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Por Pauline Machado

Inúmeros estudos já comprovam os benefícios do convívio com os animais para a saúde e qualidade de vida das pessoas. No entanto, e o caminho inverso? Quais serão os benefícios do convívio com as crianças, por exemplo, para os cães e os gatos?

Para conversar conosco sobre essa questão, convidamos a Médica Veterinária, Cláudia Peterson, que também é psicóloga, ambientalista e etóloga, formada pela Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.

Recentemente Claudia lançou o livro As patas que forjaram o meu caminho: os animais mudaram minha vida. Até onde podem mudar a sua?

Cláudia Peterson

A obra é um relato pessoal sobre respeito e empatia na convivência entre humanos e animais – tema a qual se dedica ao longo da sua trajetória.

Mais uma entrevista imperdível, acompanhe!

Pet Med – Para começarmos, há quanto tempo os cães e gatos passaram a ser vistos como companheiros das pessoas e não mais somente para fazer a guarda da casa ou para caçar os ratos? Mas, para os animais, este convívio com os humanos é benéfico? 

Cláudia Peterson – Há cerca de 30mil anos homens e lobos descobriram uma relação de auxílio mútuo, onde lobos menos ferozes e ariscos se aproximaram de caçadores a fim de obterem restos de suas caçadas. Estes, por sua vez, perceberam a utilidade e importância desses animais para proteção de seus grupos sociais, destravando assim a barreira entre as espécies. Essa tese está embasada em várias pesquisas e em achados arqueológicos facilmente encontrados na mídia.

Com o passar dos tempos, esses caçadores humanos nômades à época, tornaram-se agricultores e pastores, fincando raízes na terra em que viviam.

Efetuada a transição por parte dos humanos, estes começaram a selecionar animais menos agressivos e com maior capacidade de interação com os humanos para o auxílio no trabalho. Desde então, os canídeos foram, paulatinamente, sendo introduzidos e selecionados para as várias necessidades humanas.

Atualmente, temos cerca de 400 raças de cães, a maioria delas resultado de cruzamentos efetuados por humanos buscando preencher necessidades específicas de um segmento.

Quanto ao gato, sua “domesticação” seguiu-se a do lobo. Ocorreu cerca de 3 a 5 mil anos depois, quando os homens deixando de ser nômades, criaram núcleos familiares sedentários.

Ao se tornarem agricultores, começaram a acumular grãos e cereais, fato que trouxe consigo roedores. Consequência natural que felinos se aproximassem também. Assim ocorreu e os gatos passaram, gradativamente, a exercer a função de caça aos ratos para os humanos e alimentação para si próprios.

Este convívio com animais pode trazer inúmeros benefícios tanto às crianças como aos adultos e idosos, desde companhia para brincadeiras infantis, acalento para momentos difíceis, até reflexões sobre frustrações e a morte.

No entanto, deve-se pesquisar sobre as raças, verificar compatibilidades entre estilos e prováveis personalidades. Caso contrário, correrá o risco de ter um “destruidor de almofadas” enquanto assiste TV ou “puxar um tijolo” ao tentar andar de bicicleta com seu cão.

Entrando na seara da pergunta, acredito que comportamentos adquiridos permaneçam até que alguma grande revolução interna ou externa ocorra a fim de modificá-los.

De acordo com a raça, porte ou comportamento do cão tendo como contraponto a percepção quanto à espécime e antropocentrismo vigentes por parte do humano que o possua, esses animais não humanos vêm sendo utilizados como de “hábito”, alguns para guarda, outros para trabalhos variados como pastoreio e outros ainda como “chaveirinhos” ou “petinhos”, conforme explicado abaixo.

Pessoalmente, gostaria que – conforme melhor colocado em meu livro – aos animais fosse fornecido o direito natural de ser e existir como são, de poderem ser educados, contudo, demonstrar sua personalidade, conviverem com os de sua espécie e, principalmente, serem tratados e atuarem de acordo com sua essência animal. 

No entanto, bem poucos humanos possuem essa percepção e, ao invés disso, a mídia vigente por motivos variados, utiliza a emoção, os sentimentos dos seres humanos contra eles próprios, tratando de acentuar e referendar comportamentos como os de transformar seres sencientes, com vida própria em “chaveirinhos”, “petinhos” ou “monstros- feras”, frutos da desinformação humana ou pior, de informações equivocadas quanto às suas reais necessidades físicas e psicológicas.

Pet Med – E no caminho inverso: quando o convívio com os humanos passa a ser nocivo para os cães e gatos?

