Inúmeros estudos já comprovam os benefícios do convívio com os animais para a saúde e qualidade de vida das pessoas. No entanto, e o caminho inverso? Quais serão os benefícios do convívio com as crianças, por exemplo, para os cães e os gatos?
Para conversar conosco sobre essa questão, convidamos a Médica Veterinária, Cláudia Peterson, que também é psicóloga, ambientalista e etóloga, formada pela Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.
Recentemente Claudia lançou o livro As patas que forjaram o meu caminho: os animais mudaram minha vida. Até onde podem mudar a sua?
A obra é um relato pessoal sobre respeito e empatia na convivência entre humanos e animais – tema a qual se dedica ao longo da sua trajetória.
Mais uma entrevista imperdível, acompanhe!
Pet Med –Para começarmos, há quanto tempo os cães e gatos passaram a ser vistos como companheiros das pessoas e não mais somente para fazer a guarda da casa ou para caçar os ratos? Mas, para os animais, este convívio com os humanos é benéfico?
Cláudia Peterson – Há cerca de 30mil anos homens e lobos descobriram uma relação de auxílio mútuo, onde lobos menos ferozes e ariscos se aproximaram de caçadores a fim de obterem restos de suas caçadas. Estes, por sua vez, perceberam a utilidade e importância desses animais para proteção de seus grupos sociais, destravando assim a barreira entre as espécies. Essa tese está embasada em várias pesquisas e em achados arqueológicos facilmente encontrados na mídia.
Com o passar dos tempos, esses caçadores humanos nômades à época, tornaram-se agricultores e pastores, fincando raízes na terra em que viviam.
Efetuada a transição por parte dos humanos, estes começaram a selecionar animais menos agressivos e com maior capacidade de interação com os humanos para o auxílio no trabalho. Desde então, os canídeos foram, paulatinamente, sendo introduzidos e selecionados para as várias necessidades humanas.
Atualmente, temos cerca de 400 raças de cães, a maioria delas resultado de cruzamentos efetuados por humanos buscando preencher necessidades específicas de um segmento.
Quanto ao gato, sua “domesticação” seguiu-se a do lobo. Ocorreu cerca de 3 a 5 mil anos depois, quando os homens deixando de ser nômades, criaram núcleos familiares sedentários.
Ao se tornarem agricultores, começaram a acumular grãos e cereais, fato que trouxe consigo roedores. Consequência natural que felinos se aproximassem também. Assim ocorreu e os gatos passaram, gradativamente, a exercer a função de caça aos ratos para os humanos e alimentação para si próprios.
Este convívio com animais pode trazer inúmeros benefícios tanto às crianças como aos adultos e idosos, desde companhia para brincadeiras infantis, acalento para momentos difíceis, até reflexões sobre frustrações e a morte.
No entanto, deve-se pesquisar sobre as raças, verificar compatibilidades entre estilos e prováveis personalidades. Caso contrário, correrá o risco de ter um “destruidor de almofadas” enquanto assiste TV ou “puxar um tijolo” ao tentar andar de bicicleta com seu cão.
Entrando na seara da pergunta, acredito que comportamentos adquiridos permaneçam até que alguma grande revolução interna ou externa ocorra a fim de modificá-los.
De acordo com a raça, porte ou comportamento do cão tendo como contraponto a percepção quanto à espécime e antropocentrismo vigentes por parte do humano que o possua, esses animais não humanos vêm sendo utilizados como de “hábito”, alguns para guarda, outros para trabalhos variados como pastoreio e outros ainda como “chaveirinhos” ou “petinhos”, conforme explicado abaixo.
Pessoalmente, gostaria que – conforme melhor colocado em meu livro – aos animais fosse fornecido o direito natural de ser e existir como são, de poderem ser educados, contudo, demonstrar sua personalidade, conviverem com os de sua espécie e, principalmente, serem tratados e atuarem de acordo com sua essência animal.
No entanto, bem poucos humanos possuem essa percepção e, ao invés disso, a mídia vigente por motivos variados, utiliza a emoção, os sentimentos dos seres humanos contra eles próprios, tratando de acentuar e referendar comportamentos como os de transformar seres sencientes, com vida própria em “chaveirinhos”, “petinhos” ou “monstros- feras”, frutos da desinformação humana ou pior, de informações equivocadas quanto às suas reais necessidades físicas e psicológicas.
