Por Pauline Machado
Abril é o mês da Campanha Abril Verde, que tem como objetivo chamar atenção para as ações voltadas à prevenção de acidentes e de doenças no ambiente de trabalho.
Mas, de que modo o Movimento Abril Verde é importante no dia a dia dos Médicos Veterinários?
Para responder essa e outras dúvidas, recebemos com muito carinho a Médica Veterinária, Claudia Binder Servaes, portadora do CRMV/SC: 3781, vice-presidente da Associação Brasileira de Gestão Técnica em Medicina Veterinária – ABGTvet, e sócia da Biomonitor: mapeamento e monitoramento de processos em estabelecimentos veterinários.
Acompanhe!
Pet Med – De que modo o Movimento Abril Verde é importante para a rotina dos Médicos Veterinários?
Claudia Binder – Falar e prevenir acidentes é cuidar de pessoas. O Movimento Abril Verde é uma excelente oportunidade para sensibilizar nossa classe sobre formas de garantir um ambiente de trabalho seguro e saudável.
Todos já vivenciamos na nossa rotina incidentes ou quase acidentes, muitas vezes sem danos, outras com danos materiais, ou com dano leves do(s) envolvidos, danos mais graves e afastamentos ou mesmo fatalidades. Estes últimos raríssimas vezes são eventos surpresa. Em geral, anteriormente, houve uma série de “avisos ou alertas sem danos ou com danos menores”, que foram ignorados ou normalizados.
O Anuário estatístico de acidentes do trabalho (AEAT) do período de 2019 a 2021 no Brasil informou que foram notificados cerca de 150 acidentes/ano para o CNAE 7500, relacionado às atividades veterinárias. Estimando que dos 150.000 veterinários registrados no Conselho Federal de Medicina Veterinária, pelo menos 50% são atuantes na área clínica/cirúrgica/diagnóstica, logo, estamos falando de aproximadamente 150 acidentes notificados numa comunidade de aproximadamente 75.000 veterinários.
De acordo com esta estimativa, por volta de 0,2% dos profissionais médicos veterinários sofrem acidentes a cada ano durante as atividades ou no trajeto (entre 15 a 20% são acidentes de trajeto), o que nos leva a refletir sobre se este percentual é representativo da realidade que vivemos.
Comparando estes dados com dados internacionais, percebemos que a realidade é diversa. Um estudo feito na Alemanha evidenciou pelo menos 36 acidentes com médicos veterinários a cada 1000 trabalhadores (3,6%), anualmente. Estudos no Canadá e na Austrália, baseados em relatos/entrevistas de acidentes evidenciam que entre 15 a 30% dos médicos veterinários estiveram envolvidos em incidentes ou acidentes durante o trabalho ao longo dos últimos 12 meses. Se compararmos o percentual relatado aos dados notificados no Brasil, obtemos um valor 100 vezes inferior, o que nos leva a pensar: existe subnotificação no Brasil? Qual seria o motivo e as consequências disso?
Pet Med – Quais são os maiores riscos que os Veterinários estão expostos em sua rotina?
Claudia Binder – Os riscos ocupacionais variam dependendo do tipo de trabalho e dos atendimentos realizados.
Em serviços veterinários, os riscos estão relacionados predominantemente à:
● lesões causadas por animais durante a contenção física
● lesões perfurocortantes durante o manejo
● lesões musculoesqueléticas
● lesões causadas pela prática de necrópsia
● infecções causadas por agentes de zoonoses
● lesões causadas por produtos químicos
● lesões causadas pela utilização inadequada de equipamentos
● lesões causadas por ruídos excessivos
Riscos adicionais, menos frequentes, são por exemplo, radiação ionizante (RX), ou mesmo situações de stress de causas diversas.
Pet Med – Pensando na segurança no trabalho, quais são os maiores cuidados que os Médicos Veterinários devem ter no dia a dia?
Claudia Binder – Os maiores cuidados que médicos veterinários devem ter estão relacionados aos cuidados de vacinação, pré-exposição, higiene pessoal, vestuário adequado, higiene de mãos e uso de EPIs.
A higiene das superfícies complementa estas ações. O manejo dos animais deve se basear na experiência e em boas práticas de contenção.
Ao utilizar perfurocortantes, estes devem ser descartados adequadamente e nunca reencapar agulhas ou colocar as tampas na boca. Além disso, as caixas de perfurocortantes não devem ser esvaziadas para serem reutilizadas.
Medicamentos quimioterápicos devem ser manipulados em capela, de acordo com a regulamentação aplicável.
Em caso de acidentes com ferimentos deve-se sempre lavar a lesão imediatamente. Se for causado por animal, sempre avaliar o histórico vacinal de raiva do animal, e acompanhar sua saúde nos próximos 10 dias.