Cláudia Peterson – o convívio torna-se nocivo, caso a compreensão a respeito do modo como se tratar a espécie animal não humana em questão não seja devidamente conhecida e considerada.

Ao se humanizar, tratar com desrespeito, ou seja, esquecer necessidades básicas da espécie, ou crueldade a qualquer um deles.

Quanto aos gatos, uma visão mais tranquila e positiva, após a caça às bruxas.

Como diz o ditado, esses são os mais domésticos entre os selvagens e os mais selvagens entre os domésticos. Sendo assim, mantém suas características fundamentais quanto à sobrevivência e personalidade apesar das diferenças  e modismos temporais.

Por isso, levando em consideração o Dia Mundial dos Animais e o Dia das Crianças, em ambas as datas há de se pensar muito antes de presentear uma criança com um animal. Não se deve pensar apenas na diversão do hoje para a criança, mas que estará levando para casa um ser vivente, senciente, passível de ser acometido por doenças de ordem física e emocionais, além de problemas psicológicos graves acarretados pela convivência com os humanos. Sim. Isso ocorre!

Pet Med – Qual é o papel da família para que essa relação – cães e gatos e crianças seja amigável e saudável para todas as espécies envolvidas?

Cláudia Peterson – Depende. Se desejarem vários cães e gatos é fundamental que tenham orientações e informações prévias sobre raças e personalidades compatíveis, caso contrário será um grande perigo.

No mais, informação! Informar-se o melhor possível sobre o cão, a raça, a espécie, o ser vivo que está pensando em levar para sua casa, para conviver na família por, no mínimo 8 a 10 anos. A inclusão de um animal na família não deve ser uma decisão ao acaso como quem troca de roupa ou escolhe onde passará as férias – inclusive por que terá outro “ser” na casa. Pense, por exemplo, que um papagaio vive cerca de 80 anos!

Pet Med – E quanto aos cuidados no dia a dia, quais devem ser colocados em prática no dia a dia para que cães, gatos e as crianças da casa vivam em harmonia?

Cláudia Peterson – Para o dia a dia cuidados básicos podem ser indicados pelo Médico Veterinário que, evidentemente, deverá ser procurado assim que o animal for para casa. Mas, cães precisam de exercícios, disciplina, enriquecimento ambiental, alimentação controlada e amor – eu não disse mimo.

Os gatos precisam fundamentalmente de exercícios, alimentação livre, água de preferência em movimento, enriquecimento ambiental, locais altos para poder “supervisionar” os ambientes e amor.

Para ambas as espécies, recomendo que possuam coleira permanente de identificação, escovação três vezes por semana e o menor número de banhos possível!

Pet Med – Crianças e animais geralmente têm bastante energia. Quais seriam as recomendações ou sugestões para que juntos possam gastar energia e criar elos e vínculos de amizade?

Cláudia Peterson – Crianças e animais, caso possuam personalidades compatíveis não necessitam de ajuda para interagirem. Certamente se  entenderão e criarão elos indestrutíveis! Mas, para um melhor entrosamento, vínculo entre ambos e amadurecimento emocional da criança, é recomendável dar à criança a responsabilidade de cuidar da alimentação, escovação, passeio ou qualquer outra atividade diária ligada ao animal.

Pet Med – Que frutos colhem as crianças que convivem e crescem com os animais e os animais que passam a vida em companhia das crianças?

Cláudia Peterson – De maneira geral todos saem ganhando um amigo!

Crianças que crescem acompanhadas por animais, “no mínimo”, terão no futuro, mais compaixão pelo próximo e, consequentemente, pelos animais.

“No máximo”, não há limites para o quanto se pode aprender com os animais não humanos “teleguiados”, sem livre arbítrio, e, portanto perfeitos em sua natureza.

Por sua vez, os animais nos enxergam como verdadeiros deuses, não medindo esforços para nos agradar e salvaguardar dos perigos – sejam eles quais forem, e o que pedem em troca? Nada! Nada além do necessário para sua e a nossa evolução: exercício, disciplina, alimentação adequada e AMOR!

Pet Med – Quais são suas orientações finais sobre a relação dos animais com as pessoas de modo geral?

Cláudia Peterson – Animais não humanos habitavam este planeta antes da nossa chegada. Foi dito que o nosso dever, por sermos mais inteligentes, seria o de cuidarmos deles. 

Cuidar! E, cuidar não é o mesmo que escravizar ou matar. Cuidar implica em amar, alimentar, proteger e auxiliar em sua sobrevivência e evolução.

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