Pet Med –E no caminho inverso: quando o convívio com os humanos passa a ser nocivo para os cães e gatos?
Cláudia Peterson – o convívio torna-se nocivo, caso a compreensão a respeito do modo como se tratar a espécie animal não humana em questão não seja devidamente conhecida e considerada.
Ao se humanizar, tratar com desrespeito, ou seja, esquecer necessidades básicas da espécie, ou crueldade a qualquer um deles.
Quanto aos gatos, uma visão mais tranquila e positiva, após a caça às bruxas.
Como diz o ditado, esses são os mais domésticos entre os selvagens e os mais selvagens entre os domésticos. Sendo assim, mantém suas características fundamentais quanto à sobrevivência e personalidade apesar das diferenças e modismos temporais.
Por isso, levando em consideração o Dia Mundial dos Animais e o Dia das Crianças, em ambas as datas há de se pensar muito antes de presentear uma criança com um animal. Não se deve pensar apenas na diversão do hoje para a criança, mas que estará levando para casa um ser vivente, senciente, passível de ser acometido por doenças de ordem física e emocionais, além de problemas psicológicos graves acarretados pela convivência com os humanos. Sim. Isso ocorre!
Pet Med – Qual é o papel da família para que essa relação – cães e gatos e crianças seja amigável e saudável para todas as espécies envolvidas?
Cláudia Peterson – Depende. Se desejarem vários cães e gatos é fundamental que tenham orientações e informações prévias sobre raças e personalidades compatíveis, caso contrário será um grande perigo.
No mais, informação! Informar-se o melhor possível sobre o cão, a raça, a espécie, o ser vivo que está pensando em levar para sua casa, para conviver na família por, no mínimo 8 a 10 anos. A inclusão de um animal na família não deve ser uma decisão ao acaso como quem troca de roupa ou escolhe onde passará as férias – inclusive por que terá outro “ser” na casa. Pense, por exemplo, que um papagaio vive cerca de 80 anos!
Pet Med –E quanto aos cuidados no dia a dia, quais devem ser colocados em prática no dia a dia para que cães, gatos e as crianças da casa vivam em harmonia?
Cláudia Peterson – Para o dia a dia cuidados básicos podem ser indicados pelo Médico Veterinário que, evidentemente, deverá ser procurado assim que o animal for para casa. Mas, cães precisam de exercícios, disciplina, enriquecimento ambiental, alimentação controlada e amor – eu não disse mimo.
Os gatos precisam fundamentalmente de exercícios, alimentação livre, água de preferência em movimento, enriquecimento ambiental, locais altos para poder “supervisionar” os ambientes e amor.
Para ambas as espécies, recomendo que possuam coleira permanente de identificação, escovação três vezes por semana e o menor número de banhos possível!
Pet Med –Crianças e animais geralmente têm bastante energia. Quais seriam as recomendações ou sugestões para que juntos possam gastar energia e criar elos e vínculos de amizade?
Cláudia Peterson – Crianças e animais, caso possuam personalidades compatíveis não necessitam de ajuda para interagirem. Certamente se entenderão e criarão elos indestrutíveis! Mas, para um melhor entrosamento, vínculo entre ambos e amadurecimento emocional da criança, é recomendável dar à criança a responsabilidade de cuidar da alimentação, escovação, passeio ou qualquer outra atividade diária ligada ao animal.
Pet Med –Que frutos colhem as crianças que convivem e crescem com os animais e os animais que passam a vida em companhia das crianças?
Cláudia Peterson – De maneira geral todos saem ganhando um amigo!
Crianças que crescem acompanhadas por animais, “no mínimo”, terão no futuro, mais compaixão pelo próximo e, consequentemente, pelos animais.
“No máximo”, não há limites para o quanto se pode aprender com os animais não humanos “teleguiados”, sem livre arbítrio, e, portanto perfeitos em sua natureza.
Por sua vez, os animais nos enxergam como verdadeiros deuses, não medindo esforços para nos agradar e salvaguardar dos perigos – sejam eles quais forem, e o que pedem em troca? Nada! Nada além do necessário para sua e a nossa evolução: exercício, disciplina, alimentação adequada e AMOR!
Pet Med – Quais são suas orientações finais sobre a relação dos animais com as pessoas de modo geral?
