⠀⠀⠀Por Pauline Machado
⠀O feriado de finados, datado em todo dia 2 de novembro, reúne muitas pessoas em cemitérios para homenagear os amigos e familiares falecidos. Mas, a perda de um animal de estimação também vem cada dia mais sendo considerada como importante e, por isso, deve ser compreendida, vivida e tratada.
⠀Neste processo, dois profissionais são fundamentais – o psicólogo e o médico veterinário, e foi assim que se deu a nossa conversa sobre como reduzir ou pelo menos lidar com o luto de um animal de estimação.
⠀Na Medicina Veterinária, apresentamos a Dra. Bruna Bianchini Real, portadora do CRMV-SP:37135, médica veterinária especializada em Cuidados Paliativos e sócia fundadora do Instituto Rumos e Instituto Kairós – Cuidados Paliativos em Medicina Veterinária.
⠀Enquanto na psicologia, tivemos o prazer em receber a Fabiana Marchioni Afonso Nascimento, psicóloga com formação em Traumas e Apego, que traz mais de 20 anos de atuação na área clínica e é especialista em luto pet. Foi ela, inclusive, que criou, no Brasil, o serviço de Plantão Psicológico para Luto por Pets.
⠀Juntas, ambas profissionais nos explicaram de forma simples, direta e cuidadosa como passar por essa fase difícil do relacionamento com os animais.
⠀⠀⠀Boa leitura a todos!
⠀Pet Med – De forma geral, o que podemos entender por luto?
⠀⠀⠀Luto é um processo natural de reação à uma perda ou à morte, de algo ou de alguém que seja muito importante e significativo para nós.
⠀Pet Med – Podemos – ou devemos, dizer que o luto por um animal é diferente do luto por um amigo ou familiar humano?
⠀⠀⠀Sim, todo luto é único e individual pois depende do vínculo e do que representa aquele ser para aquela pessoa, em sua biografia.
⠀⠀⠀O que diferencia o luto por pets de outros lutos por perdas humanas é o fato dele não ser reconhecido socialmente. Porém toda perda é única também, ainda que dentro das relações humanas e familiares.
⠀⠀⠀Uma vivência de luto minha com um avô que é distante fisicamente e emocionalmente não será igual nem terá a mesma representação de uma perda de um avô que eu vejo todos os dias, com quem convivo todo almoço de domingo, que me conta histórias. Já com os pets o que costuma acontecer de diferente é que temos uma relação de proximidade física, de contato e de interação ainda maior que qualquer outra relação humana, já que eles dependem de nós e de nossos cuidados. E essa interação física, de proximidade, de toque, de estar junto, é única e específica dessa relação com eles.
⠀⠀⠀Também é essa especificidade que faz com que os animais de estimação e sua relação de proximidade sejam tão importantes nos cuidados que utilizam as Intervenções Assistidas por Animais: esse vínculo de apego, de cuidado e de confiança de fato cura a alma da gente.
⠀Pet Med – Pensando nos tutores e familiares do animal, de que modo podem começar a compreender e a lidar melhor com a certeza de que um dia todos, inclusive os pets, vão morrer, ou seja, como eles podem compreender quando é chegado o momento do início do processo de fim de vida?
⠀⠀⠀Cuidar da vida não impede a morte. Talvez esse seja um grande aprendizado para todos nós de que essa vida é finita e por melhor que a gente cuide e ame, um dia a despedida vai acontecer e não temos controle de como será esse momento. Mas podemos talvez, uma gota por dia, entrar em contato e pensar sobre o que é importante quando esse momento chegar em termos de cuidados: quando meu pet adoecer e se for dessa forma a sua partida e sua morte, quais são os cuidados que eu quero e que eu não quero oferecer?
⠀⠀⠀Recursos como o Patas na Mesa, da Tanatovet, desenvolvido para ajudar tutores e Médicos Veterinários nos cuidados de fim de vida são de grande importância como forma de comunicação e prevenção de complicações no processo de morte, de morrer e do luto dos que ficam depois para lidar com essa perda.
⠀Pet Med – E quando nessa família que perdeu o animal de estimação, existe a presença de crianças? Como devem lidar com a situação, pensando em não causar traumas e outros pontos negativos advindos da perda?
⠀⠀⠀Com a criança é sempre importante respeitar os limites conforme sua idade e seus recursos, que sempre são únicos para cada um. Essa criança já viveu alguma experiência de perda anterior ou é sua primeira experiência? Ela quer falar sobre o que aconteceu?
⠀⠀⠀Uma forma de cuidar com o luto infantil é perceber quais informações que a criança suporta receber em cada momento a partir das necessidades dela e de sua capacidade de elaborar também. Oferecer informações em linguagem simples, concreta pode ajudar muito, dizendo palavras como “morte/morreu”, falando sobre o que acontece com nosso corpo, que não sentimos dor depois da morte e respeitando também as crenças de cada família sobre o que acontece depois da morte.
⠀⠀⠀Há recursos que ajudam muito as crianças, como o curta metragem “O dia que o passarinho não cantou”, que é uma forma de trazer a conversa de uma forma cuidadosa e acessível para a linguagem delas. Ter um adulto disponível para responder às perguntas das crianças, conforme elas vão trazendo suas necessidades de informações, ajuda imensamente neste processo.
⠀Pet Med – E no caso entre os pets. Quando um cão ou um gato perde um amigo/irmão também pet, eles sentem a falta do amigo como nós? Por favor, explique a sua resposta.
