Por Pauline Machado
Lidar com algumas doenças ou transtornos como o Autismo, por exemplo, nem sempre é fácil, mas, a boa notícia é que já existem algumas terapias que ajudam amenizar as dores físicas, mentais e emocionais, não apenas dos pacientes, mas, também dos seus familiares e, até mesmo dos profissionais de saúde.
Entre elas, estão a Terapia Assistida por Animais (TAA) e a Atividade Assistida por Animais (AAA), considerada uma atividade recreativa com resultados terapêuticos, sem gerar uma análise, histórico ou perfil dos pacientes.
Para entendermos como a convivência com os animais pode trazer benefícios no tratamento e para o dia a dia de quem tem autismo, conversamos com a Psicóloga clínica e de Reabilitação Neurológica, Vivian Rodrigues Silva, portadora do CRP 08/29628, e, na sequência, com o Rafael Fernando Wisneski, adestrador especialista em Manejo Comportamental de Cães e Gatos; Mestrando em Ciência Animal; especializado em cães de ajuda social e animais para Intervenções Assistidas (IAAs).
Acompanhe!
Vivian Rodrigues Silva – Psicóloga clínica e de Reabilitação Neurológica.
Pet Med – O que podemos entender por Autismo?
Vivian Silva – O autismo é um transtorno em espectro que afeta o desenvolvimento típico esperado para pessoas de ambos os sexos, mas que afeta principalmente meninos/homens, nas áreas de interação social, comunicação e interesses restritos e estereotipados.
Pet Med – Quais são as principais características do autismo?
Vivian Silva – As pessoas dentro do espectro têm atraso principalmente na área da linguagem/comunicação e interação com o meio, seja com pessoas, objetos ou ambiente. No dia a dia os autistas precisam de mais suporte para realizar atividades cotidianas, se comparado aos pares de idade em desenvolvimento típico.
Pet Med – Quais são as melhores formas de tratar o autismo?
Vivian Silva – Intervenção com larga carga horária dentro da Análise do Comportamento Aplicada.
Pet Med – Existe alguma forma de prevenção? Se sim, quais? Se não, por quê?
Vivian Silva – Não. Primeiramente porque ainda não se sabe sobre a principal causa do autismo, mas sabe-se que existe maior probabilidade de um pai ou mãe autistas terem uma criança autista, devido à carga genética. Sendo uma criança autista ou não, o ideal é sempre estimular e fornecer um ambiente rico para melhor desenvolvimento das habilidades esperadas para idade e quanto antes forem estimuladas, melhor será o prognóstico.
Sendo uma criança autista ou não, o ideal é sempre estimular e fornecer um ambiente rico para melhor desenvolvimento das habilidades esperadas para idade e quanto antes forem estimuladas, melhor será o prognóstico.
Vivian Silva
Pet Med – De que forma as famílias podem proporcionar melhor qualidade de vida para os familiares autistas?
Vivian Silva – Participando ativamente da intervenção profissional e seguindo orientações fornecidas pelos profissionais.
Pet Med – E quanto ao convívio com os animais? É possível que a convivência com os animais possa trazer benefícios no tratamento e para o dia a dia de quem tem autismo?
Vivian Silva – Pessoalmente, acredito que possa colaborar por ser mais uma estratégia para regular as condições emocionais do paciente e familiares, uma vez que a pessoa com TEA pode colaborar com o cuidado da rotina do animal, mas principalmente pela troca afetiva.
.Rafael Fernando Wisneski – especializado em cães de ajuda social e animais para Intervenções Assistidas (IAAs).
Pet Med – Neste cenário, como os animais podem auxiliar no tratamento das pessoas autistas?
Rafael Wisneski – Animais podem ajudar pessoas do espectro autista de várias formas. O contato com animais motiva interações sociais e melhoram a condição emocional e cognitiva de qualquer pessoa. Eles também ajudam a diminuir os níveis de cortisol no organismo (estresse) e o contato físico com os animais também diminui a frequência cardíaca, e tudo isso colabora com a saúde física, mental e emocional dos autistas.