Cláudia Peterson – Animais não humanos habitavam este planeta antes da nossa chegada. Foi dito que o nosso dever, por sermos mais inteligentes, seria o de cuidarmos deles.
Cuidar! E, cuidar não é o mesmo que escravizar ou matar. Cuidar implica em amar, alimentar, proteger e auxiliar em sua sobrevivência e evolução.
Na entrevista de hoje conversamos com exclusividade com a Médica Veterinária Comportamentalista e Doutora em Psicologia, Ceres Berger Faraco.
Autora de diversos livros e idealizadora do conceito de família multiespécies, a professora Ceres é, também, fundadora do Instituto de Saúde e Psicologia Animal – INSPA, que há 12 anos se dedica à educação em comportamento e bem-estar animal.
Nossa convidada falou a respeito do abandono de animais e sobre como o comportamento do cão ou do gato pode interferir na decisão na hora da adoção e, na quebra ou na consistência do vínculo dos membros da família com os animais.
Durante a entrevista, Ceres Faraco resasltou ainda a importância da oferta de informações de qualidade sobre comportamento animal, e também sobre as implicações para o animal e para as pessoas quando há falta de informações ou quando elas são ofertadas de maneira equivocada.
Uma entrevista muito importante. Acompanhe!
Pet Med – Para começar, por favor, nos explique o que podemos entender sobre comportamento animal, aqui pensando nos cães e nos gatos.
Ceres Berger Faraco – Comportamento dos cães e gatos, ou seja, o que eles fazem, deve ser considerado como uma resposta, um enfrentamento ao ambiente em que vivem. Se soma ao ambiente, a natureza das relações que têm com os tutores e as emoções que subjazem e estão relacionadas com o ambiente, pessoas e outros animais. Comportamento é o final de um processo de percepção e decisão sobre as situações que os cães e gatos vivem.
Pet Med –Neste aspecto, qual é a importância das pessoas terem informações gerais sobre o comportamento animal antes de adotar um cão ou um gato?
Ceres Berger Faraco – O conhecimento sobre o comportamento dos cães e gatos é fundamental para criar um ambiente adequado, interagir com eles de forma consistente, positiva e compreender o que eles estão comunicando para as pessoas de forma mais precisa. Também, entender a dinâmica e flutuações do comportamento como expressão dos sentimentos, respeitando os momentos de distanciamento, de aproximação e de descanso.
Pet Med –Quais são os riscos para a família e para os animais quando não há essa busca nem essa oferta de informações sobre o comportamento animal?
Ceres Berger Faraco – Há muitas informações disponíveis, mas é preciso que essas tenham qualidade. E, quando se fala em qualidade, quer dizer que sejam corretas e realmente retratem os comportamentos caninos e felinos.
A falta de informações e as que são equivocadas levam a impossibilidade de ajuste entre a família e os animais, suscitam a convivência negativa e consequente frustração para as pessoas e, alta probabilidade de situações aversivas para com os animais. Isso resulta em negligência, problemas de comportamento dos animais e potencial abandono.
Pet Med – Nos processos de adoção é comum ouvir negativas pela adoção por questões comportamentais dos animais, seja por ser medroso, latir muito, apresentar sinais de agressividade, ser desobediente ou até levado demais, dentre outros relatos. Diante disso, de que forma o comportamento animal pode interferir positivamente ou negativamente nos processos de adoção?
Ceres Berger Faraco – Na adoção há uma preferência, na maior parte das vezes, por incluir animais saudáveis, relativamente jovens, tranquilos, dóceis e que não representam alguma chance de problema no futuro. Além disso, são valorizados os que se relacionam bem com pessoas, outros animais e crianças. Portanto, os que demonstram ter esse perfil são os mais desejados e com maior facilidade de encontrar adotantes. Já os que se mostram medrosos, arredios, reativos e que evitam aproximações de pessoas são rejeitados. Há desconhecimento que muitos desses comportamentos são frutos da situação que o animal está vivendo.
Pet Med –Há, ainda, os casos dos animais que já fazem parte da família, mas, por questões comportamentais também correm o risco, quando não, são doados ou abandonados na rua. Diante disso, de que forma o comportamento animal também pode interferir positivamente ou negativamente no dia a dia das famílias multiespécies?
