Comportamento Pet: Os Animais tem sentimentos? Conversamos com aMédica Veterinária Comportamental Daniele Graziani sobre o assunto confira na integra.
Por Pauline Machado
Muitas pessoas ainda têm dúvidas sobre se os animais têm sentimentos como nós, humanos.
Então, convidamos a Médica Veterinária Comportamentalista, Daniele Graziani, portadora do CRMV/PR 13.752, para nos tirar essa e muitas outras dúvidas relacionadas aos sentimentos dos cães e dos gatos.
Acompanhe!
Pet Med – Para começar, por favor, nos explique o que podemos entender por sentimentos.
Daniele Graziani – Sentimentos são emoções que todos os animais podem experienciar.
Pet Med – Neste aspecto, podemos dizer que os animais também têm sentimentos?
Daniele Graziani – Certamente, pois são dotados de um sistema límbico, tal como nós. A área do cérebro responsável pelos sentimentos e emoções é o sistema límbico.
Pet Med – Que tipos de sentimentos os animais, especificamente os cães e os gatos, sentem?
Daniele Graziani – Até onde sabemos, os animais possuem os sentimentos menos complexos, semelhante a uma criança, como: raiva, medo, alegria, tristeza, repulsa e surpresa.
Pet Med – A partir dessa compreensão, qual é a relação dos sentimentos dos cães e dos gatos com as cinco liberdades dos animais?
Daniele Graziani – Quando pensamos que eles devem estar livres de estresse e medo, assim com livre de dor, lhe garanto que, com frequência, não somos bem sucedidos. É comum que suas emoções sejam subestimadas, por pura ignorância de nossa espécie. Até mesmo na veterinária, a dor é subestimada. Em minha rotina como Médica Veterinária Comportamental, atendo com frequência animais que apresentam alteração comportamental por sentirem dor, mas que, no dia a dia, parecem dispostos, com apetite e sem expressar claudicação ou vocalização, e assim a alteração comportamental não é considerada como sinal clínico, e o animal chega para tratamento do comportamento, quando na verdade o problema é clínico. Muitos desses casos há dor significativa, que passa despercebida. Imagine, então, suas emoções. Um animal que apresenta agressividade está expressando algo que ele não consegue explicar verbalmente, mas muitas vezes são vistos como “animais maus”.
Pet Med – No dia a dia com os animais, como os humanos podem compreender o que os cães e os gatos estão sentindo?
Daniele Graziani – Como os pais conseguem compreender um bebê? É estudando e observando. Animais se comunicam com vocalizações, comportamentos e linguagem corporal. Observar livre de julgamentos é importante, pois muita coisa errada é dita por ai, como por exemplo, dizer que um animal esta tentando se vingar. Essa frase não tem qualquer base cientifica.
Pet Med – Qual é a importância de nós humanos desenvolvermos essa habilidade de compreender os sentimentos dos animais, para um convívio mais saudável e em equilíbrio com eles?
Daniele Graziani – Quando escolhemos conviver com outra espécie, desejamos formar um vínculo com a mesma, certo? A base de qualquer relacionamento é uma boa comunicação. Se não formos capazes de entender o que a outra parte comunica como podemos criar vínculo? É preciso entender como eles se sentem, para sabermos se estamos agradando ou estressando.
Pet Med – Por fim, por favor nos oriente sobre como desenvolver a habilidade de compreender os sentimentos dos animais.
Daniele Graziani – Existem hoje muitos materiais teóricos mostrando linguagem corporal de cães e gatos. É preciso estudar.
Gato com rabo alto esta feliz em lhe ver, já o cão expressa essa emoção com rabo relaxado e balançante. Vale saber, que nem todo balançar de rabo em cães indica felicidade, tal como, nem todo sorriso é felicidade em humanos. É preciso compreender linguagem corporal e contexto.
Eles se comunicam com postura de cauda, orelhas, postura do corpo, expressão facial, vocalizações diversas. Um cão rosnando, por exemplo, está lhe informando que não esta confortável com algo, mas frequentemente as pessoas consideram errado um cão rosnar, interrompendo esse comportamento.
Um cão que não pode expressar desconforto faz o que quando sentir? Guarda pra si? É preciso compreender que um cão quando se sente ouvido, dificilmente morderá, pois, se ele é respeitado quando expressa desconforto, não verá necessidade em ser mais incisivo.
Maio é o mês das mães e para fechar com chave de ouro as entrevistas deste mês tão especial, conversamos com exclusividade com o coordenador Clínico do Hospital veterinário – DOK Guarulhos – clínica de pequenos animais e de animais silvestres e exóticos, o Médico Veterinário Fábio da Silva Chavier, portador do CRMV/SP: 35.341.
Acompanhe!
Pet Med – Qual é a importância dos cuidados com as mamães, visando a saúde das cadelas e gatas gestantes?
Fábio da Silva Chavier – É garantir assistência a essas fêmeas em todas as fases da gestação, desde o momento em que descobre a gravidez até os 42 dias após o parto, o puerpério. O acompanhamento engloba exames regulares e acompanhamento veterinário.
Pet Med – No dia a dia, como os familiares dos animais podem identificar se as cadelas e gatas estão prenhas?
Fábio da Silva Chavier – Os familiares dos animais podem identificar se as cadelas e gatas estão prenhas observando mudanças comportamentais, aumento de tamanho abdominal e possíveis sintomas como vômitos, letargia e aumento da ingestão de água.
Pet Med – Qual é o período de gestação das cadelas e das gatas?
Fábio da Silva Chavier – O período de gestação das cadelas é de aproximadamente 63 dias, enquanto o das gatas é de cerca de 65 dias.
Pet Med – De modo geral quantos filhotes nascem de uma gata e de uma cadela de porte médio, por exemplo?
