Por Pauline Machado
Fevereiro não é apenas o mês do carnaval. O segundo mês do ano traz com ele várias ações visando a conscientização da prevenção contra a Leucemia nos humanos e nos animais, neste caso, com ênfase nos gatos.
Para conversar sobre o tema e nos esclarecer detalhes de como esta doença pode acometer os felinos, conversamos com exclusividade com a Médica Veterinária, Mayara Tammi Bansho, portadora do CRMV:9205/PR e especializada em Medicina Felina.
Acompanhe!
⠀Pet Med – Qual é o significado e a importância da Campanha Fevereiro Laranja?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – A Campanha Fevereiro Laranja visa a conscientização sobre a leucemia, um tipo de câncer que acomete a medula óssea levando a proliferação de células anormais de maneira desordenada. O principal objetivo é instruir a população a reconhecer os sintomas, pois o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura. Além disso, a campanha também tem um importante papel ao incentivar as pessoas a se tornarem doadoras de medula óssea, pois o transplante de medula pode fazer parte do tratamento em humanos. Na medicina veterinária, a leucemia é comumente associada aos gatos portadores da FeLV, mas apesar de cães não serem acometidos pela FeLV, eles também podem desenvolver leucemia, embora seja rara.
⠀Pet Med – Neste cenário, de que forma os animais também são passíveis de terem leucemia?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – Como dito anteriormente, a maioria dos casos de leucemia em gatos está associada às infecções por FeLV. Cães não são acometidos pela FeLV, mas também podem desenvolver leucemia, no entanto, sua etiologia ainda permanece incerta. A leucemia pode ser classificada em mielóide ou linfóide, aguda ou crônica.
⠀Pet Med – No caso dos gatos, a leucemia seria a FeLV? Por quê?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – A FeLV certamente é a maior causadora de leucemia em gatos. No entanto, nem todo gato que desenvolve leucemia tem FeLV, assim como nem todo gato portador do vírus da FeLV desenvolverá leucemia, embora seja a manifestação que dá nome a esta doença viral.
⠀Pet Med – O que é a FeLV? A doença tem cura?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – A FeLV ,também conhecida como leucemia viral felina, é uma enfermidade causada por um retrovírus, capaz de se replicar em tecidos como a medula óssea, tecido linfóide, o epitélio respiratório e as glândulas salivares, que causa sinais clínicos como imunossupressão, anemia e neoplasias, principalmente linfomas e leucemia, muitas vezes levando o gato a óbito.
⠀Os tipos de infecção incluem:
⠀⠀⠀-Abortiva: o gato tem contato com cargas virais baixas e não desenvolve viremia, desenvolvendo uma boa resposta imune contra o agente. Neste caso todos os testes serão negativos.
⠀⠀⠀-Regressiva: os anticorpos controlam a viremia após algumas semanas e o vírus passa a não ser detectado no sangue periférico, embora o DNA proviral esteja presente nas células.
⠀⠀⠀-Progressiva: há uma falha na resposta imune inicial. O vírus se replica nos tecidos linfóides e após a viremia, multiplica-se na medula óssea e tecidos glandulares, sendo eliminados em grande quantidade na saliva. Gatos com a infecção progressiva geralmente adoecem entre 1 a 3 anos após a exposição.
⠀⠀⠀-Focal ou Atípica: o vírus se replica apenas em algum tecido ou órgão. Gatos com infecção focal terão resultados negativos nos vários tipos de teste, mas com presença de DNA proviral em alguns órgãos como olhos, glândula mamária e baço.
⠀⠀⠀Infelizmente ainda não existe cura para a FeLV.
⠀Pet Med – De que modo é FeLV é transmitida?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – A transmissão ocorre entre gatos através do contato com secreções (saliva, urina fezes, leite materno, sangue) de um animal FeLV positivo. A forma mais comum é quando um gato lambe o outro. Também pode ocorrer durante a gestação por via transplacentária e durante a amamentação pelo leite materno. O compartilhamento de potes de água, comida e caixa de areia também pode servir como fonte de contaminação. A FeLV é mais frequente em gatos que têm acesso à rua e vivem em ambientes superpopulosos e os gatos jovens são mais suscetíveis.