Ceres Berger Faraco – Os animais que têm boa sociabilidade e flexibilidade comportamental têm mais chances de estabelecer vínculos sólidos e permanentes com as famílias. Porém, aqueles com problemas de comportamento podem ter destinos diferentes, o abandono, a doação sem critério, a permanência nas casas sendo negligenciados, sofrerem maus tratos, enfim sempre desfechos negativos. Cabe destacar que, há problemas que não dependem dos animais apenas, algumas vezes, famílias disfuncionais são responsáveis pelos problemas e sua perpetuação, nesses casos a realocação é o melhor caminho.
Pet Med – No dia a dia, o que pode alterar o comportamento dos cães e dos gatos?
Ceres Berger Faraco – Alterações benéficas para o bem-estar de todos incluem oferecer ao animal suas necessidades básicas, como alimento, proteção, cuidados de saúde e interações adequadas para a espécie. É fundamental uma rotina que permita ao animal ter previsibilidade sobre o que vai ocorrer ao longo do dia e um controle sobre sua vida, seu ambiente e suas interações com outros animais e pessoas.
Pet Med –O que pode ser feito pelos familiares para que não haja oscilação no comportamento dos pets?
Ceres Berger Faraco – Fundamentalmente, que as atitudes sejam acordadas entre as pessoas e seguidas por todos os membros da família para não gerar confusões no animal, criar situações contraditórias provocando insegurança no animal por não saber qual o comportamento desejado naquele momento. Isto é, de certa forma comum, quando alguns permitem um comportamento e outros punem. Lembrando que rotina, exercícios físicos e desafios de aprendizagem são ferramentas para qualificar a vida dos pets.
Pet Med –Quais são as formas de diagnosticar que um cão ou gato está com problemas comportamentais?
Ceres Berger Faraco – Há problemas de diferentes natureza, aqueles que são evidentes como sinais de ansiedade e medo, eliminações inadequadas, vocalização excessiva, lambeduras compulsivas, automutilação, destruição, ameaça às pessoas e outros animais, ataques e mordeduras.
Também, podem estar ocorrendo problemas nos animais que sofrem em silêncio, roem unhas, não se alimentam, não urinam e defecam por longos períodos, ficam imóveis diante de pessoas ou outros animais como se estivessem “congelados” e em pânico. Estas são algumas das situações, mas há inúmeras que merecem ser avaliadas.
Pet Med –Por fim, uma vez identificado problema de comportamento, o que os familiares devem e podem fazer para que seus pets sejam saudáveis nos aspectos físicos, emocionais e comportamentais a fim de proporcionar a eles e a todos da família, uma melhor qualidade?
Ceres Berger Faraco – Sem sombra de duvida, buscar um profissional qualificado para analisar as motivações que levam o animal a apresentar tais comportamentos e estabelecer orientações e protocolos para o controle e a redução das situações que podem romper com o vínculo e ameaçar o bem-estar da família como um todo.
Por Pauline Machado Junho é o mês em que lembramos e comemoramos o Dia do Meio ambiente. A data foi estabelecida em 1972, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Dia Mundial do Meio Ambiente, que passou a ser comemorado todo dia 5 de junho. Fato é que, quando falamos ou pensamos na fauna ligada ao meio ambiente prontamente os animais selvagens e exóticos vêm à nossa mente, mas, e os cães e os gatos? Eles também fazem parte do meio ambiente? Qual é ou seria o papel dos cães e dos gatos no Meio Ambiente? Para nos explicar essas e outras questões relacionadas ao tema, convidamos o Biólogo e Médico Veterinário, Luiz Ricardo da Silva, especialista em Educação Ambiental e Clinica de Animais Selvagens. Acompanhe!
Pet Med –Para começar, por favor, nos explique qual é a origem dos cães e dos gatos.
Luiz Ricardo da Silva – Os cães têm a sua origem nos lobos, pensava-se que somente dos lobos cinzentos, mas hoje sabemos que tiveram outras populações de lobos envolvidas na origem dos cães. Quanto aos gatos domésticos eles têm uma origem possível em gatos do continente africano em especifico o Felis silvestris lybicaou gato da Líbia.
Pet Med –Como se deu o avanço de ambas as espécies até chegarem ao convívio com o homem nas cidades brasileiras?