Fábio da Silva Chavier – Em média, uma gata pode ter de 1 a 8 filhotes, enquanto uma cadela de porte médio pode ter de 4 a 6 filhotes. No entanto, isso pode variar bastante de acordo com a raça e outros fatores individuais.
Pet Med – Sobre mitos e verdades, nos explique se cada cor da pelagem diferente dos filhotes quer dizer que cada um foi de um pai diferente e se o número de filhotes se refere ao número de cruzas que as fêmeas caninas e felinas tiveram.
Fábio da Silva Chavier – A cor da pelagem dos filhotes não necessariamente indica que cada um teve um pai diferente. Na verdade, a cor da pelagem é determinada pelos genes herdados dos pais, tanto do pai quanto da mãe. Assim, mesmo que os filhotes tenham cores diferentes, eles podem ter o mesmo pai. A variação de cores pode ser resultado da combinação genética dos pais.
Quanto ao número de filhotes, ele se refere ao número de gestações que as fêmeas caninas e felinas tiveram, não ao número de cruzas. Cada gestação pode resultar em uma quantidade variável de filhotes, e isso pode depender de vários fatores, incluindo a idade da mãe, sua saúde, genética e outros aspectos. Portanto, não há uma relação direta entre o número de cruzas e o número de filhotes em uma gestação.
Pet Med – Durante a gestação, quais cuidados os familiares devem ter com as mamães?
Fábio da Silva Chavier – Durante a gestação, os familiares devem proporcionar uma alimentação adequada, realizar visitas regulares ao veterinário, garantir um ambiente tranquilo e confortável e oferecer os cuidados necessários conforme orientação do profissional do médico veterinário.
Pet Med – Como identificar se a gata ou a cadela entrou em trabalho de parto?
Fábio da Silva Chavier – Os sinais de que a gata ou a cadela entrou em trabalho de parto incluem inquietação, lambedura excessiva da região genital, contrações visíveis e a ruptura da bolsa amniótica.
Pet Med – O que fazer ao ver sua cadela ou gata em trabalho de parto?
Fábio da Silva Chavier – Ao ver a cadela ou gata em trabalho de parto, os familiares devem garantir um ambiente calmo e tranquilo, oferecer suporte à mãe e estar preparados para ajudar caso necessário, mantendo contato próximo com o veterinário.
Pet Med – Em que casos é preciso levar para fazer cesariana? Quais sinais clínicos devem ser identificados?
Fábio da Silva Chavier – A cesariana pode ser necessária em casos de distocia (dificuldade no parto), que podem ser identificados por sinais como a não progressão do trabalho de parto, presença de filhotes presos no canal de parto por mais de 30-60 minutos, ou sinais de sofrimento fetal.
Pet Med – E durante o período de amamentação?
Fábio da Silva Chavier – Durante o período de amamentação, os familiares devem garantir que a mãe tenha uma alimentação adequada, oferecer um ambiente tranquilo e limpo para amamentação, e estar atentos a possíveis problemas de saúde tanto na mãe quanto nos filhotes.
Pet Med – A partir de qual idade os filhotes de cães e de gatos podem ser desmamados e doados?
Fábio da Silva Chavier – Os filhotes de cães e gatos podem ser desmamados e doados a partir das 6 a 8 semanas de idade, quando já estão mais independentes e conseguem se alimentar sozinhos.
Pet Med – E quais são os cuidados com as mãeszinhas neste período de desmame? Durante o período de desmame, os familiares devem oferecer uma dieta adequada para os filhotes, garantir que a mãe tenha descanso e continue recebendo cuidados veterinários, e estar atentos a possíveis problemas de saúde nos filhotes.
Fábio da Silva Chavier –Pet Med – Para finalizar, quais são suas recomendações para que cadelas e gatas tenham uma gestação, um parto e pós parto saudáveis?
Fábio da Silva Chavier – As recomendações para uma gestação, parto e pós-parto saudáveis incluem alimentação adequada, acompanhamento veterinário regular, pré-natal, ambiente tranquilo e limpo, preparação para o parto e cuidados pós-parto tanto para a mãe quanto para os filhotes.
É importante lembrar também da importância da castração como forma de controle populacional e prevenção de doenças em cães e gatos, além de contribuir para o bem-estar desses animais.
Terapia com animais para auxiliar no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Por Pauline Machado
Sabemos o quanto o convívio com os animais faz bem para a saúde e o bem-estar dos humanos. Mas, os benefícios não param nesta relação do dia a dia.
As terapias com animais estão aí para comprovar o quanto os animais ajudam a melhorar a vida das pessoas, inclusive na terapêutica do Transtorno do Espectro Autista.
Para conversar conosco sobre esse tema, convidamos a Pedagoga, Letícia Pereira Marba Erran, que atua no Instituto TEA.
Letícia é psicomotricista, neuropsicopedagoga, pet terapeuta e equoterapeuta, aplicadora ABA (análise do comportamento aplicada) e pós-graduanda em Intervenção ABA para Autismo e Deficiência Intelectual.
Pet Med –O que podemos entender por Transtorno do Espectro do Autista (TEA)?
Letícia Pereira Marba Erran – Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Pessoas com TEA apresentam um desenvolvimento atípico e o espectro é muito abrangente, portanto, cada indivíduo é único e com características únicas.
Pet Med –Quais são os sintomas, as características de uma pessoa, seja criança, adulto ou idoso, com TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – Como dito anteriormente, pessoas dentro do espectro podem possuir características diferentes uma da outra, porém, as mais “comuns” são: dificuldades em habilidades sociais, dificuldades em comunicação, sistema sensorial com alterações, atrasos ou desenvolvimento motor atípico, ecolalias, estereotipias, rigidez cognitiva ou rigidez comportamental, entre outras.
Pet Med – Nesta mesma linha, o que podemos entender por Intervenção Assistida por Animais (IAA)?