⠀⠀⠀Os animais também entram em luto assim como todos nós, dentro das reações esperadas de cada espécie e de cada vínculo entre eles. Alguns ficam mais silenciosos, outros assumem comportamentos do pet que morreu, por exemplo. A dinâmica da família se modifica e muitas vezes o comportamento deles também. E ao cuidar oferecendo previsibilidade com a rotina, todos vão se reorganizando e lidando melhor com esse processo.
⠀Pet Med – Se eles sentem falta do companheiro pet, como reduzir este vazio no dia a dia do pet que perdeu o amigo?
⠀⠀⠀A previsibilidade da rotina ajuda muito tanto os pets que ficaram como as crianças e a família. Cuidados especiais com alimentação, sono, tempo para se distrair da dor, ajuda muito também.
⠀Pet Med – E quando o pet perde o tutor? Como eles sentem e o que fazer nesses casos?
⠀⠀⠀Ter uma figura de apoio e de cuidados que possam ajustar a rotina conforme as necessidades que eles vão demonstrando pode ser um caminho de cuidar. Poder manter pertences acessíveis se possível e manter a presença também pode ajudar.
⠀⠀⠀O melhor cuidado possível diante de uma perda muito importante é ter alguém que caminhe junto neste processo, sustentando essa jornada. Sem regras prontas, mas com disponibilidade em oferecer o que for sendo demandado por quem está em luto, seja um humano ou animal.
⠀Pet Med – Em casos de luto, o melhor a fazer é adotar outro amiguinho para amenizar a dor, por exemplo?
⠀⠀⠀Em luto não há regras. Mas talvez um caminho seja poder cuidar dessa ferida, deixar ela cicatrizar. E nesse processo de cicatrização cada um avalia o que ajuda mais, sem pressa e sem regras. Para algumas pessoas, adotar outro pet pode parecer traição. Para outros pode criar rejeição e culpa, por sentir uma “invasão” de um espaço que é sagrado. Cuidar de um relacionamento que fica dentro de nós é importante antes de abrir a casa para uma nova relação, para um novo amor. E esse tempo e esse jeito é muito individual para cada um. Às vezes, por angústia nossa, a gente oferece uma “reposição”. Se cabe e quando, só quem vive essa dor pode dizer e perceber.
⠀Pet Med – Pensando em todas as situações acima, qual é a importância e o papel do Médico Veterinário para com este tutor, para com as famílias?
⠀⠀⠀É de extrema importância que as pessoas médicas veterinárias saibam conceitos básicos de comunicação em saúde, cuidados paliativos e luto para auxiliar essas famílias no processo de adoecimento e fim de vida dos animais.
⠀⠀⠀No nosso processo de formação aprendemos como manter a vida ou como findá-la artificialmente, por meio da eutanásia, o que gera uma lacuna importante no nosso processo de cuidado.
⠀⠀⠀As nossas ações durante o processo de adoecimento e fim de vida deixarão marcas no processo de luto. A história do cuidado marca a história do luto.
⠀Pet Med – Agora, pensando no Médico Veterinário: como esta classe médica lida com esse tema no dia a dia?
⠀⠀⠀Infelizmente, com o sofrimento silenciado. Somos treinados, desde muito cedo no nosso processo de formação, a silenciar as nossas dores e não olhar para o que sentimos. Sentir é visto como sinal de fraqueza.
⠀⠀⠀Hoje, com o avanço dos cuidados paliativos e do olhar ainda incipiente, porém presente para a saúde mental dentro da medicina veterinária, começamos a entender os nossos limites e que a conta não fecha se não estivermos dentro da tríade de cuidado: paciente – família – equipe.
⠀Pet Med – Pensando na qualidade da saúde emocional dos Médicos Veterinários, a quem devem recorrer nos momentos difíceis pelo acúmulo de casos em que não é possível evitar a morte de um paciente?
⠀⠀⠀A grande maioria dos nossos pacientes passarão por processos de fim de vida junto a nós. Não é pouco frequente que acompanhemos o envelhecimento e fim de vida deles, pelo tempo de vida menor que o nosso.
⠀⠀⠀Um passo importante é conhecer sobre cuidados paliativos, entender sobre a fase de doença, saber pedir ajuda para profissionais especializados neste tema para que a sensação de impotência não tome conta e paralise este profissional.
Além disso, ter uma rede de apoio compreensiva é bastante importante.
⠀Pet Med – Para finalizar, como familiares, pets e médicos veterinários podem lidar melhor com o luto pela perda de um animal de estimação?
⠀⠀⠀A gente vem falando muito sobre luto, desde a pandemia. E esse é um grande avanço social e cultural. Porém seguimos com a mesma dificuldade para falar sobre a morte e o morrer.
Luto parece cada vez mais algo externo a nós, de tanto falarmos sobre ele conjugando na terceira pessoa. As pessoas estão cada vez mais querendo se preparar para o luto, com medo do luto. No entanto, luto é um processo interno depois da morte ou durante uma jornada de perdas pelo caminho.
⠀⠀⠀Para lidarmos melhor com o luto é preciso reaprendermos a falar sobre a morte, de tudo o que vem antes da perda. Precisamos falar sobre a morte enquanto um processo de vida, apesar de haver mortes terríveis e violentas, inclusive com os pets.
⠀⠀⠀Quando a morte voltar a fazer parte da vida, encontraremos mais caminhos para cuidar dessa vida deles e da nossa. Saberemos tomar melhores decisões com mais autonomia sobre cuidados de fim de vida, e quem sabe isso nos permita um pouco mais de sustentação no nosso luto depois.
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