Luiz Ricardo da Silva – Estes animais começaram a se aproximar do homem primitivo há milhares de anos, incialmente para se alimentar com as sobras, e aos poucos foram sendo domesticados principalmente o cão, pois ambos homem e cão, tinham muito a ganhar com essa proximidade. Agora pensando nestes animais em nossas cidades isso tem muita ligação com a colonização do Brasil, com a vinda dos europeus para as Américas. Eles trouxeram estes animais nas embarcações.
Pet Med –Em que momento identificou-se o descontrole quanto ao número de cães e gatos sem famílias que moram nas ruas? Por quais motivos isso aconteceu e perdura até hoje?
Luiz Ricardo da Silva – Há algumas décadas já havia a preocupação nos grandes centros da crescente população destes animais. Não havia controle por parte dos governos nem dos cidadãos. Poucas pessoas faziam a castração e esses animais de rua ou somente com acesso, se reproduziam muito. Hoje isso não é mais um problema somente dos grandes centros, mas até das pequenas cidades.
Pet Med – Neste cenário, qual é o papel dos cães e dos gatos para o meio ambiente? Por quê?
Luiz Ricardo da Silva – Cães e gatos de vida livre ou mesmo somente com acesso a rua são preocupantes quando pensamos na questão das doenças. Por causa do seu comportamento, estes animais acabam transmitindo ou adquirindo diversas doenças inclusive algumas zoonoses.
Pet Med – Diante disso, qual é o impacto da presença das duas espécies para o meio ambiente?
Luiz Ricardo da Silva – A presença destes animais no meio ambiente pode trazer muitos impactos. Eles podem por extinto matar animais silvestres, chegando inclusive a levar a extinção espécies nativas como já aconteceu em alguns momentos históricos. Cães e gatos podem se tornar ferais, formar colônias, por exemplo, e atacar além dos animais locais e humanos. Inclusive, tenho feito um trabalho na contenção de cães em uma reserva em São Paulo para evitarmos esse problema. Faço a contenção, transportamos e tentamos doar para que eles tenham uma vida melhor.
Pet Med –Neste cenário, o que pode ser feito para preservar tanto o meio ambiente quanto as espécies felina e canina?
Luiz Ricardo da Silva – A melhor solução são as campanhas de castração em massa, doação e a punição para quem abandona estes animais. A culpa não é deles e sim nossa. Devemos fazer de tudo para dar qualidade de vida para estes animais.
Pet Med – E quanto ao futuro? Quais são as perspectivas para que tenhamos um equilíbrio na relação entre os cães e gatos e o meio ambiente?
Luiz Ricardo da Silva – Acredito que em longo prazo iremos conseguir chegar próximo a um equilíbrio. Mas, é importante conscientizar as pessoas sobre a castração, e que estes animais não devem sair para passeios sem o acompanhamento do responsável, principalmente gatos. Isso evita que eles procriem , entrem em atrito com outros animais, entre outros problemas.
Por isso, reforçoser muito importante a divulgação de informações sobre o impacto dos animais domésticos no meio ambiente e o quanto isso pode ser danoso, além dos riscos que isso pode trazer para a saúde do animal domestico, dos silvestres, e, inclusive, a nossa através das zoonoses. Cães e gatos devem ficar em casa sendo bem cuidados, e sempre que possível, levem seus animais para consultas mesmo quando estiverem aparentemente saudáveis.
Terapia com animais para auxiliar no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA)
Por Pauline Machado
Sabemos o quanto o convívio com os animais faz bem para a saúde e o bem-estar dos humanos. Mas, os benefícios não param nesta relação do dia a dia.
As terapias com animais estão aí para comprovar o quanto os animais ajudam a melhorar a vida das pessoas, inclusive na terapêutica do Transtorno do Espectro Autista.
Para conversar conosco sobre esse tema, convidamos a Pedagoga, Letícia Pereira Marba Erran, que atua no Instituto TEA.
Letícia é psicomotricista, neuropsicopedagoga, pet terapeuta e equoterapeuta, aplicadora ABA (análise do comportamento aplicada) e pós-graduanda em Intervenção ABA para Autismo e Deficiência Intelectual.
Pet Med –O que podemos entender por Transtorno do Espectro do Autista (TEA)?
Letícia Pereira Marba Erran – Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento. Pessoas com TEA apresentam um desenvolvimento atípico e o espectro é muito abrangente, portanto, cada indivíduo é único e com características únicas.