Letícia Pereira Marba Erran – As Intervenções assistidas por animais se dividem em três diferentes abordagens: a TAA Terapia assistida por animais, ou pet terapia, é uma abordagem que utiliza os animais como co-terapeutas para auxiliar no desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional de pessoas com deficiência, contendo planejamento e atendimento individualizado; a Educação assistida por animais tem como principal alicerce também o uso dos animais como facilitadores no processo educacional dos indivíduos, é geralmente utilizada em ambientes escolares e é realizada em grupo; a Intervenção assistida por animais é também utilizada nos processos de reabilitação tanto em ambientes hospitalares quanto em ambientes clínicos e escolares mas não possui um planejamento individualizado ou mesmo pensado para o grupo específico, essa abordagem acaba tendo como maior foco o contato em si com os animais, sem demandas específicas.
Pet Med – Neste sentido, qual é a importância da aplicabilidade da Intervenção Assistida por Animais (IAA) para casos de TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – Mesmo sendo uma abordagem que surgiu no meio psicanalítico, está sendo possível e se mostrando cada vez mais evidente sua eficácia dentro da área comportamental. No ABA a TAA está sendo utilizada em sua essência, ou seja, com os animais como facilitadores. Muitos dos treinos dentro do ABA, por mais lúdicos que sejam, acabam ficando “cansativos” para um perfil de pacientes, sem falar na carga horária e rotina terapêutica que as nossas crianças precisam. Acrescentar uma hora ou mais por semana de TAA faz uma quebra nessa rotina clínica e muitas das vezes os pacientes nem ao menos percebem que aquele também é um momento terapêutico e que estão sendo feitos os treinos para as habilidades que eles precisam adquirir. Um dos pontos de maior ênfase da TAA no TEA é no que diz respeitos às habilidades sociais.
Um estudo conduzido na Universidade Estadual de Washington demonstrou que os cães podem chamar a atenção das crianças autistas. O estudo foi conduzido por François Martin e sua equipe, com a gravação em vídeo de três condições com as crianças: um terapeuta com uma bola, outro com um animal de pelúcia e o último com um cão. Foram 45 sessões em 15 semanas. As crianças olhavam o cão e conversavam com ele por maior período de tempo do que com as outras duas situações.
Pet Med – De que forma a IAA acontece na prática durante o tratamento?
Letícia Pereira Marba Erran – A prática vai variar conforme o ambiente, o paciente e a abordagem que o terapeuta optar por mais viável, levando em consideração todo o contexto. No meu caso, eu atuo diretamente com a TAA em ambiente clínico e dentro da Análise do comportamento aplicada, o ABA;
Pet Med – Em que casos a IAA é recomendada para o tratamento de TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – A TAA é muito abrangente e pode ser recomendada para diversos casos, a depender da formação do profissional e da avaliação realizada por ele. Por exemplo: eu, como psicomotricista, posso aplicar os treinos da psicomotricidade dentro da pet terapia. Os casos mais comuns de serem indicados para a TAA são: casos de medo, pacientes com alterações sensoriais (profissional deve tomar muito cuidado com esse quesito e atuar sempre em conjunto com a T.O), pacientes com seletividade alimentar, pacientes com dificuldade em habilidades sociais, pacientes que demonstrem pouca intenção comunicativa, mas que tenham interesse por animais, entre outros.
Pet Med – E, em que casos a IAA não é recomendada?
Letícia Pereira Marba Erran – Casos de fobia, onde o terapeuta perceba que a exposição não será saudável, alergias graves e não acompanhadas, problemas respiratórios que possam ser agravados com o contato com os animais e agressividade extrema.
Pet Med – Quais são os resultados esperados e os geralmente alcançados a partir da IAA no tratamento de TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – Os resultados esperados são um maior envolvimento do paciente com a terapia, facilitação na criação de vínculo, desenvolvimento das habilidades necessárias de forma lúdica, melhora nas habilidades de interação e comunicação, melhora na autoestima, melhora nas habilidades de autocuidado e independência.
Pet Med – Por quais motivos esses resultados são alcançados, ou seja, como os animais podem ajudar na terapêutica do Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
Letícia Pereira Marba Erran – O contato em si com os animais já causa liberações e regulações hormonais, como por exemplo, reduz os níveis de cortisol e aumenta os de dopamina. Atuar com reforçadores de alta magnitude e de forma lúdica, naturalística, transforma o ambiente de TAA rico em oportunidades de aprendizagem.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Letícia Pereira Marba Erran – Viso como importante atuar com multiespécies e não apenas o cão, que é mais comum no Brasil, pois se queremos trabalhar habilidades tão abrangentes e com algo que seja prazeroso para o paciente é imprescindível que esse paciente tenha oportunidade de escolha, até porque, nem sempre o paciente irá gostar do cachorro, talvez uma Barata de Madagascar seja mais eficaz neste caso.
Essa variação também é importante para o bem-estar do animal em si, visto que em momento algum é forçada a interação de forma que cause desconforto para o animal e quando o mesmo demonstrar não “estar afim” nós também o respeitamos. Para fazer o bem é preciso estar bem também, portanto a saúde e o bem-estar dos animais estão em primeiro lugar para um tratamento eficaz em TAA.
Benefícios e Cuidados do Tratamento Fitoterápico em Pets
Por Pauline Machado
Cada vez mais tutores buscam por tratamentos mais humanizados e menos invasivos, tanto para si mesmos, quanto para seus animais de estimação. Mas, ainda são poucas as pessoas que conhecem as terapêuticas integrativas, bem como seus benefícios e os cuidados ao fazer uso deste tratamento.
Por isso, hoje, a nossa convidada especial é a Médica Veterinária Ana Beatriz Hassan, especialista em Medicina Integrativa. Portadora do CRMV/RJ 12.711, Ana Beatriz atua no Rio de Janeiro na Vetchi – Medicina Veterinária com abordagem integrativa e natural.
Acompanhe!
