med –De modo geral qual é o prognóstico para o câncer de mama nos pets?
Aline Machado De Zoppa – O prognóstico é bom quando do diagnóstico precoce, pois conseguimos evitar que o tumor se alastre para outros órgãos. Em casos que já temos o tumor espalhado fazemos um bom controle com as medicações quimioterápicas, tendo uma sobrevida com muita qualidade de vida.
Pet Med –Neste aspecto, como prevenir, o que pode ser feito pelos familiares, a fim de evitar que a sua cadela ou a sua gata venha a desenvolver câncer de mama?
Aline Machado De Zoppa – A prevenção é sempre a melhor saída : Pets que não serão usados na reprodução recomenda se castrar as fêmeas após o primeiro cio – se possível antes do segundo cio, pois há trabalhamos mostrando que nesta época a chance de evitar o aparecimento dos tumores de mama é de 90%. A orientação sobre este aspecto protetivo deve ser disseminada por campanhas de orientação para proporcionar a oportunidade aos tutores de proteger suas fêmeas.
Pet Med –Por fim, que outras informações são importantes quando o assunto é prevenção do câncer de mama em cadelas e gatas?
Aline Machado De Zoppa – Acho importante orientar as pessoas, pois, mesmo com muita informação disseminada ainda é pequeno o número de tutores que buscam os hospitais para castrar ou para diagnóstico precoce de tumores de mama.
A visita anual ao Médico Veterinário, que realiza exame completo da paciente permite a detecção precoce e ação para que possamos falar em cura deste tipo de tumor. Portanto, acredito que esta seja a mensagem mais importante!
Subir, descer, pular, correr, ficar em locais altos, tudo isso faz parte da essência e do dia a dia dos gatos e dos felinos de modo geral. No entanto, com o passar dos anos, é muito comum que a partir de determinada idade eles possam vir a desenvolver osteoartrite, o que pode comprometer a qualidade de vida deles. Mas este não é o único motivo que pode levar os gatos a terem osteoartrite.
Por isso, convidamos a Médica Veterinária Mariane B. Silva, formada pela Universidade de São Paulo em 2009, para conversar conosco e esclarecer algumas dúvidas sobre o tema.
Mariane é mestre em Ciências, também pela Universidade de São Paulo desde 2013, especializada em Medicina Felina desde 2015 e é professora de Clínica Médica da Universidade São Judas, além de coordenar o Núcleo de Medicina Felina do Instituto de Ensino e Pesquisa Ranvier.
Acompanhe a entrevista!
Pet Med –Para começar, por favor, nos explique o que é osteoartrite?
Mariane B. Silva – A osteoartrite em felinos é uma condição que afeta as articulações dos gatos, provocando dor e desconforto que podem impactar significativamente a qualidade de vida desses animais.
Pet Med –De que modo os gatos podem vir a ter osteoartrite?
Mariane B. Silva – Além da idade, pacientes obesos ou que sofreram algum trauma ortopédico em algum momento da vida podem vir a apresentar sinais de maneira mais precoce, além, claro da predisposição individual.
Pet Med –Quais são os riscos para a saúde dos gatos com osteoartrite?
Mariane B. Silva – Ocorrer a degeneração da cartilagem articular de maneira lenta e progressiva com a formação de proliferações ósseas em locais não usuais das articulações.
Pet Med –E quanto aos sinais? De que modo os familiares podem suspeitar ou identificar sinais de que o gato pode estar começando a ter osteoartrite?
Mariane B. Silva – Os sinais clínicos mais comuns incluem uma mudança no comportamento, como a redução da atividade e brincadeiras menos frequentes, auto higienização reduzida, animal apresentando pelo opaco, sem brilho, com presença de nós. Além disso, os gatos podem começar a evitar pular ou subir em locais altos de maneira direta, usando obstáculos intermediários para chegar em locais que antes chegaria num único pulo. Outros sinais podem incluir dificuldade ao caminhar, rigidez, e mudanças na forma como o gato anda ou se deita.