Pet Med –Quais são os sintomas, as características de uma pessoa, seja criança, adulto ou idoso, com TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – Como dito anteriormente, pessoas dentro do espectro podem possuir características diferentes uma da outra, porém, as mais “comuns” são: dificuldades em habilidades sociais, dificuldades em comunicação, sistema sensorial com alterações, atrasos ou desenvolvimento motor atípico, ecolalias, estereotipias, rigidez cognitiva ou rigidez comportamental, entre outras.
Pet Med – Nesta mesma linha, o que podemos entender por Intervenção Assistida por Animais (IAA)?
Letícia Pereira Marba Erran – As Intervenções assistidas por animais se dividem em três diferentes abordagens: a TAA Terapia assistida por animais, ou pet terapia, é uma abordagem que utiliza os animais como co-terapeutas para auxiliar no desenvolvimento físico, cognitivo, social e emocional de pessoas com deficiência, contendo planejamento e atendimento individualizado; a Educação assistida por animais tem como principal alicerce também o uso dos animais como facilitadores no processo educacional dos indivíduos, é geralmente utilizada em ambientes escolares e é realizada em grupo; a Intervenção assistida por animais é também utilizada nos processos de reabilitação tanto em ambientes hospitalares quanto em ambientes clínicos e escolares mas não possui um planejamento individualizado ou mesmo pensado para o grupo específico, essa abordagem acaba tendo como maior foco o contato em si com os animais, sem demandas específicas.
Pet Med – Neste sentido, qual é a importância da aplicabilidade da Intervenção Assistida por Animais (IAA) para casos de TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – Mesmo sendo uma abordagem que surgiu no meio psicanalítico, está sendo possível e se mostrando cada vez mais evidente sua eficácia dentro da área comportamental. No ABA a TAA está sendo utilizada em sua essência, ou seja, com os animais como facilitadores. Muitos dos treinos dentro do ABA, por mais lúdicos que sejam, acabam ficando “cansativos” para um perfil de pacientes, sem falar na carga horária e rotina terapêutica que as nossas crianças precisam. Acrescentar uma hora ou mais por semana de TAA faz uma quebra nessa rotina clínica e muitas das vezes os pacientes nem ao menos percebem que aquele também é um momento terapêutico e que estão sendo feitos os treinos para as habilidades que eles precisam adquirir. Um dos pontos de maior ênfase da TAA no TEA é no que diz respeitos às habilidades sociais.
Um estudo conduzido na Universidade Estadual de Washington demonstrou que os cães podem chamar a atenção das crianças autistas. O estudo foi conduzido por François Martin e sua equipe, com a gravação em vídeo de três condições com as crianças: um terapeuta com uma bola, outro com um animal de pelúcia e o último com um cão. Foram 45 sessões em 15 semanas. As crianças olhavam o cão e conversavam com ele por maior período de tempo do que com as outras duas situações.
Pet Med – De que forma a IAA acontece na prática durante o tratamento?
Letícia Pereira Marba Erran – A prática vai variar conforme o ambiente, o paciente e a abordagem que o terapeuta optar por mais viável, levando em consideração todo o contexto. No meu caso, eu atuo diretamente com a TAA em ambiente clínico e dentro da Análise do comportamento aplicada, o ABA;
Pet Med – Em que casos a IAA é recomendada para o tratamento de TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – A TAA é muito abrangente e pode ser recomendada para diversos casos, a depender da formação do profissional e da avaliação realizada por ele. Por exemplo: eu, como psicomotricista, posso aplicar os treinos da psicomotricidade dentro da pet terapia. Os casos mais comuns de serem indicados para a TAA são: casos de medo, pacientes com alterações sensoriais (profissional deve tomar muito cuidado com esse quesito e atuar sempre em conjunto com a T.O), pacientes com seletividade alimentar, pacientes com dificuldade em habilidades sociais, pacientes que demonstrem pouca intenção comunicativa, mas que tenham interesse por animais, entre outros.
Pet Med – E, em que casos a IAA não é recomendada?
Letícia Pereira Marba Erran – Casos de fobia, onde o terapeuta perceba que a exposição não será saudável, alergias graves e não acompanhadas, problemas respiratórios que possam ser agravados com o contato com os animais e agressividade extrema.
Pet Med – Quais são os resultados esperados e os geralmente alcançados a partir da IAA no tratamento de TEA?