Pet Med – O que podemos entender por Medicina Integrativa?
Ana Beatriz Hassan – É a área da saúde que integra os tratamentos da Medicina “convencional” com métodos terapêuticos considerados complementares, naturais ou ditos “alternativos”.
Na Medicina Integrativa o ser vivo é avaliado como um todo, e não só a sua patologia. Conhecer seus sistemas e desequilíbrios, assim como as suas emoções, suas inter-relações e o ambiente onde está inserido é parte importante da avaliação. A individualização do tratamento é uma das premissas dessa medicina, onde se busca a cura do paciente, quando possível, mas também a prevenção de desequilíbrios no organismo e promoção da saúde.
Esse processo é feito principalmente impulsionando o corpo no seu caminho de reequilíbrio a partir da Medicina Integrativa, que reúne e harmoniza os recursos terapêuticos da medicina natural, como a Acupuntura, Homeopatia, Cannabis medicinal, Floral, Reiki, Nutrição, Fisioterapia, Ozonioterapia, Laserterapia, Fitoterapia, entre outras.
Cada abordagem terapêutica será escolhida de acordo com a indicação e individualização do paciente, podendo muitas vezes estar associada a uma tratamento alopático.
Pet Med – De que modo a medicina integrativa pode ser aplicada na Medicina Veterinária?
Ana Beatriz Hassan – Na Medicina Veterinária utilizamos os mesmos recursos terapêuticos da medicina humana, com suas devidas adaptações. Vou citar alguns exemplos de aplicações na minha rotina:
A homeopatia, por exemplo, é muito indicada para o tratamento de infecções urinárias, doença renal, alterações de comportamento, como ansiedade, agressividade e medos, assim como para casos de distúrbios respiratórios como asma e rinotraqueíte felina. É recomendada ainda, para distúrbios digestivos, tais como doença inflamatória intestinal, gastrite, alterações no fígado, e, também, para alergias de pele.
Já a acupuntura é bastante eficaz no tratamento de doenças articulares, distúrbios digestivos, alterações neurológicas e suporte a pacientes oncológicos.
Pet Med – Em que casos a terapia integrativa é recomendada na Medicina Veterinária?
Ana Beatriz Hassan – Essa medicina pode ser utilizada em todas as etapas da vida do paciente, seja como proposta curativa ou preventiva. No entanto, de uma forma geral essas abordagens costumam ser utilizadas em pacientes com quadro de doenças crônicas, cuidados paliativos ou onde a medicina convencional não apresentou sucesso e agravou efeitos colaterais. O que na verdade não é o mais indicado. O ideal seria ter os recursos da medicina natural no início dos primeiros sinais clínicos e utilizar as medicações convencionais nos casos mais graves onde não encontramos o resultado desejado. Dessa forma minimizaríamos muito os efeitos adversos e sobrecarga do organismo.
Neste sentido é importante destacar que tratamento convencional e o natural não só podem como devem caminhar juntos, um não exclui o outro.
Pet Med – Quais são as terapêuticas integrativas mais usadas no dia a dia da Medicina Veterinária?
Ana Beatriz Hassan – Na minha prática clínica observo uma grande demanda pela Acupuntura, Homeopatia e Nutrição natural. Mais recentemente um avanço muito grande nas terapias com Cannabis medicinal.
A acupuntura é uma medicina e por isso trata dos diversos sistemas do nosso corpo. Destaco a busca pela acupuntura para os casos de alterações ortopédicas e neurológicas, como lesão em coluna, artrose, displasia coxofemoral, disfunção cognitiva e convulsões, mas essa terapêutica pode ser utilizada para qualquer patologia. Vejo uma procura grande também da Acupuntura para doenças do trato digestivo e cuidados paliativos em pacientes oncológicos.
A Homeopatia é um sistema médico também e que pode auxiliar em diversas patologias. Aqui, observo uma grande busca devido a doenças urinárias, do trato digestivo, alergias de pele, alterações respiratórias, distúrbios comportamentais e, mais recentemente, a parte de Oncologia com Viscum álbum.
Na nutrição há tanto uma abordagem preventiva com uso de alimentação natural para cães saudáveis, como um apoio a tratamento de patologias digestivas, dietas de exclusão para alergia alimentar, auxílio na dissolução e prevenção de cálculos urinários, dietas para pacientes Oncológicos. A alimentação natural melhora muita a saúde geral do organismo e de sua microbiota intestinal.
Pet Med – Agora, vamos falar especificamente sobre o tratamento fitoterápico. O que podemos entender por fitoterapia?
Ana Beatriz Hassan – A fitoterapia utiliza os medicamentos cujos constituintes ativos são plantas ou derivados vegetais, o que é diferente de Homeopatia, que trabalha não só com plantas, mas elementos do reino mineral e animal, porém em formas ultra diluídas e dinamizadas.
Pet Med – Em que casos essa forma de tratamento é indicada?
Ana Beatriz Hassan – Assim como nas outras terapêuticas entra de forma complementar na forma de extratos e chás. Por exemplo, chá ou extrato de quebra pedra na dissolução de cálculos urinários. Espinheira Santa em distúrbios digestivos e gastrite. Cabelo de milho como auxiliar nas cistites.
Pet Med – E quanto às contraindicações do tratamento fitoterápico para cães e gatos? Existe algum tipo de restrição?
Ana Beatriz Hassan – O tratamento com fitoterapia precisa ser feito com critério respeitando tempo e dosagem, além de particularidades de cada espécie. Gatos por exemplo, são mais sensíveis que os cães. Isso se deve as formas diferentes de metabolizam dos compostos presentes na planta. Nem tudo que é natural é isento de efeitos colaterais, por isso precisa ser muito bem conduzido por um Médico Veterinário que seja especialista em fitoterapia.
Pet Med – Por fim, nos conte como a fitoterapia pode ajudar na prevenção de doenças em cães e gatos.