Pet Med –Aliás, ainda sobre a pergunta anterior. Sabemos que os gatos escondem quando estão com problemas de saúde. Neste caso, quando a gente percebe o caso já pode estar avançado ou é possível perceber a chegada da doença ainda no início?
Mariane B. Silva – Esta afecção é subestimada na espécie felina, pois, além do fato dos gatos serem capazes de esconder os sintomas por motivos evolutivos comportamentais, a estrutura corpórea é mais leve, facilitando com que ele consiga compensar os sinais clínicos por período prolongado.
Pet Med – Neste aspecto, a partir de que idade os gatos tornam-se mais suscetíveis a desenvolver osteoartrite?
Mariane B. Silva – A osteoartrite, por ser uma doença degenerativa, ocorrerá mais comumente em animais idosos – 90% dos gatos acima dos 12 anos possuem sinais clínicos da doença.
Como os sinais de início são muito sutis, o tutor deve estar atento a pequenas alterações de rotina no animal para que a doença seja percebida no início de sua evolução.
Pet Med – Quais são as formas de diagnosticar a Osteoartrite em felinos?
Mariane B. Silva – Para o diagnóstico da osteoartrite em felinos, é necessário um exame clínico geral e ortopédico detalhado, que além de uma entrevista minuciosa com o tutor, pode incluir a realização de exames de imagem, como radiografias, para avaliar a condição das articulações. Radiografias podem revelar alterações típicas da osteoartrite, como a redução do espaço articular e a formação de neoformações ósseas. No entanto, é importante frisar que muitos gatos apresentam sinais clínicos importantes de dor articular antes de possuírem lesões significativas ao exame radiográfico, sendo assim, um raio-x “normal” não deve ser justificativa para se excluir a doença.
Pet Med – E, quanto ao tratamento, o que a Medicina Veterinária oferece atualmente?
Mariane B. Silva – A identificação precoce da condição é crucial para o gerenciamento eficaz da doença e para a implementação de um plano de tratamento adequado e propiciar qualidade de vida ao animal.
O tratamento da osteoartrite em felinos é geralmente multimodal e visa aliviar a dor e melhorar a função articular, uma vez que não há cura. Pacientes obesos devem ser submetidos a um programa de redução de peso, visando redução da sobrecarga articular. Suplementos alimentares como glucosamina e condroitina podem ser benéficas a alguns pacientes; medicamentos anti-inflamatórios e analgésicos para modular dor crônica e suas agudizações, são frequentemente utilizados.
Pet Med –Uma vez diagnosticada, o que os familiares devem e podem fazer em casa para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos gatinhos com osteoartrite?
Há pouco tempo foi lançado no Brasil um medicamento baseado em anticorpos monoclonais que impedem a geração de compostos articulares que desencadeiam a dor. A medicina de reabilitação como fisioterapia, acupuntura, quiropraxia, liberação miofascial também podem ajudar a manter a mobilidade das articulações e a melhorar a qualidade de vida do gato. Alterações ambientais como adição de escadas próximas a sofás, camas, janelas e ambientes altos facilitam o acesso do paciente a esses locais sem sobrecarregar as articulações e gerar desconforto.
Pet Med – Por fim, no dia a dia, de que modo é possível prevenir as osteoartrite nos gatos?Mariane B. Silva – Finalmente, é importante que os tutores estejam atentos às necessidades e ao bem-estar dos seus felinos e façam consultas regulares ao veterinário para monitorar a condição das articulações. O manejo da osteoartrite é um processo contínuo que envolve ajustes no tratamento conforme a progressão da doença. Com um tratamento adequado e atenção aos sinais clínicos, os gatos com osteoartrite podem continuar a ter uma vida ativa e confortável, apesar dos desafios impostos pela condição.