⠀Pet Med – Quais são os sintomas de um gato com FeLV?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – O gato FeLV positivo pode apresentar diversos sinais clínicos isolados ou associados como apatia, perda de peso, redução do apetite, febre recorrente, uveíte, anemia, imunossupressão, dermatopatias, infecções respiratórias de difícil resolução e/ou recorrentes, infecções urinárias, alterações neurológicas e neoplasias. A manifestação clínica varia em cada paciente e pode mudar de acordo com o subtipo viral atuante.
⠀Pet Med – Para um gato já contaminado, quais são os possíveis tratamentos?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – Infelizmente, ainda não existe um tratamento específico e efetivo. O tratamento é sintomático e de suporte, de acordo com cada caso. Pode ser necessário uso de antibióticos, antiparasitários, antifúngicos, imunomoduladores e antirretrovirais. Em casos de anemia grave recomenda-se a transfusão de sangue.
⠀Pet Med – E como medidas de prevenção, quais devem ser adotadas?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – A melhor forma de prevenir é separar os gatos positivos de negativos, vacinar com a vacina quíntupla os negativos, castrar e evitar que seu gato tenha acesso à rua/quintal, onde possa ter contato com outros gatos. Além disso, recomenda-se sempre oferecer alimentação de boa qualidade, água fervida ou filtrada e boas condições de higiene.
⠀Pet Med – Em que consiste o teste para FeLV e quais as diferenças entre o teste rápido e o PCR?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – O teste rápido (ELISA ou imunocromatografia) é realizado através da detecção da proteína viral p27. É um exame realizado com algumas gotas de sangue e seu resultado sai em 10 minutos. O PCR é uma técnica molecular mais específica e sensível, podendo detectar RNA ou DNA próviral, mas que leva alguns dias para sair o resultado. Apesar disso, o PCR pode detectar uma infecção viral de maneira mais precoce, já que ele pode positivar em torno de 15 dias após a infecção. Já o teste rápido precisa de pelo menos um intervalo de 60 dias da possível infecção ou contato com um gato positivo para detectar a proteína viral.
⠀Pet Med – Em que casos cada tipo de teste deve ser adotado pelo tutor?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – O teste rápido é o exame de triagem de todos os gatos no momento em que são adquiridos pela primeira vez, antes da vacinação inicial contra FeLV, após exposição potencial a gatos infectados, ou se o gato apresentar sinais clínicos de doença.
⠀⠀⠀Quando um gato tem um teste rápido positivo, recomenda-se realizar o PCR para confirmar. Também é indicado realizar o PCR em caso de gatos com resultado negativo no teste rápido mas que ainda há suspeita que possa ser um positivo regressor. Outra indicação do uso do PCR é para monitorar a doença, avaliando a carga viral, com PCR quantitativo, que quantifica o número de cópias virais presentes.
⠀Pet Med – E, quanto ao protocolo vacinal, existe para prevenção da FeLV?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – Existe sim. Recomenda-se testar os gatos para FeLV e os gatos negativos devem receber a vacina quíntupla (V5). Na primovacinação será necessário pelo menos uma dose de reforço em 21 a 28 dias para garantir a imunização. O protocolo vacinal deve ser individualizado, de acordo com a faixa etária e condição de cada paciente.
⠀Pet Med – Quais cuidados os tutores devem ter em casa para manter a qualidade de vida de um animal gatinho com FeLV?
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – Os principais cuidados são: manter uma boa alimentação, oferecer apenas água fervida ou filtrada, não permitir que seu gato tenha acesso à rua, pois, além de ficar exposto a outras infecções, o gato positivo também pode transmitir a doença para outros gatos que tenha contato. É importante manter as vacinas em dia, desde que o paciente esteja assintomático e apto a ser vacinado, assim como o vermífugo e antipulgas. Indica-se realizar acompanhamento veterinário periódico, realizar exames de exames de sangue, ultrassonografia abdominal e radiografia de tórax e sempre que seu gato apresentar qualquer alteração, levá-lo o quanto antes para consulta.
⠀Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
⠀⠀⠀Mayara Tammi Bansho – É importante ressaltar o papel do médico veterinário na conscientização da necessidade de testar todos os gatos para FeLV, vacinar os gatos negativos e separar dos gatos positivos. Somente assim iremos reduzir a incidência desta doença na população felina.
⠀⠀⠀Embora o diagnóstico da FeLV seja muito triste para o seu tutor, com os devidos cuidados, muitos gatos podem ter uma vida normal por muitos anos. Por isso, um teste positivo não deve ser uma sentença.
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