Ana Beatriz Hassan – Por exemplo, chá ou extrato de Quebra Pedra são boas opções para a dissolução de cálculos urinários. Espinheira Santa para tratar distúrbios digestivos e gastrite, enquanto Cabelo de Milho atua como auxiliar na cistites – em todos os casos, sempre respeitando dose, tolerância de cada espécie/ indivíduo, e tempo de uso.
E também sempre que necessário, podemos associar ao tratamento da medicina convencional.
Viagem com pet? 🚗🐶🐱 Entrevista com especialistas: dicas, leis e cuidados para levar seu amigo de quatro patas na estrada com tranquilidade!
Por Pauline Machado
O mês de maio traz ao longo dos seus dias várias campanhas de conscientização, dentre elas a Campanha Maio Amarelo que trata das ações preventivas visando a segurança no trânsito.
Viagem com seu pet: Saiba como garantir a segurança e o conforto do seu amigo de quatro patas com dicas da advogada Mércia Gomes e da veterinária Monica Milietti.
Neste contexto conversamos com a advogada Mércia Gomes, especialista em Trânsito e Observadora Certificada e Conselheira do Cetran – Conselho Estadual de Trânsito, sobre o que diz a legislação a respeito do transporte de cães e gatos no carro.
Em paralelo ouvimos a opinião da Médica Veterinária Monica Marchioro Milietti, portadora do CRMV/PR: 7290, que nos deu um checklist para sair de carro com seu pet em segurança.
Acompanhe as entrevistas. Estão imperdíveis!
Pet Med – O que é a Campanha Maio Amarelo?
Mércia Gomes – O Maio Amarelo é uma campanha internacional de conscientização para a redução de acidentes de trânsito. Ela foi criada em 2014 pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortes e feridos no trânsito em todo o mundo.
No Brasil, em sua 10ª edição, a campanha, criada pelo Observatório Nacional de Segurança Viária, tem como objetivo sensibilizar a sociedade para a importância da adoção de comportamentos mais seguros no trânsito.
O mês de maio foi escolhido para a campanha porque coincide com datas importantes relacionadas à segurança no trânsito, como o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, celebrado em 20 de maio.
Durante o Maio Amarelo, diversas ações são realizadas em todo o mundo, envolvendo governos, empresas, escolas, organizações da sociedade civil e a população em geral. Essas ações incluem palestras, campanhas educativas, blitzes educativas, distribuição de materiais informativos, entre outras atividades, todas com o objetivo de promover a conscientização sobre a importância de um trânsito mais seguro e reduzir o número de acidentes, lesões e mortes nas vias. O símbolo da campanha é um laço amarelo, que representa a vida e a atenção necessária no trânsito.
Em resumo, a Campanha busca sensibilizar as pessoas para adotarem comportamentos mais seguros no trânsito, como respeitar os limites de velocidade, usar o cinto de segurança, não dirigir sob o efeito de álcool ou outras drogas, respeitar a sinalização, entre outras atitudes que contribuem para a prevenção de acidentes.
Pet Med – Qual é a importância da Campanha Maio Amarelo no contexto dos cuidados com o transporte de cães e gatos?
Mércia Gomes – Essa campanha tem por objetivo alertar os tutores sobre a necessidade de transportar os pets adequadamente para garantir a segurança deles. Esse cuidado também evita que o animal desvie a atenção do motorista, o que poderia provocar acidentes.
A Campanha desempenha um papel significativo no contexto dos cuidados com o transporte de cães e gatos, principalmente porque visa promover a segurança no trânsito para todos os usuários das vias, incluindo animais de estimação.
A importância pode ser destacada em alguns pontos-chave:
Sensibilização dos tutores: A campanha ajuda a conscientizar os tutores de animais de estimação sobre a importância de transportar seus pets de forma segura durante viagens de carro. Isso pode incluir o uso de dispositivos de segurança específicos para animais, como cintos de segurança para pets, caixas de transporte adequadas ou grades de separação no veículo.
Redução de acidentes: Transportar animais de estimação de forma inadequada no carro pode representar um risco tanto para os próprios animais quanto para os ocupantes do veículo. Eles podem se tornar distrações para o motorista ou, em caso de acidente, sofrer ferimentos graves. A conscientização promovida pelo Maio Amarelo pode ajudar a reduzir esses riscos, incentivando práticas seguras de transporte de animais.
Respeito à legislação: Em muitos lugares, existe legislação específica que regula o transporte de animais de estimação em veículos. A campanha Maio Amarelo pode ajudar a aumentar a conscientização sobre essas leis e incentivar os proprietários a cumpri-las, garantindo assim a segurança de todos os ocupantes do veículo.
Promoção de comportamentos responsáveis: Além do transporte seguro de animais de estimação, a campanha Maio Amarelo pode promover comportamentos responsáveis entre os motoristas, como evitar dirigir sob a influência de álcool ou outras substâncias, respeitar os limites de velocidade e manter a atenção na direção.
Pet Med – E o que diz a legislação sobre o transporte de animais no carro?
Mércia Gomes – As leis e regulamentos específicos sobre o transporte de animais no carro podem variar de acordo com o país, estado ou jurisdição. No entanto, em muitos lugares, existem diretrizes gerais que os motoristas devem seguir para garantir a segurança de seus animais de estimação e dos ocupantes do veículo. Aqui estão algumas práticas comuns e recomendações que podem estar presentes na legislação ou serem amplamente recomendadas:
Utilização de dispositivos de segurança: Em alguns lugares, é exigido por lei o uso de dispositivos de segurança específicos para animais, como cintos de segurança para pets, caixas de transporte ou grades de separação no veículo. Esses dispositivos são projetados para manter os animais seguros e contidos durante a viagem, reduzindo o risco de lesões em caso de acidente ou parada brusca.