O sistema imunológico dos animais, assim como o nosso é o responsável por protegê-los contra infecções e doenças. No entanto, apesar de fazer a defesa do nosso organismo contra diversos agentes patogênicos, o sistema imunológico dos cães e dos gatos sofre diversas interferências que podem deixa-los suscetíveis e mais predispostos a determinadas doenças. Para entender o que pode alterar a imunidade dos pets e como mantê-la regular, conversamos com a Médica Veterinária, Gabriella Mangueira de Castro Lydijusse, patologista clínica do Vetex Laboratório Veterinário em São Paulo.
Acompanhe a entrevista!
Pet Med – Para começar, por favor, nos explique: o que é Imunidade?
Gabriella Lydijusse – Imunidade é a combinação de mecanismos moleculares e celulares que trabalham em conjunto para proteger o corpo de infecções e doenças. Esse sistema de defesa é composto por células, tecidos e órgãos, gerando ao organismo uma capacidade de reconhecimento e resistência a ameaças de microrganismos como vírus, bactérias, fungos, substâncias nocivas, infecções e toxinas.
Pet Med – De forma resumida, como funciona o sistema imunológico dos cães e dos gatos?
Gabriella Lydijusse – O sistema imunológico de cães e gatos funciona de forma semelhante ao dos humanos, com o diferencial de proteção voltado a patógenos e doenças específicas de cada espécie. Ele possui a função de proteger o organismo através do reconhecimento e resposta a antígenos. Antígenos são substâncias, geralmente proteínas, que desencadeiam uma resposta imunológica. Eles podem estar localizados na superfície de células, vírus, fungos ou bactérias, como também em substâncias não vivas como produtos químicos e corpo estranho. O sistema imunológico reage aos epítopos dos antígenos, ou seja, a partes específicas de um antígeno. Um único antígeno pode ter vários epítopos, cada um capaz de gerar uma resposta imune diferente. Como forma de proteção, através do epítopo, o sistema imune identifica estes antígenos como “substâncias estranhas” presentes no organismo e reage, tentando destruí-los. Para que essa destruição aconteça, de acordo com o tipo de mobilização celular, a resposta imune é classificada em duas principais categorias: Imunidade inata (natural) e adaptativa (adquirida).
Imunidade Inata (natural): Filogeneticamente mais primitiva, é a defesa do corpo, presente desde o nascimento. Estão associadas a ela as barreiras físicas, como pele e mucosas, e respostas rápidas do sistema imunológico. Sua ativação ocorre a partir do reconhecimento de qualquer lesão tecidual, com ou sem a presença de patógenos. É composta por macrógagos, neutrófilos, eosinófilos, basófilos, mastócitos, células NK (natural killer), células dendríticas e células do sistema complemento. Estas células atuam em conjunto, realizando as funções de fagocitose, disponibilização de mediadores inflamatórios, como também a eliminação das células infectadas. Sua classificação como inata, se dá pelo fato de que seus componentes respondem da mesma maneira, agindo de forma não específica e imediata antes de o sistema imunológico adaptativo ser acionado.
Já a Imunidade Adaptativa (adquirida é uma resposta específica, desenvolvida ao longo do tempo, a cada patógeno, por meio de várias combinações de receptores celulares. Diferente da resposta imune inata, a qual apresenta uma resposta rápida, a resposta da imunidade adaptativa não é ativada de maneira instantânea, porém, uma vez acionada, possui capacidade de adaptação de resposta de maneira específica a cada antígeno, gerando assim uma memória imunológica. Fazem parte desta classificação fisiológica os linfócitos B, T, T Citotóxicos, T Reguladores, T de Memória, e células apresentadoras de antígenos (APCs). Este grupo celular age em conjunto, produzindo anticorpos e auxiliando na identificação de células anormais, para garantir que o organismo responda com rapidez, eficiência e se lembre de patógenos que o corpo já enfrentou, oferecendo proteção em exposições futuras.