Letícia Pereira Marba Erran – Os resultados esperados são um maior envolvimento do paciente com a terapia, facilitação na criação de vínculo, desenvolvimento das habilidades necessárias de forma lúdica, melhora nas habilidades de interação e comunicação, melhora na autoestima, melhora nas habilidades de autocuidado e independência.
Pet Med – Por quais motivos esses resultados são alcançados, ou seja, como os animais podem ajudar na terapêutica do Transtorno do Espectro Autista (TEA)?
Letícia Pereira Marba Erran – O contato em si com os animais já causa liberações e regulações hormonais, como por exemplo, reduz os níveis de cortisol e aumenta os de dopamina. Atuar com reforçadores de alta magnitude e de forma lúdica, naturalística, transforma o ambiente de TAA rico em oportunidades de aprendizagem.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Letícia Pereira Marba Erran – Viso como importante atuar com multiespécies e não apenas o cão, que é mais comum no Brasil, pois se queremos trabalhar habilidades tão abrangentes e com algo que seja prazeroso para o paciente é imprescindível que esse paciente tenha oportunidade de escolha, até porque, nem sempre o paciente irá gostar do cachorro, talvez uma Barata de Madagascar seja mais eficaz neste caso.
Essa variação também é importante para o bem-estar do animal em si, visto que em momento algum é forçada a interação de forma que cause desconforto para o animal e quando o mesmo demonstrar não “estar afim” nós também o respeitamos. Para fazer o bem é preciso estar bem também, portanto a saúde e o bem-estar dos animais estão em primeiro lugar para um tratamento eficaz em TAA.
⠀⠀⠀Dia 20 de março, data que comemora-se internacionalmente o Dia da Felicidade, trouxemos aquela velha reflexão, mas de difícil ou fácil resposta: o que é a felicidade? O que nos faz felizes? ⠀⠀⠀Dentre as mais diversas respostas, eles sempre estão presentes: os animais e o convívio com eles. Para se ter uma ideia, um recente estudo realizado pela Associação Americana de Psiquiatria revelou que 86% dos tutores sentem que seus animais de estimação têm um impacto positivo em sua saúde mental e que cerca de 90% consideram o animal como um membro da família. ⠀⠀⠀Mas, por que será que o convívio com os animais traz felicidade para o dia a dia das pessoas? ⠀⠀⠀Para responder essa e outras questões sobre a relação da felicidade com o convívio com os animais, conversamos com exclusividade com a Mirian Nauck Dei Ricardi, Psicóloga com Formação em Terapia Sistêmica e Especialização em Gestão de Pessoas. ⠀⠀⠀Portadora do CRP 08/16853, Mirian é também palestrante, professora e facilitadora de treinamentos e desenvolve trabalhos voltados à Saúde Mental e Orientação Profissional desde 2014, em parceria com empresas, instituições de ensino e em seu consultório. ⠀⠀⠀Acompanhe!
⠀Pet Med – O que podemos entender por felicidade? ⠀⠀⠀Mirian Nauck Dei Ricardi – Gosto de dizer que a Felicidade pode ser entendida como uma “trajetória”, na qual valorizamos nossas conquistas, o que temos e o que somos. Considero arriscado atribuir à Felicidade “um fim em si”, por exemplo: “serei feliz quando eu tiver adquirido determinado carro”. É fato que alguns benefícios poderão vir com este novo bem, mas não estaremos isentos de incômodos, como problemas mecânicos ou gastos com manutenção em geral. ⠀⠀⠀O dicionário nos diz que Felicidade, entre outros significados, quer dizer “Sensação real de satisfação plena; bem-estar; estado de contentamento, de satisfação; júbilo. Condição da pessoa feliz, satisfeita, alegre, contente; alegria.” Fato é que o que nos torna felizes é diferente para cada um de nós. Se estivéssemos num grupo com cinco pessoas e lançássemos essa pergunta, cada um poderia responder diferentemente. ⠀⠀⠀As pessoas se sentem felizes quando fazem algo que apreciam, quando recebem e demonstram afeto, quando se reúnem com outras pessoas, quando dançam ao som de uma música que gostam, quando viajam e conhecem lugares, quando assistem a um filme que aborda conteúdos agradáveis para ela. ⠀⠀⠀Circunstâncias tristes todos teremos que enfrentar, o que é diferente de viver infeliz, daí a importância de olharmos com apreço ao nosso redor.