Proibição de transporte em áreas inadequadas: É comum que a legislação proíba o transporte de animais soltos no veículo, como no colo do motorista, no banco da frente sem um dispositivo de segurança adequado ou na caçamba de uma caminhonete sem proteção. Essas práticas podem representar um perigo tanto para os animais quanto para os ocupantes do veículo em caso de colisão ou frenagem brusca.
Atenção à distração do motorista: Além das preocupações com a segurança dos animais, muitas leis de trânsito também abordam o risco de distração do motorista causada por animais soltos no veículo. Isso pode ser considerado uma violação das leis de direção distraída e sujeito a penalidades.
Proteção contra ferimentos: As leis podem exigir que os animais sejam transportados de maneira que não representem um risco de ferimentos para si mesmos ou para os ocupantes do veículo em caso de acidente. Isso pode incluir o uso de dispositivos de contenção, como cintos de segurança para pets ou caixas de transporte, para evitar que os animais sejam arremessados dentro do veículo em caso de colisão.
Pet Med – Quais são as penalidades para quem comete infrações relacionadas ao transporte de animais?
Mércia Gomes – A legislação determina também que o transporte de animais não pode ser feito na parte externa do veículo, no teto ou no capô, por exemplo, conforme estabelece o artigo 235 do CTB. Trata-se de uma infração grave e o motorista autuado recebe cinco pontos na habilitação e multa no valor e R$ 195,23.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê em três artigos (169 235 e 252- inciso II) as regras para transporte de animais em veículos.
Segundo o artigo 169 do CTB, o motorista que conduzir animal solto dentro do veículo, ou de alguma forma que possibilite distração, comete infração leve, no valor de R$88,38, além de três pontos no prontuário de habilitação.
Levar os animais à esquerda do motorista, perto do vidro, no colo, ou entre seus braços ou pernas é uma infração média, com quatro pontos na CNH e multa no valor de R$ 130,16 segundo o artigo 252 do CTB.
Pet Med – Neste sentido, quais são as infrações mais comuns cometidas pelos condutores?
Mércia Gomes – Primeiramente vale reforçar que não é permitido o transporte de animais em motocicletas, mesmo que estejam em caixas específicas para este fim. Além disso, as infrações mais comuns são:
Transporte sem dispositivos de segurança adequados: Muitos condutores transportam animais soltos no veículo, sem usar dispositivos de segurança específicos, como cintos de segurança para pets, caixas de transporte ou grades de separação. Isso pode representar um risco para o animal e para os ocupantes do veículo em caso de acidente ou parada brusca.
Transporte no colo do motorista: Alguns condutores permitem que seus animais de estimação viajem no colo enquanto dirigem, o que pode ser extremamente perigoso. Além de ser uma distração para o motorista, essa prática pode impedir que o condutor tenha controle total do veículo em caso de emergência.
Transporte no banco da frente sem dispositivos de segurança: Colocar um animal solto no banco da frente do carro, sem usar dispositivos de segurança adequados, pode representar um risco significativo, especialmente se o airbag estiver ativado. Em caso de acidente, o airbag pode causar lesões graves ao animal.
Transporte em caçamba de caminhonetes sem proteção: Em algumas áreas, é comum ver animais sendo transportados na caçamba de caminhonetes sem qualquer tipo de proteção. Isso pode ser extremamente perigoso, pois os animais podem ser arremessada para fora do veículo em caso de colisão ou freada brusca.
Deixar o animal sozinho no veículo: Deixar um animal sozinho dentro de um veículo, especialmente em dias quentes, pode representar um risco de superaquecimento e desidratação. Em muitas jurisdições, isso é considerado uma forma de crueldade animal e pode resultar em multas ou outras penalidades.
Em suma, entendo que a conscientização e educação de trânsito, são essenciais, além de lembrar que o animal é como criança, ou seja, quem transporta deve ter o mesmo cuidado, pois é uma vida que está no veículo.
Além disso, pense em seu pet e na sua viagem com leveza, onde possa conduzir o veículo em segurança para ambos, lembrando-se dos documentos obrigatórios para condutor e do pet, e, também, que a paz no trânsito começa por você.
Para finalizar, a Médica Veterinária Monica Marchioro Milietti, reforça as orientações acima, deixando um checklist para os familiares que pensam em sair de carro com seu pet, seja para consulta com o Médico Veterinário ou para uma viagem com trajeto mais longo.
Monica Milietti – Para um passeio de carro, seja ele curto ou longo, o pet deve ir dentro do veículo usando cinto de segurança acoplado a cadeirinhas próprias para pets ou dentro de caixas de transporte, também, apropriadas para cães e gatos, no tamanho que possibilite o animal a sentar e a se movimentar normalmente.
Em ambos os casos, os pets já devem estar acostumados a usar tais transportes. Para tanto, deixe esses assessórios à disposição dos pets no dia a dia deles, em casa. Assim, quando precisar usá-los no carro, eles não os verão como “um bicho de sete cabeças”, o que ajudará muito ao seu amigão se sentir mais calmo e seguro durante o trajeto.
Outro ponto crucial, no caso de viagens, é se informar previamente com o hotel, ou outro local que ficarão hospedados, se aceitam a presença de cães ou gatos, a fim de evitar surpresas desagradáveis para todos os envolvidos.
Depois, é importante que os familiares levem o pet para uma consulta com Médico Veterinário a fim de colocar o protocolo vacinal em dia, incluindo a vacina contra raiva, que é obrigatória e quando não apresentada nas fiscalizações rodoviárias, pode gerar multas.
A ida ao médico veterinário é importante não apenas para ver se está tudo bem com a saúde dele, mas, também, para obter informações sobre o que fazer nos casos de o animal enjoar, descompensar, ou sofra qualquer imprevisto durante o percurso no carro.