Pet Med – Quais são os riscos para a saúde dos cães e dos gatos quando a imunidade está baixa?
Gabriella Lydijusse – Quando o organismo de cães e gatos apresenta uma imunidade baixa, entende-se que a resposta imunológica do animal não está sendo eficiente no reconhecimento, combate e destruição de um agente agressor. Desta forma, o pet está mais suscetível ao desenvolvimento de infecções bacterianas, virais e fúngicas, doenças parasitárias, a apresentar um quadro clínico de maior severidade quando acometido por qualquer enfermidade, como também, maior dificuldade de recuperação de doenças.
Pet Med – De que modo os familiares podem suspeitar ou identificar sinais de que a imunidade do pet está começando a ficar ou já está baixa?
Gabriella Lydijusse – Os familiares podem suspeitar ou identificar sinais de que a imunidade do pet está baixa observando algumas mudanças no comportamento e na saúde do animal, como por exemplo:
Alteração no apetite ou desinteresse por qualquer alimento fornecido, ou quando se alimenta de frações menores que as habituais;
Cansaço, falta de energia para brincar e realizar atividades que demandam energia, como a prática de exercícios; Perda de peso;
Alteração na pele e nos pêlos, quando os pelos começam a apresentar opacidade, queda excessiva, ou ainda coceiras e erupções cutâneas;
Infecções recorrentes como otites, infecções urinárias, ou qualquer tipo de acometimento recorrente;
Assim como infecções parasitárias, como presença de pulgas, carrapatos ou vermes, onde não há melhora clínica após tratamento.
Pet Med – Ainda neste sentido, existe uma faixa etária mais suscetível a ter baixa da imunidade?
Gabriella Lydijusse – Filhotes e idosos são faixas etárias que necessitam de maior atenção em relação à imunidade. Para cães, a classificação entre filhote e adulto varia de acordo com o porte do animal, oscilando entre 12 e 24 meses. Já os gatos, são considerados filhotes com até doze meses de vida. No geral, os filhotes possuem maior susceptibilidade a baixa imunidade, pois estão em fase de desenvolvimento imunológico, podendo não apresentar anticorpos em quantidade suficiente para combater infecções. Os animais idosos também estão classificados como mais suscetível a uma baixa imunidade, pois seu sistema imunológico passa a ser menos eficiente, devido ao envelhecimento natural do organismo, como também a presença concomitante de doenças crônicas. Vale ressaltar que cães são classificados animais idosos, a partir dos sete anos de vida, a variar com o porte do animal, e gatos entre sete e dez anos de vida.
Pet Med – O que pode alterar a imunidade dos cães e dos gatos?
Gabriella Lydijusse – Existem inúmeros fatores que podem alterar a imunidade dos cães e dos gatos, entre eles estão:
Nutrição: Uma dieta inadequada ou deficiente em nutrientes essenciais pode comprometer o sistema imunológico, pois não fornecerá nutrientes em quantidade e qualidade adequada para seu fortalecimento e desenvolvimento.
Estresse: Situações de mudanças de ambiente, viagens ou introdução de novos animais no lar podem desencadear altos níveis de estresse aos cães e gatos. Dependendo da intensidade e duração do estresse, ele pode enfraquecer as defesas do corpo ou, em alguns casos, intensificar respostas imunes inadequadas.
Doenças: Infecções parasitárias, doenças autoimunes, e condições crônicas podem enfraquecer a resposta imunológica, pois o organismo precisa lidar com vários eventos ao mesmo tempo, disponibilizando menos energia no desenvolvimento do sistema imune.
Vacinação: A falta de vacinação, ou ainda a vacinação realizada de forma inadequada, pode deixar os animais mais vulneráveis a doenças infecciosas, onde não há um desenvolvimento satisfatório de memória imunológica.
Medicamentos: o uso de alguns medicamentos, como o corticóide, quando administrado de forma contínua, pode suprimir a resposta imunológica.