O contato com animais motiva interações sociais e melhoram a condição emocional e cognitiva de qualquer pessoa.
Rafael Wisneski
Pet Med – Como a convivência com os animais pode trazer benefícios e maior qualidade de vida para o dia a dia de quem tem autismo?
Rafael Wisneski – O espectro do autismo é amplo, e envolve uma série de questões neurológicas, sociais e emocionais. De forma geral, os animais eliciam emoções positivas, que ajudam no equilíbrio e a sensação de bem estar ao nosso organismo. Em alguns casos, o autista pode ter problemas para dormir e precisa de um “tato profundo” – dormir encostado em alguém, e os animais – em geral cães – cumprem bem esse papel. Os animais também são considerados catalisadores sociais, ou seja, ajudam em contextos fora de casa e nas relações sociais.
Pet Med – Quais são os diferenciais dos cães neste sentido? De que modo eles conseguem dar este apoio emocional?
Rafael Wisneski – Cães são os animais que melhor se adaptaram à convivência com os seres humanos e já são considerados bons companheiros. Historicamente cães sempre prestaram algum tipo de serviço aos seres humanos, então pra eles é um “trabalho moderno” servir de apoio emocional. O apoio emocional dado pelos cães vem justamente do vínculo de confiança criado entre humano e cão, onde é constituída uma relação de parceria e benefícios mútuos. E acredito que a prestatividade destes animais somado a capacidade de interpretação da comunicação humana, fazem destes animais bons prestadores deste serviço.
O apoio emocional dado pelos cães vem justamente do vínculo de confiança criado entre humano e cão, onde é constituída uma relação de parceria e benefícios mútuos.
Rafael Wisneski
Pet Med – Neste sentido existem raças mais indicadas para ajudar neste tipo de tratamento?
Rafael Wisneski – Em geral as raças mais utilizadas para os trabalhos com autistas são Golden Retriever e Labradores, mas, isso não significa que outras raças não sejam boas para este trabalho, inclusive também é possível utilizar SRDs – cães sem raça definida.
Algumas raças, que são consideradas “potencialmente perigosas”, não são indicadas para esse trabalho. Isso não é porque todos os cães destas raças não sejam capazes de realizar o trabalho com as pessoas autistas, mas sim porque é mais um estigma a ser quebrado socialmente – isso traz mais questões e mais debates sobre o tema.
Já os vira-latas podem sim ser adequados para esse trabalho. No caso dos SRDs é sempre indicado aplicar testes de avaliação comportamental, principalmente naqueles que passaram por maus tratos.
Pet Med – Quais são os tipos de atividades feitas durante o tratamento com cães para as pessoas autistas?
Rafael Wisneski – Isso depende dos objetivos. Dentro da odontopediatria, em uma necessidade de execução de uma profilaxia, o cão pode ser utilizado como um modelo ou simplesmente acompanha o procedimento. Já em sets terapêuticos, o cão pode pegar e trazer objetos, ser um agente de motivação ou até mesmo funcionar como recompensa. Aqui o que vale é a criatividade de quem atua utilizando os cães neste trabalho.
Pet Med – Por fim, se achar necessário, use o espaço abaixo para complementar a sua participação acrescentando outras informações que entenda como importantes e não tenham sido abordadas durante a entrevista.
Rafael Wisneski – Hoje é observado um número crescente de pessoas autistas, seja pela melhoria diagnóstica seja em razão dos diagnósticos tardios. Fato é que os animais podem sim colaborar dentro dessa condição de saúde mental, ajudando desde o conforto emocional até no amparo técnico. Na outra ponta se tem um resgate da função dos animais na sociedade moderna, onde os cães remontam às suas raízes de trabalho e parceria com o ser humano, e os outros animais ganham um destaque social.
Fato é que os animais podem sim colaborar dentro dessa condição de saúde mental, ajudando desde o conforto emocional até no amparo técnico.
Rafael Wisneski
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