Estando tudo certo e o seu amigão apto para viajar, os seus familiares devem, então, arrumar a bagagem do animal, não esquecendo de colocar na bolsa, ração seca ou úmida, sempre de acordo com a preferência dele. Lembre-se de levar os potes de água e comida, assim como tapete higiênico, toalhas, caminhas, brinquedinhos, entre outros itens que sejam importantes para deixar seu amigão mais confortável.
Vale reforçar que nunca se deve transportar os pets, seja cão ou gato, por mais dócil que seja, soltos no veículo, muito menos com o vidro da janela muito aberto, a fim de evitar qualquer tipo de imprevisto ou acidente do animal fugir, por exemplo.
Mesmo dentro da caixa de transporte ou da cadeirinha, cães e gatos devem permanecer com peitoral e guia durante todo o tempo em que estiver dentro do carro.
Para os doguinhos de porte grande, é recomendado o uso da grade de segurança, que é colocada entre os bancos traseiro e dianteiro, impedindo o animal de interagir e distrair o motorista.
Alimente seu amigo pelo menos uma hora antes de sair de carro, mas, nunca em grandes quantidades para reduzir as possibilidades de enjoos e vômitos. Assim como a ingestão de água.
O ideal é que se o percurso for longo, façam paradas para que os cães possam fazer xixi e cocô, além de esticarem as patas. Não esqueça de levar sacos de lixos para recolher as fezes do animal. Leve também um pote com água e um recipiente com desinfetante para jogar no local onde seu amigão fizer xixi.
No caso dos gatos, não é recomendado tirá-los da caixa de transporte, pois, são animais muito mais estressados, amedrontados e qualquer barulho da estrada poderá deixa-los em pânico e os familiares podem não conseguir conte-lo, resultando na perda do animal.
Para eles a recomendação é forrar a caixa de transporte com tapete higiênico e monitorar regularmente se está tudo bem com ele. Se possível ir um familiar no banco de trás ao lado dele.
Por fim, evite falas em voz alta e música com volume elevado. Mantenha a atenção se o pet está no sol, se está muito calor ou frio – devido ao uso de ar condicionado no interior do veículo, e se por ventura está vomitando.
Ao chegar no destino, ofereça comida e água e deixe sua caminha à disposição para que ele possa relaxar. É importante respeitar o tempo do animal para sair do estado de estresse devido à viagem, antes de sair com ele para passear. Assim como não recomendado deixa-lo sozinho logo que chegar no hotel, pois, ele pode entender como abandono. O ideal é chegar, esperar um pouco e depois saírem todos juntos, incluindo o seu amigão. No caso dos gatos, deixe-o no hotel com muitos brinquedos, petiscos, água, sachê e uma caminha bem aconchegante.
Abril é o mês da Campanha Abril Verde, que tem como objetivo chamar atenção para as ações voltadas à prevenção de acidentes e de doenças no ambiente de trabalho.
Mas, de que modo o Movimento Abril Verde é importante no dia a dia dos Médicos Veterinários?
Para responder essa e outras dúvidas, recebemos com muito carinho a Médica Veterinária, Claudia Binder Servaes, portadora do CRMV/SC: 3781, vice-presidente da Associação Brasileira de Gestão Técnica em Medicina Veterinária – ABGTvet, e sócia da Biomonitor: mapeamento e monitoramento de processos em estabelecimentos veterinários.
Acompanhe!
Pet Med – De que modo o Movimento Abril Verde é importante para a rotina dos Médicos Veterinários?
Claudia Binder – Falar e prevenir acidentes é cuidar de pessoas. O Movimento Abril Verde é uma excelente oportunidade para sensibilizar nossa classe sobre formas de garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável.
Todos já vivenciamos na nossa rotina incidentes ou quase acidentes, muitas vezes sem danos, outras com danos materiais, ou com dano leves do(s) envolvidos, danos mais graves e afastamentos ou mesmo fatalidades. Estes últimos raríssimas vezes são eventos surpresa. Em geral, anteriormente, houve uma série de “avisos ou alertas sem danos ou com danos menores”, que foram ignorados ou normalizados.
O Anuário estatístico de acidentes do trabalho (AEAT) do período de 2019 a 2021 no Brasil informou que foram notificados cerca de 150 acidentes/ano para o CNAE 7500, relacionado às atividades veterinárias. Estimando que dos 150.000 veterinários registrados no Conselho Federal de Medicina Veterinária, pelo menos 50% são atuantes na área clínica/cirúrgica/diagnóstica, logo, estamos falando de aproximadamente 150 acidentes notificados numa comunidade de aproximadamente 75.000 veterinários.
De acordo com esta estimativa, por volta de 0,2% dos profissionais médicos veterinários sofrem acidentes a cada ano durante as atividades ou no trajeto (entre 15 a 20% são acidentes de trajeto), o que nos leva a refletir sobre se este percentual é representativo da realidade que vivemos.
Comparando estes dados com dados internacionais, percebemos que a realidade é diversa. Um estudo feito na Alemanha evidenciou pelo menos 36 acidentes com médicos veterinários a cada 1000 trabalhadores (3,6%), anualmente. Estudos no Canadá e na Austrália, baseados em relatos/entrevistas de acidentes evidenciam que entre 15 a 30% dos médicos veterinários estiveram envolvidos em incidentes ou acidentes durante o trabalho ao longo dos últimos 12 meses. Se compararmos o percentual relatado aos dados notificados no Brasil, obtemos um valor 100 vezes inferior, o que nos leva a pensar: existe subnotificação no Brasil? Qual seria o motivo e as consequências disso?
Pet Med – Quais são os maiores riscos que os Veterinários estão expostos em sua rotina?
Claudia Binder – Os riscos ocupacionais variam dependendo do tipo de trabalho e dos atendimentos realizados.