Fatores genéticos: Alguns animais podem ter predisposição genética ao desenvolvimento de doenças, as quais podem comprometer a imunidade.
Pet Med – O que pode ser feito, no dia a dia, para que não haja oscilação na imunidade dos pets?
Gabriella Lydijusse – Para manter a imunidade dos pets estável e satisfatória no combate a doenças, existem práticas diárias que podem ser adotadas. Algumas delas são:
Alimentação balanceada: Oferecer uma alimentação rica em nutrientes, adequada a idade, raça e necessidades específicas do seu pet.
Hidratação adequada: incentive e forneça acesso à água fresca e limpa diariamente.
Bem estar animal: Diminua possíveis situações de estresse, tornando-as menos frequente possível, associado ao ambiente limpo, seguro.
Estimule brincadeiras: Crie um ambiente calmo e confortável para o seu pet, estimulando brincadeiras e momentos de socialização.
Acompanhamento regular ao veterinário: Realize check-ups associados a exames laboratoriais e mantenha as vacinas em dia, certificando-se assim que seu animal está saudável.
Pet Med – Quais são as formas de diagnosticar que um cão ou gato está com a imunidade baixa?
Gabriella Lydijusse – O diagnóstico de uma baixa imunidade deve estar associado à avaliação clínica do médico veterinário, ao histórico e anamnese relatados pelo tutor, e ainda ao resultado de exames laboratoriais. Sugere-se a associação de exames de imagem, com exames de sangue, fezes e urina, como também exames específicos de acordo com a suspeita clínica do veterinário que está realizando o atendimento do animal. Com esta associação de fatores, é possível chegar a uma conclusão adequada em relação à imunidade do paciente.
Pet Med – E, quanto ao tratamento, o que a Medicina Veterinária oferece atualmente?
Gabriella Lydijusse – A Medicina Veterinária oferece diversas abordagens para tratar e apoiar a imunidade de cães e gatos. Algumas delas são:
Vacinação
Nutrição balanceada
Fármacos inmunomoduladores
Tratamento de doenças
Avaliações periódicas ao veterinário
Pet Med – Por fim, o que os familiares devem e podem fazer aumentar a imunidade do pet a fim de proporcionar a eles, uma melhor qualidade de vida, uma vez identificada como baixa?
Gabriella Lydijusse – Uma vez que o médico veterinário, através de exames de auxílio ao diagnóstico, tenha identificado a baixa imunidade do animalzinho, os familiares podem adotar práticas que garantam uma melhor qualidade de vida ao pet. Está incluso nestes hábitos:
Fornecer um ambiente limpo e seguro, livre de toxinas, produtos químicos ou qualquer item que possa interferir na saúde do pet;
Administrar uma alimentação balanceada, de acordo com a espécie, raça e particularidades do animal; Incentivar e fornecer uma hidratação adequada;
Promover passeios, brincadeiras e exercícios, que ajudam a manter o peso saudável e reduzem o estresse;
Realizar o controle de parasitas, de acordo com as recomendações do médico veterinário;
Promover a socialização com outros animais e pessoas, além de brinquedos interativos que estimulem a cognição;
Rotina de cuidados regulares, como escovação dos pelos, dos dentes e cuidado com as unhas, para evitar possíveis problemas de saúde;
Realizar visitas regulares ao veterinário, associada a exames complementares ao diagnóstico, para assegurar a saúde do animal.
Na entrevista de hoje conversamos com exclusividade com a Médica Veterinária Comportamentalista e Doutora em Psicologia, Ceres Berger Faraco.
Autora de diversos livros e idealizadora do conceito de família multiespécies, a professora Ceres é, também, fundadora do Instituto de Saúde e Psicologia Animal – INSPA, que há 12 anos se dedica à educação em comportamento e bem-estar animal.
Nossa convidada falou a respeito do abandono de animais e sobre como o comportamento do cão ou do gato pode interferir na decisão na hora da adoção e, na quebra ou na consistência do vínculo dos membros da família com os animais.