Pet Med – Neste cenário, por favor, nos explique o que é Responsabilidade Técnica (RT) e sua importância na Medicina Veterinária.
Claudia Binder – A Responsabilidade Técnica na medicina veterinária é exercida pelo Responsável Técnico (RT), profissional Médico-Veterinário habilitado, que responde técnica, ética e legalmente (administrativa, civil e penalmente) pelos seus atos profissionais e pelas atividades desenvolvidas. É quem garante, perante o tomador de serviços, a qualidade dos produtos e serviços prestados ao consumidor.
Pet Med – Podemos entender, então, que a Responsabilidade Técnica na Medicina Veterinária vai ao encontro do Movimento Abril Verde? Por quais motivos?
Claudia Binder – Sim, a Responsabilidade Técnica na Medicina Veterinária está definitivamente alinhada com os objetivos do Movimento Abril Verde por várias razões:
● Garantia da segurança e bem-estar dos profissionais
● Promoção de boas práticas de funcionamento para Biossegurança
● Ênfase na formação e treinamento
● Identificação e prevenção de riscos ocupacionais
Em resumo, a Responsabilidade Técnica na Medicina Veterinária pode contribuir significativamente para promover a segurança e saúde ocupacional dos profissionais veterinários, o que está em sintonia com os objetivos do Movimento Abril Verde de conscientização e prevenção de acidentes de trabalho.
Pet Med – Como as normas de RT devem ser aplicadas na prática na rotina dos Médicos Veterinários?
Claudia Binder – As normas de Responsabilidade Técnica (RT) devem ser aplicadas na prática diária dos Médicos Veterinários para garantir a segurança, eficácia e conformidade da prestação dos serviços veterinários. Aqui estão algumas maneiras de aplicar as normas de RT na rotina dos Médicos Veterinários:
● Supervisão das atividades
● Garantia de padrões éticos e técnicos
● Treinamento e supervisão da equipe
● Implementação de medidas de segurança e Manutenção de registros adequados
Em resumo, as normas de Responsabilidade Técnica devem ser aplicadas na prática diária dos Médicos Veterinários para garantir a qualidade, segurança e conformidade dos serviços veterinários prestados em suas instalações. Isso é essencial para garantir o bem-estar dos animais e a segurança dos profissionais envolvidos na prestação de cuidados veterinários.
Pet Med – Como e por quem é feita a fiscalização sobre a aplicação correta das normas estabelecidas?
Claudia Binder – A fiscalização sobre a aplicação correta das normas estabelecidas ocorre primariamente através do Responsável Técnico (RT). É ele quem detém a responsabilidade final pela garantia de que os processos sejam seguidos adequadamente e que as instalações estejam em conformidade com as normas estabelecidas. O monitoramento pode ser realizado tanto pelo próprio RT quanto por órgãos reguladores e autoridades competentes, que têm o papel de assegurar que as normas sejam cumpridas e que medidas corretivas sejam tomadas quando necessário. Essa abordagem é fundamental para garantir a aplicação correta das normas e a segurança dos profissionais e do ambiente de trabalho.
Pet Med – Pensando nos objetivos do Movimento Abril Verde, o que podemos esperar de benefícios e tendências para a Medicina Veterinária?
Claudia Binder – O Movimento Abril Verde visa conscientizar sobre saúde e segurança no trabalho, o que também pode beneficiar a Medicina Veterinária, destacando riscos ocupacionais, melhorando condições de trabalho, enfatizando saúde mental, desenvolvendo políticas de saúde ocupacional e impulsionando inovação e tecnologia para reduzir riscos.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Claudia Binder – Desde 2021, todas as empresas estão obrigadas a elaborar o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que substituiu o antigo Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) conforme as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho. Com essa mudança, a responsabilidade do empresário se tornou mais proativa, exigindo que a empresa se envolva na realização do inventário de riscos e na aplicação de medidas de controle efetivas. Não há mais espaço para aceitar passivamente programas que não se adequam à realidade do local. Atualizações do PGR são necessárias, especialmente após acidentes.
Essa mudança de paradigma transforma o PGR de documento estático arquivado em uma gaveta para um instrumento dinâmico e vital para a segurança e saúde ocupacional dos trabalhadores. A atualização constante do PGR permite uma resposta rápida e eficaz às novas situações de risco, promovendo um ambiente de trabalho mais seguro e buscando o envolvimento ativo da equipe.
Com a participação no RT neste processo, o documento passa a ser a base para todo o trabalho do RT em relação à segurança ocupacional dos colaboradores no estabelecimento.
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