Em serviços veterinários, os riscos estão relacionados predominantemente à:
● lesões causadas por animais durante a contenção física
● lesões perfurocortantes durante o manejo
● lesões musculoesqueléticas
● lesões causadas pela prática de necrópsia
● infecções causadas por agentes de zoonoses
● lesões causadas por produtos químicos
● lesões causadas pela utilização inadequada de equipamentos
● lesões causadas por ruídos excessivos
Riscos adicionais, menos frequentes, são por exemplo, radiação ionizante (RX), ou mesmo situações de stress de causas diversas.
Pet Med –Pensando na segurança no trabalho, quais são os maiores cuidados que os Médicos Veterinários devem ter no dia a dia?
Claudia Binder – Os maiores cuidados que médicos veterinários devem ter estão relacionados aos cuidados de vacinação, pré-exposição, higiene pessoal, vestuário adequado, higiene de mãos e uso de EPIs.
A higiene das superfícies complementa estas ações. O manejo dos animais deve se basear na experiência e em boas práticas de contenção.
Ao utilizar perfurocortantes, estes devem ser descartados adequadamente e nunca reencapar agulhas ou colocar as tampas na boca. Além disso, as caixas de perfurocortantes não devem ser esvaziadas para serem reutilizadas.
Medicamentos quimioterápicos devem ser manipulados em capela, de acordo com a regulamentação aplicável.
Em caso de acidentes com ferimentos deve-se sempre lavar a lesão imediatamente. Se for causado por animal, sempre avaliar o histórico vacinal de raiva do animal, e acompanhar sua saúde nos próximos 10 dias.
Pet Med – Neste cenário, por favor, nos explique o que é Responsabilidade Técnica (RT) e sua importância na Medicina Veterinária.
Claudia Binder – A Responsabilidade Técnica na medicina veterinária é exercida pelo Responsável Técnico (RT), profissional Médico-Veterinário habilitado, que responde técnica, ética e legalmente (administrativa, civil e penalmente) pelos seus atos profissionais e pelas atividades desenvolvidas. É quem garante, perante o tomador de serviços, a qualidade dos produtos e serviços prestados ao consumidor.
Pet Med – Podemos entender, então, que a Responsabilidade Técnica na Medicina Veterinária vai ao encontro do Movimento Abril Verde? Por quais motivos?
Claudia Binder – Sim, a Responsabilidade Técnica na Medicina Veterinária está definitivamente alinhada com os objetivos do Movimento Abril Verde por várias razões:
● Garantia da segurança e bem-estar dos profissionais
● Promoção de boas práticas de funcionamento para Biossegurança
● Ênfase na formação e treinamento
● Identificação e prevenção de riscos ocupacionais
Em resumo, a Responsabilidade Técnica na Medicina Veterinária pode contribuir significativamente para promover a segurança e saúde ocupacional dos profissionais veterinários, o que está em sintonia com os objetivos do Movimento Abril Verde de conscientização e prevenção de acidentes de trabalho.
Pet Med –Como as normas de RT devem ser aplicadas na prática na rotina dos Médicos Veterinários?
Claudia Binder – As normas de Responsabilidade Técnica (RT) devem ser aplicadas na prática diária dos Médicos Veterinários para garantir a segurança, eficácia e conformidade da prestação dos serviços veterinários. Aqui estão algumas maneiras de aplicar as normas de RT na rotina dos Médicos Veterinários:
● Supervisão das atividades
● Garantia de padrões éticos e técnicos
● Treinamento e supervisão da equipe
● Implementação de medidas de segurança e Manutenção de registros adequados
Em resumo, as normas de Responsabilidade Técnica devem ser aplicadas na prática diária dos Médicos Veterinários para garantir a qualidade, segurança e conformidade dos serviços veterinários prestados em suas instalações. Isso é essencial para garantir o bem-estar dos animais e a segurança dos profissionais envolvidos na prestação de cuidados veterinários.
Pet Med – Como e por quem é feita a fiscalização sobre a aplicação correta das normas estabelecidas?
Claudia Binder – A fiscalização sobre a aplicação correta das normas estabelecidas ocorre primariamente através do Responsável Técnico (RT). É ele quem detém a responsabilidade final pela garantia de que os processos sejam seguidos adequadamente e que as instalações estejam em conformidade com as normas estabelecidas. O monitoramento pode ser realizado tanto pelo próprio RT quanto por órgãos reguladores e autoridades competentes, que têm o papel de assegurar que as normas sejam cumpridas e que medidas corretivas sejam tomadas quando necessário. Essa abordagem é fundamental para garantir a aplicação correta das normas e a segurança dos profissionais e do ambiente de trabalho.
Pet Med – Pensando nos objetivos do Movimento Abril Verde, o que podemos esperar de benefícios e tendências para a Medicina Veterinária?
Claudia Binder – O Movimento Abril Verde visa conscientizar sobre saúde e segurança no trabalho, o que também pode beneficiar a Medicina Veterinária, destacando riscos ocupacionais, melhorando condições de trabalho, enfatizando saúde mental, desenvolvendo políticas de saúde ocupacional e impulsionando inovação e tecnologia para reduzir riscos.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Claudia Binder – Desde 2021, todas as empresas estão obrigadas a elaborar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que substituiu o antigo Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) conforme as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Com essa mudança, a responsabilidade do empresário se tornou mais proativa, exigindo que a empresa se envolva na realização do inventário de riscos e na aplicação de medidas de controle efetivas. Não há mais espaço para aceitar passivamente programas que não se adequam à realidade do local. Atualizações do PGR são necessárias, especialmente após acidentes.
Essa mudança de paradigma transforma o PGR de documento estático arquivado em uma gaveta para um instrumento dinâmico e vital para a segurança e saúde ocupacional dos trabalhadores. A atualização constante do PGR permite uma resposta rápida e eficaz às novas situações de risco, promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e buscando o envolvimento ativo da equipe.
Com a participação no RT neste processo, o documento passa a ser a base para todo o trabalho do RT em relação à segurança ocupacional dos colaboradores no estabelecimento.