Durante a entrevista, Ceres Faraco resasltou ainda a importância da oferta de informações de qualidade sobre comportamento animal, e também sobre as implicações para o animal e para as pessoas quando há falta de informações ou quando elas são ofertadas de maneira equivocada.
Uma entrevista muito importante. Acompanhe!
Pet Med – Para começar, por favor, nos explique o que podemos entender sobre comportamento animal, aqui pensando nos cães e nos gatos.
Ceres Berger Faraco – Comportamento dos cães e gatos, ou seja, o que eles fazem, deve ser considerado como uma resposta, um enfrentamento ao ambiente em que vivem. Se soma ao ambiente, a natureza das relações que têm com os tutores e as emoções que subjazem e estão relacionadas com o ambiente, pessoas e outros animais. Comportamento é o final de um processo de percepção e decisão sobre as situações que os cães e gatos vivem.
Pet Med –Neste aspecto, qual é a importância das pessoas terem informações gerais sobre o comportamento animal antes de adotar um cão ou um gato?
Ceres Berger Faraco – O conhecimento sobre o comportamento dos cães e gatos é fundamental para criar um ambiente adequado, interagir com eles de forma consistente, positiva e compreender o que eles estão comunicando para as pessoas de forma mais precisa. Também, entender a dinâmica e flutuações do comportamento como expressão dos sentimentos, respeitando os momentos de distanciamento, de aproximação e de descanso.
Pet Med –Quais são os riscos para a família e para os animais quando não há essa busca nem essa oferta de informações sobre o comportamento animal?
Ceres Berger Faraco – Há muitas informações disponíveis, mas é preciso que essas tenham qualidade. E, quando se fala em qualidade, quer dizer que sejam corretas e realmente retratem os comportamentos caninos e felinos.
A falta de informações e as que são equivocadas levam a impossibilidade de ajuste entre a família e os animais, suscitam a convivência negativa e consequente frustração para as pessoas e, alta probabilidade de situações aversivas para com os animais. Isso resulta em negligência, problemas de comportamento dos animais e potencial abandono.
Pet Med – Nos processos de adoção é comum ouvir negativas pela adoção por questões comportamentais dos animais, seja por ser medroso, latir muito, apresentar sinais de agressividade, ser desobediente ou até levado demais, dentre outros relatos. Diante disso, de que forma o comportamento animal pode interferir positivamente ou negativamente nos processos de adoção?
Ceres Berger Faraco – Na adoção há uma preferência, na maior parte das vezes, por incluir animais saudáveis, relativamente jovens, tranquilos, dóceis e que não representam alguma chance de problema no futuro. Além disso, são valorizados os que se relacionam bem com pessoas, outros animais e crianças. Portanto, os que demonstram ter esse perfil são os mais desejados e com maior facilidade de encontrar adotantes. Já os que se mostram medrosos, arredios, reativos e que evitam aproximações de pessoas são rejeitados. Há desconhecimento que muitos desses comportamentos são frutos da situação que o animal está vivendo.
Pet Med –Há, ainda, os casos dos animais que já fazem parte da família, mas, por questões comportamentais também correm o risco, quando não, são doados ou abandonados na rua. Diante disso, de que forma o comportamento animal também pode interferir positivamente ou negativamente no dia a dia das famílias multiespécies?
Ceres Berger Faraco – Os animais que têm boa sociabilidade e flexibilidade comportamental têm mais chances de estabelecer vínculos sólidos e permanentes com as famílias. Porém, aqueles com problemas de comportamento podem ter destinos diferentes, o abandono, a doação sem critério, a permanência nas casas sendo negligenciados, sofrerem maus tratos, enfim sempre desfechos negativos. Cabe destacar que, há problemas que não dependem dos animais apenas, algumas vezes, famílias disfuncionais são responsáveis pelos problemas e sua perpetuação, nesses casos a realocação é o melhor caminho.