⠀Pet Med – Qual é a relevância em termos um dia específico para mundialmente celebrarmos a felicidade, como o dia 20 de março? ⠀⠀⠀Mirian Nauck Dei Ricardi – Acredito que é importante, pois nos convida a lançar um olhar para pensarmos e refletirmos sobre isso: felicidade. ⠀⠀⠀Atualmente, vários meses do ano recebem “cores diferentes” sobre determinado tema, o que acaba por promover ações de conscientização e cuidado. ⠀⠀⠀Sabe-se que, por exemplo, que no “Outubro Rosa” observa-se um aumento na procura pelos exames de mama, o que pode diagnosticar um câncer precocemente e, consequentemente, aumentará as chances de cura. ⠀⠀⠀Olhar para a “Felicidade” não é diferente, tem igual importância: é um convite para pararmos e pensarmos sobre o que nos faz bem, o que nos faz felizes, como temos nos sentido e como podemos nos sentir melhores.
⠀Pet Med – E a importância da felicidade no dia a dia das pessoas? ⠀⠀⠀Mirian Nauck Dei Ricardi – No dia a dia, a felicidade poderá tornar as pessoas mais acolhidas e compreensivas – consigo mesmas e com os demais ao seu redor – em relação às dificuldades que enfrentam. Um abraço, um sorriso, uma mensagem de apoio, podem tornar o dia de uma pessoa mais feliz e isso é possível de colocarmos em prática. ⠀⠀⠀Pessoas felizes tornam o ambiente mais leve e compreendem melhor as circunstâncias da vida, transmitindo isso a quem é do seu convívio.
Mirian Nauck Dei Ricardi, Psicóloga com Formação em Terapia Sistêmica e Especialização em Gestão de Pessoas.
⠀Pet Med – Embora seja muito abstrato pontuarmos o que faz as pessoas felizes, já é comprovado cientificamente que para grande parte das pessoas o convívio ou mesmo estar na presença dos animais, ainda que momentaneamente, deixa as pessoas mais felizes. Por quais motivos isso acontece? ⠀⠀⠀Mirian Nauck Dei Ricardi – Quando estamos em contato com pessoas que convivem com seus pets, eles são unânimes em dizer que seus animais de estimação lhe proporcionam companhia e, a partir daí, uma relação de afeto é construída. ⠀⠀⠀Já dizia a um trecho da música de Roberto Carlos “Meu cachorro me sorriu latindo”; não importa o seu humor, eles virão ao seu encontro, vão querer brincar, dar e receber atenção. ⠀⠀⠀É uma troca genuína, uma relação sem julgamento, que faz com que os animais se tornem parte integrante da família. As pessoas se sentem únicas quando estão com eles e isso faz com que elas se sintam felizes. ⠀⠀⠀Nos últimos anos, várias práticas terapêuticas passaram a inserir animais no tratamento de pacientes, o que inclui, por exemplo, desde visitas hospitalares a sessões de Equoterapia, cuidados esses que trazem resultados positivos na vida dos pacientes.
⠀Pet Med – No comparativo, quais são os diferenciais na vida de quem vive mais feliz das pessoas que não sentem felicidade dentro de si? ⠀⠀⠀Mirian Nauck Dei Ricardi – Os motivos podem ser os mais diversos, desde perdas importantes, seja de um ente querido, perdas financeiras ou de um cargo que ocupava, até a conflitos familiares, profissionais ou conjugais, entre outros. ⠀⠀⠀As pessoas que não se sentem felizes, normalmente, demonstram pessimismo diante da vida, podem apresentar desde reclamações ou desavenças constantes a uma apatia diante das situações que a vida nos traz.
⠀Pet Med – Por fim, como psicóloga, há de se ter o hábito de observar, então, neste sentido, o que a gente consegue observar, ver de diferente, tanto na fala, no olhar, na expressão facial, no jeito de viver das pessoas que convivem com os animais e são felizes por isso? ⠀⠀⠀Mirian Nauck Dei Ricardi – Podemos observar que as pessoas que estão em convívio com animais tendem a mudar o tom de voz, seja para aproximá-los ou repreendê-los; tendem a mudar a expressão facial para interagir com eles e sorriem quando brincam ou passeiam com seus animais. Também, em casos de perda, por morte ou furtos, por exemplo, a expressão será de dor, angústia, choro e tristeza.