Pet Med – No dia a dia, o que pode alterar o comportamento dos cães e dos gatos?
Ceres Berger Faraco – Alterações benéficas para o bem-estar de todos incluem oferecer ao animal suas necessidades básicas, como alimento, proteção, cuidados de saúde e interações adequadas para a espécie. É fundamental uma rotina que permita ao animal ter previsibilidade sobre o que vai ocorrer ao longo do dia e um controle sobre sua vida, seu ambiente e suas interações com outros animais e pessoas.
Pet Med –O que pode ser feito pelos familiares para que não haja oscilação no comportamento dos pets?
Ceres Berger Faraco – Fundamentalmente, que as atitudes sejam acordadas entre as pessoas e seguidas por todos os membros da família para não gerar confusões no animal, criar situações contraditórias provocando insegurança no animal por não saber qual o comportamento desejado naquele momento. Isto é, de certa forma comum, quando alguns permitem um comportamento e outros punem. Lembrando que rotina, exercícios físicos e desafios de aprendizagem são ferramentas para qualificar a vida dos pets.
Pet Med –Quais são as formas de diagnosticar que um cão ou gato está com problemas comportamentais?
Ceres Berger Faraco – Há problemas de diferentes natureza, aqueles que são evidentes como sinais de ansiedade e medo, eliminações inadequadas, vocalização excessiva, lambeduras compulsivas, automutilação, destruição, ameaça às pessoas e outros animais, ataques e mordeduras.
Também, podem estar ocorrendo problemas nos animais que sofrem em silêncio, roem unhas, não se alimentam, não urinam e defecam por longos períodos, ficam imóveis diante de pessoas ou outros animais como se estivessem “congelados” e em pânico. Estas são algumas das situações, mas há inúmeras que merecem ser avaliadas.
Pet Med –Por fim, uma vez identificado problema de comportamento, o que os familiares devem e podem fazer para que seus pets sejam saudáveis nos aspectos físicos, emocionais e comportamentais a fim de proporcionar a eles e a todos da família, uma melhor qualidade?
Ceres Berger Faraco – Sem sombra de duvida, buscar um profissional qualificado para analisar as motivações que levam o animal a apresentar tais comportamentos e estabelecer orientações e protocolos para o controle e a redução das situações que podem romper com o vínculo e ameaçar o bem-estar da família como um todo.
Com a rotina das pessoas cada vez mais dinâmica e repleta de compromissos fora de casa, algumas famílias multiespécies têm um desafio ainda maior, que é lidar com a Ansiedade de Separação do seu cãozinho.
Esse transtorno resulta em malefícios para a saúde do animal assim como para os outros integrantes da família.
Para nos explicar o que é a Ansiedade de Separação, como identificar no dia a dia e de que modo é possível ajudar o cãozinho a se recuperar, conversamos com o Médico Veterinário, Guilherme Marques Soares, Doutor em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense – UFF e professor convidado do Instituto de Saúde e Psicologia Animal – INSPA.
As orientações são muito importantes. Acompanhe!
Pet Med – Para começar, o que podemos entender por ansiedade de separação dos cães para com seus familiares?
Guilherme Marques Soares – Ansiedade de Separação é uma síndrome clínica que o cão ou gato desenvolve quando é afastado fisicamente de pessoas ou outros animais com os quais se vincula excessivamente. O animal apresentará comportamentos característicos que incluem: vocalização excessiva, destruição de coisas pela casa – frequentemente portas, janelas ou outras rotas de fuga, ou itens com referência olfativa da figura de vínculo, como travesseiro, assento do sofá, objetos…, micção ou defecação em locais inapropriados. Pode ocasionar também salivação excessiva ou comportamentos depressivos.
A ansiedade por separação é um problema que traz forte impacto negativo na qualidade de vida do animal e da família.
Pet Med – O que leva os cães a desenvolverem esse transtorno de dependência?
Guilherme Marques Soares – Cães são animais sociais, que vivem em grupo, portanto, o grupo é essencial para sua estabilidade emocional. Se esses animais não aprendem a estar sozinhos, poderão ficar extremamente ansiosos. Quando isso acontece, essa ansiedade exacerbada leva aos sintomas apresentados.
Pet Med – No dia a dia, quais são os sinais que os familiares devem ficar atentos, ou seja, como saber se o cachorro sofre de ansiedade de separação?
Guilherme Marques Soares – Infelizmente os sinais são claros e intensos, Raramente passam despercebidos. As vocalizações excessivas podem ser notadas apenas por vizinhos, pois o cão começa a vocalizar depois que as pessoas saem de casa. Mas, alguns sinais são sugestivos de que o cão pode apresentar a síndrome quando fica sozinho: seguir o tutor ou outra pessoa por dentro de casa mostrando-se agitado quando afastado, festa excessiva quando a(s) pessoa(s) chega(m) em casa, mudar o comportamento quando a(s) pessoa(s) se prepara(m) para sair.
Pet Med – Quais devem ser os primeiros passos dos familiares ao observarem a possibilidade de o cão estar desenvolvendo ansiedade de separação?
Guilherme Marques Soares – Procurar um Médico Veterinário Comportamentalista para fazer o diagnóstico diferencial com outros problemas relacionados à separação e propor o tratamento adequado ao caso.
Pet Med – Quais são os meios de diagnosticar ansiedade de separação nos cães?
Guilherme Marques Soares – Infelizmente não há um teste laboratorial ou exame de imagem que possibilite o diagnóstico preciso. O diagnóstico é feito a partir do histórico e da anamnese do tutor. Muitas vezes ter vídeos dos comportamentos, principalmente quando o cão está sozinho, pode ajudar a elucidar a questão.
Pet Med – A partir da confirmação do diagnóstico, como deve ser o tratamento deste transtorno?
Guilherme Marques Soares – O tratamento envolve mudanças na rotina, exercícios de terapia comportamental e apoio com medicamentos ou feromônios.
Pet Med – Em que casos é preciso uso de medicamentos para o tratamento?
Guilherme Marques Soares – Quase sempre, pois, é preciso lembrar que o animal está em sofrimento. Os medicamentos aceleram o tratamento e aumentam a adesão dos tutores nas mudanças de manejo e nos exercícios específicos.
Pet Med – É possível mensurar o tempo médio de recuperação do cão que sofre por ansiedade de separação? Por favor, justifique sua resposta.
Guilherme Marques Soares – Não é rápido. Sendo otimista, em torno de 90 dias. Sendo realista, entre 3 e 6 meses. O tempo se justifica, pois depende do aprendizado em ficar longe das pessoas sem manifestar ansiedade.
Pet Med – Neste aspecto, o que pode ser feito pelos familiares, a fim de evitar que o seu cão venha a desenvolver ansiedade de separação?
Guilherme Marques Soares – A melhor forma de evitar o problema é ensinar o cão a ficar períodos sozinho desde filhote, a partir de quatro meses, pois é nessa fase, normalmente, que os cães desenvolvem a hipervinculação à pessoa ou a outro animal.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Guilherme Marques Soares – Ansiedade de Separação não tem cura. Todo tratamento visa à remissão dos sintomas. O principal gatilho para a síndrome é ter mudanças na rotina: mudança de residência, convívio aumentado ou reduzido com alguém – empregado(a) novo(a), morte, nascimento, namorado(a) novo(a), aquela tia que vem passar uma temporada em casa, emprego novo com mudanças de horários, etc. Portanto um cão pode ficar bem por um tempo e voltar a manifestar a síndrome caso tenha um novo gatilho.
Buscar a orientação de um profissional capacitado desde que o cão é filhote é a melhor maneira de evitar uma série de problemas de comportamento, dentre eles a síndrome de ansiedade de separação.